Leonardo Lucena / Minas 247 – A Polícia Federal realizou na
segunda-feira (25) uma das maiores apreensões de cocaína de
sua história, ao flagrar nada menos que 450 quilos de cocaína
na carga de um helicóptero pilotado pelo assessor parlamentar
Rogério Almeida Antunes. O que já seria uma notícia de desta-
que ganhou mais ênfase pelo fato de o aparelho pertencer à Li-
meira Agropecuária, empresa do deputado estadual Gustavo
Perrella (Solidariedade-MG). Outro componente bombástico es-
tá na informação de que Gustavo é filho e protegido político do
senador Zezé Perrella (PDT-MG), ex-presidente e sempre man-
da-chuva no Cruzeiro Esporte Clube, que acaba de se sagrar
campeão brasileiro de futebol.
Todo manual de jornalismo explica que um caso como esse de-
ve, necessariamente, ganhar um grande destaque em qualquer
veículo de comunicação que se preze. Nele estão reunidos to-
dos os elementos de uma história de repercussão. Tanto mais
pelo histórico de suspeitas e denúncias que cercam a vida dos
Perrella, especialmente do senador Zezé. No entanto, o chama-
do principal veículo de comunicação do País, o Jornal Nacional,
da Rede Globo, não divulgou, em sua edição da mesma segun-
da-feira, poucas horas, portanto, depois da divulgação da apre-
ensão, nenhum segundo a respeito do fato. Uma notícia quen-
tíssima virou, ali, uma não notícia.
O jornal O Globo, também da família Marinho, fugiu da história.
E o jornal Folha de S. Paulo, da família Frias, que já usou muita
tinta para histórias de menor repercussão, noticiou o caso com
cuidado e discrição, protegendo nomes e históricos. Perderam
os espectadores e leitores, mas, principalmente, perderam es-
ses veículos, cujos critérios de seleção de notícias ferem cada
vez mais os interesses do público.
O espanto pelo boicote ao fato é maior ainda quando se verifica
o currículo dos Perrela. O deputado Gustavo, que a princípio pro-
curou se afastar de seu piloto, na verdade o havia nomeado as-
sessor na Assembleia Legislativa de Minas. Um cargo de confian-
ça. Prometeu, para hoje (27), a exoneração de dele, mas, até o
início da tarde, nada ocorrera oficialmente.
Quanto ao pai de Gustavo, o conhecido Zezé Perrella, as polêmi-
cas vão ainda mais longe. Em 2011, quando ele era suplente do
então senador Itamar Franco, o Ministério Público de Minas Ge-
rais deu início a investigações para desvendar como o parlamen-
tar comprou uma fazenda avaliada em cerca de R$ 60 milhões
no município de Morada Nova de Minas (vídeo abaixo), a 260
quilômetros de Belo Horizonte. A suspeita é de enriquecimento
ilícito.
Em torno de sua gestão na presidência do Cruzeiro, Zezé ain-
da deve importantes explicações. A venda do zagueiro Luisão,
em 2003, levou a PF a indiciar o parlamentar pelos crimes de
lavagem de dinheiro e evasão de divisas, em 2010. O zagueiro
teria sido negociado por US$ 2,5 milhões (cerca de R$ 4,8 mi-
lhões) com o empresário Juan Figger. Segundo a PF, um time
uruguaio, o Central Espanhol Futebol Clube, teria sido usado
pelo empresário como uma espécie de "laranja" para a venda
do jogador, que teria ido para o Benfica, de Portugal, por
US$ 1 milhão a menos do que o informado no Brasil. O objeti-
vo desta negociação seria a não declaração de dinheiro ao Fis-
co. O clube uruguaio teria negociado 50% dos direitos do joga-
dor ao Benfica. Por sua vez, Zezé Perrella negou as acusações
e disse que vendeu 100% dos direitos de Luisão ao empresário
pelo valor de R$ 4,8 milhões.
Em 2011, quando Zezé Perrella já era senador, a Promotoria de
Defesa do Patrimônio Público de Minas Gerais abriu investigação
sobre o uso de verba indenizatória da Assembleia de Minas para
abastecer os seus jatinhos particulares. O parlamentar teria
apresentado, em um ano e meio, 29 notas fiscais que somavam
R$ 26,3 mil para justificar o abastecimento dos aviões. As notas
teriam sido ressarcidas pelo Legislativo mineiro.
Apesar das denúncias, Perrella informou que não se sentia cons-
trangido ao abastecer seus aviões com dinheiro público, uma
vez que, segundo ele, as viagens tinham como finalidade o cum-
primento da sua agenda parlamentar.
Ok, pode ser que os Perrella tenham todas as justificativas do
mundo para a polêmica trajetória de enriquecimento da família.
Mas isso também não é notícia?
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