Democratizar comunicação para democratizar o Brasil
Reproduzo o teor da palestra que proferi ontem no Encontro dos Blogueiros Progressistas do Rio de Janeiro.
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Boa noite, senhoras e senhores.
Na semana que se encerra, estudo do IBGE revelou que o Rio de Janeiro é um dos dois Estados que ultrapassou São Paulo em termos de riqueza relativa. Como paulista, reconheço que tal fato condiz perfeitamente com o espetáculo de organização e de competência que desaguou nesta edição carioca dos encontros estaduais de blogueiros progressistas. Aceitem, portanto, meus cumprimentos, senhoras e senhores organizadores deste evento.
Democratizar a comunicação para democratizar o Brasil. O tema da palestra encerra possibilidades inesgotáveis. Supõe, primeiro, e com grande propriedade, que nem um, nem outro (comunicação e país) são democráticos. E não são. Se este país AINDA não é totalmente democrático, a comunicação arca com grande parte da culpa.
A comunicação concentrada e antidemocrática que este país ainda tem em pleno século XXI é, ao mesmo tempo, causa e efeito da falta de democracia que nos aflige, ao povo brasileiro.
Definitivamente, ainda não somos um país efetivamente democrático. Não é democrático um país em que um jornalista que assassinou uma garota cheia de sonhos pelas costas, como fez um ex-diretor de Redação de uma das pragas midiáticas que infestam este país, jamais tenha sido punido; não é democrático um país em que os que têm maior instrução formal, se cometerem crime, desfrutam de “prisão especial”, quando, na verdade, supostamente deveriam ter pena maior por terem maior condição de discernir entre o que é certo e errado; não é democrático um país em que o décimo mais rico da população concentra pelo menos metade da riqueza.
E, se alguém perguntar como chegamos a isso, a resposta, fatalmente, será a de que a comunicação viabilizou a tragédia. Ainda durante esta semana ficamos sabendo que, entre 1964 e 1985, no período em que vigeu a ditadura militar, a concentração de renda brasileira, que nada honrosamente figura entre as dez piores do mundo, experimentou um crescimento brutal.
E o que é pior: demorou ainda uma década, após o fim da ditadura, para que essa chaga começasse a diminuir. Foi só partir de 1998, ao fim do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, que o Brasil começou a trilhar de volta o caminho de desigualdade. Ou seja: perdemos cerca de 35 anos para começarmos a nos recuperar de uma tragédia que só se materializou graças à ajuda inestimável justamente da comunicação, da imprensa.
Se fosse “só” isso, não seria tão trágico. O problema é que, além de ajudar a tornar o Brasil um país mais injusto, a comunicação de meados do século passado ainda viu acontecer um imenso roubo de recursos públicos que foram graciosamente doados a legítimos gangsters, que, com o dinheiro dos impostos dos espoliados, erigiram os impérios de comunicação que configuram concentração ainda maior do que a da renda.
Recentemente, pudemos ter a dimensão de quanto dinheiro público os ditadores enterraram nas empresas de comunicação de algumas poucas famílias. Umas das multinacionais que vieram explorar a privataria que se abateu sobre o Brasil na última década do século XX, a Portugal Telecom, vendeu a sua parte no portal de Internet UOL. O preço de um quarto daquela “maravilha” foi de nada mais, nada menos do que 350 milhões de reais.
Um simples portal de internet, portanto, vale coisa de 1,5 bilhão de reais. E é uma parte ínfima da gigantesca e monstruosa hydra em que se constitui a imprensa golpista que ajudou a tornar o país ainda menos democrático do que era quando os militares deram o golpe, nos idos de 1964.
Sim, para democratizar realmente o país haverá que democratizar a comunicação. A comunicação antidemocrática levou os brasileiros a cometerem erros como o de elegerem um Collor, por exemplo. Só ampliando as fontes de informação e o espectro de opiniões é que a sociedade poderá dispor de subsídios para tomar decisões cruciais como a de em quem votar, ainda que tenhamos melhorado muito graças ao método de tentativa e erro.
Mas ainda falta muito.
Nesse aspecto, a internet, que tantos gols vem marcando, está democratizando a comunicação independentemente da urgente democratização dos meios tradicionais, com destaque para a comunicação televisiva, a cereja do bolo comunicacional, que não pode mais produzir um nível como esse de propriedade cruzada daqueles meios. Cada internauta, blogueiro, tuiteiro, ao criar um perfil na rede se torna um meio de comunicação.
Haverá maior democratização da comunicação do que cada cidadão poder ser um meio de difusão em potencial de informações, idéias e propostas? Os encontros estaduais de blogueiros que se espalham pelo Brasil, reunindo centenas de pessoas, simbolizam a nova era que se descortina e finalmente nos vêm dando o meio de democratizar a comunicação para democratizar o Brasil. Antes tarde do que nunca.
Muito obrigado pela atenção.
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