Levante Popular contra os torturadores
Por Rodrigo Vianna, no blogEscrevinhador:
Acompanhei nessa manhã a manifestação organizada por jovens do movimento ”Levante Popular” em frente à empresa de Davi dos Santos Araújo, o “Capitão Lisboa”.
Davi, na verdade, nunca foi capitão. Era delegado de polícia, trabalhou no DOI-CODI em São Paulo e é acusado de torturas, assassinatos e abusos sexuais durante a ditadura.
Um ponto a destacar: a manifestação de hoje, em São Paulo, foi coordenada e comandada por jovens. A maioria ali não tinha nascido quando a ditadura acabou.
Outro ponto: é a primeira vez que ato desse tipo acontece no Brasil. É o chamado “esculacho” (ou “escrache”, como dizem os argentinos). A inspiração, aliás, vem da Argentina, onde torturadores são escrachados, julgados e condenados.
O ato em São Paulo não foi o único. Manifestaçõe semelhantes ocorreram em Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio, Belém… Todas foram coordenadas pelo “Levante Popular da Juventude”. A entidade une jovens de bairros da periferia, de assentamentos rurais e também do movimento estudantil. É uma turma que decidiu privilegiar “ações diretas” para intervir no debate nacional. O movimento nasceu em fevereiro, no Rio Grande do Sul, e se organiza em células pelo Brasil.
Hoje, testemunhei a capacidade de organização desse povo. Os manifestantes saíram do centro de São Paulo, em grupos pequenos. Sabiam que participariam de uma ação contra um homem acusado de torturas. Mas não sabiam endereço nem nome do acusado. Isso ficou só pra quatro ou cinco líderes. Tudo em nome da segurança. Afinal, do outro lado está a “tigrada” da ditadura.
As manifestações, disseram-me alguns jovens, é resposta ao manifesto dos militares de pijama, que tentam barrar a Comissão da Verdade de Dilma.
Mais informações sobre as manifestações em todo o Brasil, você acha aqui no site do Levante.
E mais detalhes sobre as acusações contra o “Capitão Lisboa”, que hoje comanda uma lucrativa empresa de segurança em São Paulo, você encontra no texto da Tatiana Merlino – da “Caros Amigos”, que reproduzo a seguir.
A Tatiana, aliás, lembra-nos que entre os clientes da empresa de segurança Dacala, do “Capitão Lisboa”, estão: Anhanguera Educacional, Audi Tech, DHl, CSU, Exata Logística, Ford, Fuji, Galvão, Gattaz, Hospital Santa Marcelina, Banco Itaú, Banco Safra, Banco Santander, Jac Motors, Jaguar, JWT e Kia.
*****
Por Tatiana Merlino, na Caros Amigos
Com bumbos e gritando palavras de ordem como “torturador, preste atenção, o levante vai te expôr para a nação!”, “pula, pula, pula, quem é contra a repressão!”, e “não temos medo dos torturadores e assassinos!”, cerca de 150 manifestantes do movimento social Levante Popular da Juventude realizaram um ato de escracho em frente à empresa de segurança privada Dacala, localizada na avenida Vereador José Diniz, 3700, na Zona Sul de São Paulo.
O proprietário da empresa é David dos Santos Araújo, delegado aposentado da Polícia Civil, acusado de torturas, estupros e assassinatos durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Araújo atuava no centro de repressão Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi) sob o condinome “Capitão Lisboa”, e é responsável, de acordo com ação do Ministério Público Federal (MPF), pela tortura do jornalista Ivan Seixas, à época com 16 anos, e pelo e assassinato de seu pai, Joaquim Alencar de Seixas, entre outros casos.
Ivan Seixas denunciou, em depoimento ao Dossiê Ditadura, que foi pendurado em um “pau de arara”, enquanto seu pai foi colocado na “cadeira do dragão”. Pai e filho foram torturados por uma equipe de cinco pessoas, entre eles David dos Santos Araújo.
No currículo de Araújo também há a acusação de violência sexual, de acordo com Ieda Seixas, em depoimento ao Ministério Público Federal.
Com um carro de som, camisetas e faixas, os manifestantes alertaram os vizinhos da empresa. “É importante que saibam que este homem é um torturador. O dono dessa empresa é um torturador. David dos Santos Araújo é um torturador”, anunciou ao microfone Lira Alli, uma das organizadoras do ato. Nos cartazes que os manifestantes portavam, em sua maioria jovens, fotos de vítimas da ditadura, entre eles de Joaquim Alencar de Seixas. “Não vamos descansar enquanto não soubermos nossa história”, seguiu Lira, acompanhada de gritos e aplausos.
Memória, verdade e justiça
Os militantes também distribuíram um manifesto para as pessoas que passavam na avenida, carros e pontos de ônibus. No texto, a organização alerta. “Torturadores e apoiadores da ditadura militar: vocês não foram absolvidos! Não podemos aceitar que vocês vivam suas vidas como se nada tivesse acontecido enquanto, do nosso lado, o que resta são silêncio, saudades e a loucura provocada pela tortura. Nós acreditamos na justiça e não temos medo de denunciar os verdadeiros responsáveis por tanta dor e sofrimento (..) Até que todos os torturadores sejam julgados, não esquerecemos, nem descansaremos (..) Pela memória, verdade e justiça!”.
Durante a manifestação, procurado pela imprensa ali presente, David dos Santos Araújo não apareceu. Os funcionários da empresa informaram que o dono da Dacala ainda não havia chegado. “Ele chega sempre entre 10 e 11 da manhã, mas hoje não veio. Ele vem todo dia nesse horário e fica até umas seis”, informou o segurança que se apresentou como Roberto Pereira. Questionado sobre as informações denunciadas pelos manifestantes, o funcionário disse: “Estou achando estranho, nunca ninguém tinha comentado isso comigo”.
Outro funcionário, que se apresentou como Fábio, mas não quis dizer o sobrenome, filmou boa parte do ato com seu celular de dentro da grade que separa o estacionamento da entrada da empresa. “Para mim isso é novidade”, declarou, ao ser perguntado sobre o envolvimento de Araújo em crimes da ditadura. “Olha, não posso falar, sou só o funcionário e posso perder meu emprego por algo que nem sabia que existia”, completou.
Ao lado da empresa, dois funcionários de uma drogaria vizinha à empresa comentavam: “nossa, você viu, o cara é um torturador”.
Segurança privada
Entre os clientes da Dacala estão as seguintes empresas: Anhanguera Educacional, Audi Tech, DHl, CSU, Exata Logística, Ford, Fuji, Galvão, Gattaz, Hospital Santa Marcelina, Banco Itaú, Banco Safra, Banco Santander, Jac Motors, Jaguar, JWT e Kia.
De acordo com investigação da Polícia Federal, David dos Santos Araújo é portador de 11 armas em situação ilegal. Por conta de irregularidades, a empresa de segurança Osvil, de propriedade de Araújo, perdeu o alvará de funcionamento como empresa de segurança que autorizava o registro de armas. Assim, deveriam ser entregues à PF, o que não ocorreu. Após a perda do alvará, Araújo abriu nova empresa de segurança, a Dacala Segurança. Segundo o processo da PF, Araújo tem mais de duzentas armas ilegais, além de um arsenal de oitocentas regularmente registradas em nome da empresa Dacala, acusada também por utilizar armas de fogo na atividade de segurança privada.
A ação organizada pelo Levante Popular ocorre simultaneamente em várias capitais do país, defendendo a Comissão Nacional da Verdade e denunciando os torturadores da ditadura e exigindo a apuração e punição dos crimes cometidos durante a ditadura militar. As ações, conhecidas como “escrache”, são inspiradas em ações semelhantes às que ocorrem na Argentina e Chile, onde torturadores impunes são denunciados publicamente.
Acompanhei nessa manhã a manifestação organizada por jovens do movimento ”Levante Popular” em frente à empresa de Davi dos Santos Araújo, o “Capitão Lisboa”.
Davi, na verdade, nunca foi capitão. Era delegado de polícia, trabalhou no DOI-CODI em São Paulo e é acusado de torturas, assassinatos e abusos sexuais durante a ditadura.
Um ponto a destacar: a manifestação de hoje, em São Paulo, foi coordenada e comandada por jovens. A maioria ali não tinha nascido quando a ditadura acabou.
Outro ponto: é a primeira vez que ato desse tipo acontece no Brasil. É o chamado “esculacho” (ou “escrache”, como dizem os argentinos). A inspiração, aliás, vem da Argentina, onde torturadores são escrachados, julgados e condenados.
O ato em São Paulo não foi o único. Manifestaçõe semelhantes ocorreram em Porto Alegre, Belo Horizonte, Fortaleza, Rio, Belém… Todas foram coordenadas pelo “Levante Popular da Juventude”. A entidade une jovens de bairros da periferia, de assentamentos rurais e também do movimento estudantil. É uma turma que decidiu privilegiar “ações diretas” para intervir no debate nacional. O movimento nasceu em fevereiro, no Rio Grande do Sul, e se organiza em células pelo Brasil.
Hoje, testemunhei a capacidade de organização desse povo. Os manifestantes saíram do centro de São Paulo, em grupos pequenos. Sabiam que participariam de uma ação contra um homem acusado de torturas. Mas não sabiam endereço nem nome do acusado. Isso ficou só pra quatro ou cinco líderes. Tudo em nome da segurança. Afinal, do outro lado está a “tigrada” da ditadura.
As manifestações, disseram-me alguns jovens, é resposta ao manifesto dos militares de pijama, que tentam barrar a Comissão da Verdade de Dilma.
Mais informações sobre as manifestações em todo o Brasil, você acha aqui no site do Levante.
E mais detalhes sobre as acusações contra o “Capitão Lisboa”, que hoje comanda uma lucrativa empresa de segurança em São Paulo, você encontra no texto da Tatiana Merlino – da “Caros Amigos”, que reproduzo a seguir.
A Tatiana, aliás, lembra-nos que entre os clientes da empresa de segurança Dacala, do “Capitão Lisboa”, estão: Anhanguera Educacional, Audi Tech, DHl, CSU, Exata Logística, Ford, Fuji, Galvão, Gattaz, Hospital Santa Marcelina, Banco Itaú, Banco Safra, Banco Santander, Jac Motors, Jaguar, JWT e Kia.
*****
Por Tatiana Merlino, na Caros Amigos
Com bumbos e gritando palavras de ordem como “torturador, preste atenção, o levante vai te expôr para a nação!”, “pula, pula, pula, quem é contra a repressão!”, e “não temos medo dos torturadores e assassinos!”, cerca de 150 manifestantes do movimento social Levante Popular da Juventude realizaram um ato de escracho em frente à empresa de segurança privada Dacala, localizada na avenida Vereador José Diniz, 3700, na Zona Sul de São Paulo.
O proprietário da empresa é David dos Santos Araújo, delegado aposentado da Polícia Civil, acusado de torturas, estupros e assassinatos durante a ditadura civil-militar (1964-1985). Araújo atuava no centro de repressão Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna (DOI-Codi) sob o condinome “Capitão Lisboa”, e é responsável, de acordo com ação do Ministério Público Federal (MPF), pela tortura do jornalista Ivan Seixas, à época com 16 anos, e pelo e assassinato de seu pai, Joaquim Alencar de Seixas, entre outros casos.
Ivan Seixas denunciou, em depoimento ao Dossiê Ditadura, que foi pendurado em um “pau de arara”, enquanto seu pai foi colocado na “cadeira do dragão”. Pai e filho foram torturados por uma equipe de cinco pessoas, entre eles David dos Santos Araújo.
No currículo de Araújo também há a acusação de violência sexual, de acordo com Ieda Seixas, em depoimento ao Ministério Público Federal.
Com um carro de som, camisetas e faixas, os manifestantes alertaram os vizinhos da empresa. “É importante que saibam que este homem é um torturador. O dono dessa empresa é um torturador. David dos Santos Araújo é um torturador”, anunciou ao microfone Lira Alli, uma das organizadoras do ato. Nos cartazes que os manifestantes portavam, em sua maioria jovens, fotos de vítimas da ditadura, entre eles de Joaquim Alencar de Seixas. “Não vamos descansar enquanto não soubermos nossa história”, seguiu Lira, acompanhada de gritos e aplausos.
Memória, verdade e justiça
Os militantes também distribuíram um manifesto para as pessoas que passavam na avenida, carros e pontos de ônibus. No texto, a organização alerta. “Torturadores e apoiadores da ditadura militar: vocês não foram absolvidos! Não podemos aceitar que vocês vivam suas vidas como se nada tivesse acontecido enquanto, do nosso lado, o que resta são silêncio, saudades e a loucura provocada pela tortura. Nós acreditamos na justiça e não temos medo de denunciar os verdadeiros responsáveis por tanta dor e sofrimento (..) Até que todos os torturadores sejam julgados, não esquerecemos, nem descansaremos (..) Pela memória, verdade e justiça!”.
Durante a manifestação, procurado pela imprensa ali presente, David dos Santos Araújo não apareceu. Os funcionários da empresa informaram que o dono da Dacala ainda não havia chegado. “Ele chega sempre entre 10 e 11 da manhã, mas hoje não veio. Ele vem todo dia nesse horário e fica até umas seis”, informou o segurança que se apresentou como Roberto Pereira. Questionado sobre as informações denunciadas pelos manifestantes, o funcionário disse: “Estou achando estranho, nunca ninguém tinha comentado isso comigo”.
Outro funcionário, que se apresentou como Fábio, mas não quis dizer o sobrenome, filmou boa parte do ato com seu celular de dentro da grade que separa o estacionamento da entrada da empresa. “Para mim isso é novidade”, declarou, ao ser perguntado sobre o envolvimento de Araújo em crimes da ditadura. “Olha, não posso falar, sou só o funcionário e posso perder meu emprego por algo que nem sabia que existia”, completou.
Ao lado da empresa, dois funcionários de uma drogaria vizinha à empresa comentavam: “nossa, você viu, o cara é um torturador”.
Segurança privada
Entre os clientes da Dacala estão as seguintes empresas: Anhanguera Educacional, Audi Tech, DHl, CSU, Exata Logística, Ford, Fuji, Galvão, Gattaz, Hospital Santa Marcelina, Banco Itaú, Banco Safra, Banco Santander, Jac Motors, Jaguar, JWT e Kia.
De acordo com investigação da Polícia Federal, David dos Santos Araújo é portador de 11 armas em situação ilegal. Por conta de irregularidades, a empresa de segurança Osvil, de propriedade de Araújo, perdeu o alvará de funcionamento como empresa de segurança que autorizava o registro de armas. Assim, deveriam ser entregues à PF, o que não ocorreu. Após a perda do alvará, Araújo abriu nova empresa de segurança, a Dacala Segurança. Segundo o processo da PF, Araújo tem mais de duzentas armas ilegais, além de um arsenal de oitocentas regularmente registradas em nome da empresa Dacala, acusada também por utilizar armas de fogo na atividade de segurança privada.
A ação organizada pelo Levante Popular ocorre simultaneamente em várias capitais do país, defendendo a Comissão Nacional da Verdade e denunciando os torturadores da ditadura e exigindo a apuração e punição dos crimes cometidos durante a ditadura militar. As ações, conhecidas como “escrache”, são inspiradas em ações semelhantes às que ocorrem na Argentina e Chile, onde torturadores impunes são denunciados publicamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.