por Neuza Canabarro (*)
Brizola, Governador do Estado do Rio Grande do Sul, convencido que se tratava de um golpe de Estado, iniciou o mais importante movimento de resistência democrática do século XX, para garantir que Jango, vice-presidente da República, fosse empossado presidente.
Hoje, cinquenta anos se passaram e temos a lucidez de poder rememorar os fatos que assistimos as interpretações que ouvimos, muitas pró-movimento e outras contra, acusando Brizola de incendiário e de prejudicar ao cunhado Jango.
O desatino dos ministros militares do ex-presidente Jânio Quadros empurrou-os para o abismo da intolerância ao colocarem as Forças Armadas de prontidão no Brasil e o mais terrível, determinarem que Jango, ao regressar da viagem oficial a China, fosse preso no desembarque, em qualquer aeroporto do País.
A Rádio Guaíba, integrada a aproximadamente 100 emissoras de rádio, transmitia, diretamente do Palácio Piratini, dia e noite informações dos acontecimentos do Movimento da Legalidade com pronunciamentos de Brizola e do Marechal Teixeira Lott, alcançando uma mobilização extraordinária para a época.
As redes sociais, hoje tão badaladas, na realidade foram inauguradas por Leonel de Moura Brizola. Tiveram neste Movimento a grande constatação de sua eficácia na conscientização popular e engajamento para lutar na defesa do cumprimento da Constituição Federal do Brasil.
O mais fantástico é que Jânio e Jango foram eleitos por forças políticas diferentes, e por que não dizer antagônicas, enquanto Jânio representava a direita, o conservadorismo, as elites retrógadas, Jango era a esquerda com sua proposta progressista, as reformas de base, as grandes transformações.
Há meio século o eleitor tinha o direito de escolher o candidato a presidência e também de votar no vice. Atualmente é um retrocesso no processo democrático, aceitar quem não foi votado ser investido no cargo em caso de vacância.
O Movimento da Legalidade sem dúvida alguma, assume hoje uma dimensão maior pela visão, coragem e discernimento de Brizola ao empunhar a bandeira da defesa dos direitos constitucionais de Jango.
Acredito que as comemorações cumprem um importante papel na formação de gerações que não conhecem ou tem uma idéia distorcida da realidade deste episódio.
Reafirmo a convicção da necessidade de recuperação dos valores morais, éticos e principalmente da utopia e sonho de um estado livre, forte e igualitário.
(*) Conselheira do CDES-RS
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