O amigo Altamiro Borges, presidente do Centro Barão de Itararé, publicou mais um excelente post em seu blog (reproduzo abaixo) no qual analisa alguns dos muitos erros cometidos pelo PSDB nesta sua trajetória descendente. Tudo que o Miro escreve está certo, mas eu acrescentaria alguns aspectos que vejo como importantes neste processo.
O maior erro do PSDB, no meu entender, é ter-se esquecido de elaborar um Programa sincero, que assumisse sua postura neoliberal, ou conservadora. Escrito ainda nos tempos de Franco Montoro, José Richa e outros grandes fundadores, o programa do partido fala em social-democracia, ideário que o PSDB abandonou, na prática, há muitos anos, pelo menos desde a eleição de Fernando Henrique em 94!
Se o campo da esquerda e centro-esquerda foi tomado pelo PT, PSB, PC do B, PDT e outras forças, os tucanos deveriam ter, ou atualizado seu discurso rumo à esquerda, ou assumido de vez uma postura mais à direita, só que com clareza e coerência. O que não dá é para dizer-se "social-democrata" enquanto defende-se o grande capital internacional, a dependência ao FMI e outros órgãos, a proteção exagerada ao sistema financeiro, nenhuma política industrial e uma tímida, cosmética, política social.
Os números provam que nos anos FHC o país endividou-se, o desemprego aumentou, a renda cresceu inercialmente, o desenvolvimento foi travado. Tanto é verdade que os poucos (para meu gosto) avanços do governo Lula foram suficientes para que obtivesse imensa aprovação popular e respeito internacional. Nada houve de socialista na era Lula-Dilma; mas setores antes excluídos foram incorporados ao "mercado" de empregos, de renda e, logicamente, de consumo. Para tudo isso o PSDB não teve respostas, a não ser o denuncismo e as falsas crises semanais ou quinzenais, forjadas pela mídia mais tendenciosa que já tivemos em nossa História republicana.
Discurso ao eleitor
O PSDB entrou na onda de torcer e lutar para que Lula fosse um fracasso, e assim Fernando Henrique ou outro tucano (duvido que ele desse a vez a outro) voltasse ao trono como um salvador da Pátria. Juntando-se aos barões que dominam a velha mídia, e que têm ódio visceral, de classes, ao Lula e a tudo que lembre Trabalhismo, o PSDB volveu à direita sem quaisquer escrúpulos com seu passado original.
Ao invés de oferecer ao eleitorado um programa, ainda que conservador, mas sincero, fez uma mixórdia de promessas e juramentos que todos sabiam falsos. "Dobrar o Bolsa Família", "salário mínimo de R$ 600,00 em janeiro de 2011", "não vender nenhuma estatal", eram as principais mentiras demagógicas, que colidiam com tudo que haviam feito até então, inclusive nos Estados que governam.
O pior é que misturaram tais falácias com o discurso baixo, a propagação de boatos, a publicação de acusações descabidas a Lula e à candidata Dilma. Quando recebi e-mails dizendo que Dilma iria morrer de câncer e quem governaria seria Michel Temmer, cujo filho pertenceria a uma seita satânica, ou seja, "o Brasil será governado pelo Demônio", não sabia se ria ou se chorava. Rir pelo absurdo e pela aposta na ignorância do povo; chorar por ver que os maiores líderes da oposição no meu País, gente que conheci pessoalmente e admirei na transição da ditadura para a Democracia, mostrava-se tão atrasada e incapaz. Fizeram terrorismo puro, como se isso estivesse à altura do povo brasileiro no século XXI!
Briga de foice
Outro fator que muito contribui para o esfacelamento desta oposição radical de direita, sem dúvida, é sua divisão interna, o personalismo exacerbado de seus caciques. Já nem falo da vaidade de Fernando Henrique, que julga-se acima da raça humana. Nem da fragilidade de meu antigo amigo Geraldo Alckmin, que só sabe "prefeitar", ainda que esteja no Palácio dos Bandeirantes desde os tempos de Covas, e pensa que o Palácio do Planalto também é um lugar para "prefeito", longe que está de ser um estadista moderno como o Brasil exige.
Falar do aventureiro Aécio Neves, que governou Minas diretamente de Ipanema e Copacabana? Não é preciso: ele mostra sua insignificância no Senado, onde apagou-se como qualquer suplentezinho de Estado pequeno.
Mas o pior papel nesta desagregação geral é, sem dúvida, o desempenhado por Zé Serra (Cerra, como diz nosso Paulo Henrique Amorim). O cara é o maior "espalha-roda" da política nacional! Onde chega, todos se afastam!
Cego de ambição, Serra não lidera: impõe! Não convence: derrota! Não soma: espiona e ameaça! Não responde a perguntas incômodas (poucas) de jornalistas: passa as madrugadas ligando para os donos de jornais, TVs, rádios, pedindo a cabeça dos repórteres ousados!
Quem ainda está ao lado de Serra não o faz por admiração, por respeitar sua liderança: está lá por medo. Cercado de áulicos quando estava no poder, Serra acredita no que lhe dizem os puxa-sacos bem pagos (alguns ganham muito mais do que seus salários... né taubateano Paulo Preto?). Acredita nas pesquisas induzidas do Data-Otavinho Frias, cuja pai não queria morrer antes de ver seu amigo Serra na Presidência, mas não conseguiu esperar...
A cegueira política do Serra é surpreendente. lembro-me de sua campanha a deputado constituinte em 1986, depois de quatro anos como secretário do Planejamento do Montoro. Ele invadiu todas as regiões do Estado com caminhões de dinheiro e cargos, atropelando os mais sérios companheiros do PMDB. Cito dois, que são meus amigos até hoje: Audálio Dantas e Fernando Morais. Fez um estrago na esquerda parlamentar, usando os mesmos métodos de um Roberto Cardoso Alves ("é dando que se recebe", lembram-se?).
Serra é assim: um trator, sem escrúpulos, sem ideologia, fazendo o discurso de conveniência - ele pode dizer-se de esquerda numa reunião sindical, e de direita num ato do Malafaia ($$$) ou de empresários. Sem corar!
A que pode levar um processo como esse, se não ao isolamento, ao fracionamento, à dispersão? Um cara que apóia o Kassab, do DEM, contra o candidato de seu próprio partido, o Alckmin, pode esperar que tipo de recíproca? Um cara que por debaixo dos panos estimula a criação do PSD, esvaziando o seu próprio PSDB, acha que isso passará impune?
Serra cava seu próprio buraco (não direi túmulo, porque falamos de Política) com uma energia e determinação inexplicáveis. Tenho para mim que ele andou conversando muito, e acatando, o paspalho do Reinaldo Azevedo, daquela revista do esgoto. Talvez seja seu único "amigo" na mídia, fora os donos dela. Aí já é burrice mesmo. Quem se junta ao Rei da baixaria merece afundar num forte abraço de afogados...
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