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segunda-feira, 31 de março de 2014

MÍDIA ESCONDE SEU PASSADO PRÓ-DITADURA

A imprensa e o golpe de 64


Folha, Globo e outros jornais estão fazendo especiais sobre os 50 anos do Golpe.
É uma tragédia e ao mesmo tempo uma comédia.
Qualquer esforço sério para falar do Golpe tem que tratar do papel crucial da mídia. O que jornais como o Globo, a Folha, o Estadão e tantos outros fizeram, portanto.
Alguma linha sobre o assunto?
Pausa para rir, ou para chorar. Você escolhe.
1964 não teria existido sem a imprensa, este é um fato doído para nós, jornalistas.
Os jornais construíram um Brasil fantasioso – de mentira, sejamos diretos – que chancelaria a ação dos militares.
Como mostrou o jornalista Mário Magalhães em seu blog nestes dias, o presidente João Goulart tinha alta popularidade em março de 1964.
Numa pesquisa do Ibope, não divulgada à época e nem por muitos anos, ele aparecia bem à frente na lista de intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965.
Como não seria popular um presidente que tinha uma agenda pró-povo como Jango? Entre outras coisas, em seu governo foi criado o 13.o salário, que o Globo – numa hoje amplamente exposta e debochada primeira página – tratou como calamidade.
Mas o noticiário criava a sensação de que os brasileiros em massa eram contra Jango. O Globo conseguiu dizer que a democracia fora “restaurada” com o golpe que mataria tantas pessoas e faria de seu dono o homem mais rico do país.
Mesmo o grande jornal que mais tarde foi uma trincheira na oposição aos militares – o extinto Correio da Manhã – produziu duas manchetes que entrariam tristemente na história.
Uma delas dizia “Basta!” e a outra “Fora!” Como maus exemplos prosperam, a Veja copiaria o Correio da Manhã na capa em que, décadas depois, anunciou a saída de Collor. (E sonharia por oito anos repetir a cópia na gestão de Lula.)
O apoio da mídia à ditadura se manteria enquanto os militares foram fortes para beneficiar seus donos.
A campanha da Folha pelas eleições diretas só veio quando a ditadura cambaleava: politicamente, a insatisfação galopava, e a economia era um caos insustentável.
Antes, Octavio Frias se comportara de maneira bem diferente. Cedera carros da Folha para a caça a opositores da ditadura, o que o levou a temer ser justiçado como outro empresário que fez o mesmo, Henning Albert Boilesen, da Ultragás.
Frias mostrou também sua combatividade seletiva quando, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que dizia que o povo mijava na estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército, recebeu uma ordem de um general para afastar o diretor de redação Claudio Abramo.
Afastou – não um mês, uma semana, um dia depois. Afastou na hora. Covardemente, ainda mandou retirar seu próprio nome – dele, Frias — da primeira página do jornal como “diretor responsável”.
Pôs o de Boris Casoy, escolhido para substituir Claudio por causa de seus notórios vínculos com a ditadura. Boris foi integrante do Comando de Caça aos Comunistas, o CCC. Não sabia escrever, mas isso era um detalhe.
Depois, quando a ditadura desabava, Frias autorizou valentemente a campanha das Diretas Já, tão enaltecida como nascida da grandeza de Frias ainda hoje por jornalistas de renome como Clóvis Rossi.
Não era fácil se jornalista naqueles dias, especialmente se você tivesse convicções.
Meu pai – Emir Macedo Nogueira – era editorialista da Folha em meados dos anos 60, quando eclodiu uma greve de fome entre os presos políticos em São Paulo.
Frias mandou meu pai escrever um editorial que afirmaria não haver presos políticos, só prisioneiros comuns.
Papai se recusou, e foi tirado da posição. Por que Frias não o mandou embora, às vezes me pergunto. Imagino que sejam duas as explicações: a primeira, papai tinha um talento excepcional. A segunda: uma demissão significaria que Frias levara a perseguição política para o interior da Folha.
Prova de quanto era dura a vida na redação, o editorial acabou sendo escrito por Claudio Abramo, um grande jornalista de esquerda, cheio de amigos entre os presos políticos em greve de fome.
Papai na Folha na década de 70: ele se recusou a escrever um editorial que afirmaria que não havia presos políticos
Papai na Folha na década de 70: ele se recusou a escrever um editorial que afirmaria que não havia presos políticos
Você pode imaginar o sofrimento que foi para Claudio escrever o que escreveu naquele dia.
Quando penso no papel desempenhado pela imprensa no golpe, tenho vergonha de ser jornalista. Mas aí me lembro de como o DCM é diferente de tudo aquilo e sigo adiante, para combater o bom combate.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-imprensa-e-o-golpe-de-64/

quarta-feira, 26 de março de 2014

FHC ADMITE: JOÃO GOULART SERIA REELEITO EM 65, SEM O GOLPE

Para ex-presidente FHC, Jango se reelegeria em 1965


Fernando Henrique Cardoso fez a previsão de que o ex-presidente João Goulart, o Jango,  se reelegeria em 1965 (quando haveria eleição presidencial se não tivesse havido o rompimento institucional) ao participar no Sesc Consolação, em São Paulo, de seminário sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964, promovido pelo CEBRAP, centro que ele fundou em 1975
O ex-presidente da República tucano adiantou não saber se foram realizadas pesquisas de opinião na época, que confirmassem sua previsão. Foram e nós a colocamos aqui, ao final desta nota. A participação do ex-presidente no seminário serviu para ele evocar lembranças pessoais e análise política daquele período.
Brasil dividido
FHC lembrou, por exemplo, que naqueles dias de 1964, a sociedade brasileira estava dividida e incertezas marcaram os dias que antecederam o golpe a 1º de abril. Observou que no dia 13 de março, quando o presidente Jango anunciou seu programa de reformas de base no comício da Central do Brasil, ele passou pela Zona Sul carioca e viu velas acesas em quase todas as janelas. “Sinal das apreensões da classe média”, completou, temerosa quanto ao comunismo e o perigo vermelho tão disseminados então pelos golpistas e pela mídia.
No 13 de março, recordou, ele passou pelo comício – mas não participou -, impressionou-se com a “enorme” multidão reunida em apoio ao presidente Jango e no trem encontrou-se com personalidades da esquerda. A confusão era tanta no país que muitos dos seus interlocutores naquela viagem acreditavam que o golpe seria dado pelo presidente, e não pelos militares. Já em São Paulo, descobriu que vários professores de esquerda da USP (onde ele também lecionava) articulavam um manifesto contra o governo.
FHC reiterou o que disse e a Folha de S.Paulo publicou 2ª pp: nem os militares tinham certeza do sucesso do seu golpe. A posição do general Amaury Kruel (compadre de Jango), comandante do II Exército, era desconhecida e o então chefe do Estado Maior das Forças Armadas (EMFA), Castello Branco, era vista como legalista. O marechal Castelo foi o 1º presidente da ditadura, governando de abril/64 a março de 67.
Proliferavam as avaliações equivocadas
O Partido Comunista Brasiloeiro (PCB) julgava que os industriais se opunham ao capitalismo americano; seu secretário-geral, Luís Carlos Prestes, dissera semanas antes que eles já tinham o governo, faltava o poder; o sociólogo Hélio Jaguaribe, do PSDB.  julgava que o regime tinha como objetivo a desindustrialização; e o economista Celso Furtado (ministro nos governos Jango e Sarney), que o regime só duraria dois anos. De acordo com as reflexões de FHC expostas ontem, demorou-se a entender o que tinha acontecido.
Há poucos dias o blog do Luís Nassif publicou pesquisas IBOPE realizadas até no mês em que ocorreu o golpe. Nesta semana, também a Carta Capital  fala sobre elas, junto com uma entrevista do historiador Luiz Antônio Dias. Estas pesquisas foram doadas pelo Instituto à UNICAMP. O professor tem feitos estudos e publicado trabalhos sobre elas.
Números e índices publicados por Nassif
Transcrevemos, abaixo, o trecho em que o Nassif publicou números e percentuais da pesquisa. como diz ele “os números são impressionantes”:
· Em junho de 1963, Jango era aprovado por 66% da população de São Paulo, desempenho superior ao do governador Adhemar de Barros (59%) e do prefeito Prestes Maia (38%).
· Pesquisa de março de 1964 revela que, caso fosse candidato no ano seguinte, Goulart teria mais da metade das intenções de voto na maioria das capitais pesquisadas. Apenas em Fortaleza e Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek tinha percentuais maiores
· Havia amplo apoio à reforma agrária, com um índice superior a 70% em algumas capitais.
· Pesquisa na semana anterior ao golpe, realizada em São Paulo a pedido da Fecomercio, apontava que 72% da população aprovava o governo Jango.
· Entre os mais pobres a popularidade alcançava 86%.
· 55% dos paulistanos consideravam as medidas anunciadas por Goulart no Comício da Central do Brasil, em 13 de março, como de real interesse para o povo.
· Entre as classes A e B, a rejeição a Goulart era um pouco maior em 1964. Ao menos 27% avaliavam o governo como ruim ou péssimo na capital paulista.”
 http://www.zedirceu.com.br/para-ex-presidente-fhc-jango-se-reelegeria-em-1964/