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quarta-feira, 7 de outubro de 2015
É HORA DO BRASIL DEVOLVER DOCUMENTOS HISTÓRICOS DO PARAGUAI
Alguns dirão que o assunto está superado, mas eu ouso discordar, em nome da integração e amizade que deve predominar em todas as Américas. O Brasil pode e deveria devolver ao Paraguai os documentos que nossas tropas roubaram na dramática guerra de 1864-70.
Os paraguaios lamentam até hoje que alguns dos papéis históricos daquele país encontrem-se em mueseus e arquivos brasileiros. De alguns, eles têm as cópias, já concedidas pelo Estado brasileiro. Mas é um direito dos nosso irmãos paraguaios terem os originais, que incluem comunicações internas do Exército brasileiro e, principalmente, das tropas guaranis. Nada que interesse ao Brasil, mais de cem anos depois. Nós podemos perfeitamente mantermos cópias para acesso de historiadores, e devolvermos os originais a um país que tem tido excelentes relações conosco por mais de um século.
Um gesto como este, tão simples, seria altamente positivo para demonstrar nossa amizade com o bravo povo do Paraguai, e estaria plenamente afinado com a tradição generosa do Itamaraty e do Exército de Caxias. Lembremo-nos que Caxias era implacável com o inimigo, mas coibia energicamente qualquer desrespeito ao inimigo dominado. Caxias nunca admitiu a tortura, como, lamentavelmente, fizeram alguns de seus sucessores.
segunda-feira, 6 de julho de 2015
OLAVO DE CARVALHO MERECE CONTESTAÇÃO OU DESPREZO?
OLAVO MERECE CONTESTAÇÃO OU
DESPREZO?
Este é um capítulo do meu novo livro, que pode ser encontrado no site do Clube de Autores
Quando começou a usar as redes sociais para
pregar o ódio e a confusão ideológica na cabeça de jovens e pessoas desprovidas
de conhecimento histórico, Olavão era, merecidamente, ignorado pelos
intelectuais e pelos jornalistas. O que ele esbravejava era tão ridículo e tão
baixo que tornava-se desprezível.
Porém, ele acertou na sua
tática: insistir nas mentiras, na auto-louvação, nos palavrões, pois certamente
haveria um público para a baixaria desinformada. E esse público cresceu, o que
permitiu ao guru ganhar mais dinheiro, ampliar seu alcance e atrair figuras
populares como roqueiros, jornalistas e comunicadores de várias origens. Assim
como crianças gostam de assistir a uma briga na porta da escola e poucos tentam
apartar, assim também há pessoas que adoram assistir a um senhor fumando
desesperadamente, rezando e falando palavrões escabrosos na mesma frase, e
prometendo que os que o seguirem serão a “elite intelectual do Brasil, e depois
serão a elite política”. Ora, ser a elite, comandar o país e, além disso, ir
para o Céu porque eliminou os satânicos comunistas é bom demais; quem pode
resistir?
Os métodos de Olavo começaram
a chamar a atenção depois da presença maciça de olavetes na organização dos
protestos de rua de março e abril de 2015, onde multidões pediam o impeachment
de Dilma Rousseff e alguns pediam um golpe militar – eram muitos os cartazes em
inglês, para que a mídia internacional imaginasse estarmos num tipo de
“Primavera Árabe” ou 15M, de Madri, ou Ocuppy Wall Street. Olavo revindica para
si o pioneirismo nessas manifestações, já que ele pedia ação há vários anos.
Quando uma dúzia de olavetes distribuiu dezenas de cartazetes com a frase
“Olavo tem razão”, eles foram expostos às câmeras, exibidos na internet e
fizeram Olavo ficar modestamente comovido: “Um escritor ser aclamado nas ruas,
isso nunca aconteceu na História Universal”…
Nos primórdios do movimento
olavista, quando ele fazia um programa de rádio na internet chamado True
Outspeak, semanalmente, o consenso era de que ele era inofensivo, tal a
abundância de bobagens que dizia. O economista e blogueiro Marcelo Brito
(blogdomarcelobrito.blogspot.br) discutiu várias vezes a conveniência ou não de
dedicarmos atenção a esse tipo de propagador do ódio, correndo o risco de
ajudá-los a obter a popularidade que desejam. Ele se refere especialmente a
Olavo, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino:
“É verdade que todos esses colunistas
adoram aparecer, que falar deles ajuda a colocá-los em evidência. Mas o fato é
que desde 2003, esse tipo de colunista vem ganhando muita evidência na mídia,
seja escrita, seja televisiva, seja radiofônica, seja online. Alguns já são
suficientemente conhecidos para não precisarem mais do "nosso"
trabalho de divulgação. E existe o risco deles fazerem a cabeça de pessoas.
Isto não seria nem um pouco bom. Pois haverá danos à saúde pública se as pessoas
passarem a pensar que não há problema em não levar crianças para tomar vacina
ou que campanhas governamentais de uso de preservativo são ruins. Haverá danos
à tolerância às minorias se for padrão as pessoas pensarem que homossexualidade
é uma doença ou que o cidadão mais oprimido é o homem, branco, heterossexual e
cristão. Haverá danos à segurança pública se linchadores passassem a ser vistos
como algo "até compreensível". Haverá danos aos conhecimentos do país
sobre sua história se a mentira de que só "terroristas" foram
assassinados durante a ditadura militar for vista como verdade. Haverá danos ao
conhecimento dos brasileiros sobre ciência se as pessoas disserem que
"o aquecimento global não existe" com base apenas no "eu acho
que".
Marcelo Brito, em outros textos,
dedica-se a analisar o fenômeno do olavismo e do discurso de ódio, e faz
observações muito perninentes dobre o comportamento da seita:
“Os alunos de Olavo de Carvalho
pensam que seu Mestre é o maior pensador do Brasil. Provavelmente pensam que
não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas
pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte
pergunta: ‘se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas
são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo o
seu vastíssimo conhecimento em universidades dos Estados Unidos, país onde
reside? “
(…)
“O rol de atrocidades (de Olavo n. do
A.) não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente
ao prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele
escreveu no jornal O Globo:
‘Em poucas semanas a estréia petista
no poder terá superado em muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez
mais de dois mil presos políticos’
Não sei se algum segui… aluno, chegou
um dia a perguntar: ‘Mestre, onde estão localizados os prisioneiros politicos
do governo Lula? ‘ Muito provavelmente,
nem uma previsão tão furada quando esta abalou a confiança dos aprendizes no
mestre.”
Sobre as falsificações de Olavo a
respeito da ditadura civil-militar de 64, Marcelo fez belo resumo:
“Mas não é o futuro a única vítima do
autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a
ditadura militar brasileira matou “trezentos terroristas”. Portanto, qualquer
um que adquire conhecimentos da História do Brasil apenas pela leitura das colunas
de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos.
Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes
da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luis, o Rubens Paiva, o
Vladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela
carta-bomba à OAB e muitos índios assassinados na construção de obras
faraônicas na região Amazônica. Segundo, porque nem todos os atos praticados
pela luta armada se enquadram na definição de terrorismo”.
A propósito da repressão na ditadura,
Olavo repete uma mentira que só mesmo
seus alunos, inebriados pela lábia do “mestre” não percebem: Olavo diz que não
houve tortura no Brasil, mas admite que houve alguns casos, isolados e muito
suaves. Como prova, diz que uma sua “contra-parente” metida na luta armada, foi
presa por um ano e consta de listas de presos torturados publicadas pelos
grupos de Direitos Humanos. “Ora, ela saiu da cadeia muito melhor do que entrou
e eu sei disso porque eu a levei e eu fui buscá-la depois de um ano”. Ele vai
um passo além na sua farsa, e aí cai na contradição irremediável: “mais tarde
ela foi trocada numa desses trocas de prisioneiros e acabou morrendo de velha
na Suécia”. Ué, mas se ele mesmo foi buscá-la na cadeia, toda saudável, sem
marcas de maus-tratos, como é que ela foi incluída numa “troca de presos
politicos” (talvez por algum diplomata sequestrado, como foram tantos. Afinal ela
estava gordinha e saudável ao lado do Olavo, ou estava presa?
Mais adiante, Marcelo Brito menciona
outra postura absurda de Olavo, recomendando a seus alunos que não deixem
vacinar seus filhos(!):
“Por fim, Olavo de Carvalho se
mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em julho de 2006:
‘Alguns de meus oito filhos tomaram
vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor
extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a
Deus e a ninguém mais”
Não foi Deus que tornou saudáveis os
filhos que não tomaram vacinas. Foi o fato de outros pais não serem igualmente
psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a
propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não
tomaram vacinas”.
Outro blogueiro que se deteve em
analisar as olavices é Bertone de Oliveira Souza, que mostra-se chocado com a
obediência canina dos “alunos” de Olavo e sua virulência. Em 15 de dezembro de
2012, Bertone escreveu:
“Há alguns meses publiquei neste blog
dois textos sobre um jornalista que se auto-intitula filósofo chamado Olavo de
Carvalho. Para minha surpresa, nos últimos dias tenho recebido uma enxurrada de
comentários raivosos, de pessoas que vêm aqui xingando e descarregando todo
tipo de insanidades contra essas duas postagens. (…)
“Mas os colunistas são uma verdadeira
piada; há um tal de Júlio Severo, um protestante homofóbico; Graça Salgueiro,
uma senhora que vive desejando golpes militares de direita na América Latina
(uma característica desses colunistas: golpes militares podem, desde que sejam
de direita e mesmo que sejam contra governos de esquerda eleitos
democraticamente); Nivaldo Cordeiro, que praticamente repete as mesmas asneiras
ditas e escritas por Olavo de Carvalho, entre vários outros.
“Entre um desses admiradores de Olavo
está um tal de Leonardo Bruno, que edita um blog chamado Conde Loppeux de La
Villanueva e também escreve para o “Mídia sem Máscara” (sítio criado por Olavo,
matriz de vários outros, n. do A.) mas em quem eu nunca tinha prestado atenção
até ele vir aqui me anunciar uma postagem que ele fez respondendo à minha ‘Olavo
de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira’. Leonardo é um blogueiro de
orientação fascista que xinga a todos os que não estão alinhados a suas idéias.
Em um desses comentários, me falou que não interessa que eu tenha publicados
artigos e livros porque a universidade brasileira é tão insignificante quanto
eu. (…)
“Acontece que não é possível nem
dialogar com ele porque tudo o que ele fala se resume a xingamentos,
desqualificação do interlocutor, escárnios, uma verdadeira baixaria sem fim,
bem ao estilo de Olavo de Carvalho, de quem seus seguidores imitam os
trejeitos. Leonardo Bruno é um apedeuta que sai vomitando esculachos e
intimidações contra os outros na internet. E outros como ele acham isso o
máximo, afinal, demonstração de intelectualidade para eles é distribuir
palavrões gratuitos. (…)
“Vendo isso eu compreendo porque
essas pessoas desprezam a universidade: porque são impostores, não estão
comprometidos em produzir conhecimento, mas em espalhar desinformação. Espalhar
desinformação é algo em que o senhor Olavo de Carvalho é especialista e tem
feito há décadas. Algo também risível é que quando você não concorda com eles,
partem para a agressividade como forma de intimidação, te desprezam como pessoa
e usam de todo artifício prá te diminuir enquanto professional, dizendo que
você não estuda, não sabe nada e por aí vai. Olavo de Carvalho e seus
seguidores são verdadeiros parasitas virtuais, fascistas, limítrofes e pedantes.
São o que há de pior e mais baixo na direita brasileira”.
domingo, 24 de agosto de 2014
A MÍDIA QUE MATOU VARGAS É A MESMA DE HOJE
JANIO CONTA COMO GETÚLIO
FOI MORTO PELA MÍDIA

Ao relembrar o suicídio de Getúlio Vargas, que completa 60 anos
neste domingo, o jornalista Janio de Freitas destaca o papel dos
meios de comunicação na tragédia; "monolíticos, a imprensa, a
incipiente TV e o rádio, mais do que se aliarem à irracionalidade,
foram seus porta-vozes sem considerar as previsíveis consequências
para o Estado de Direito".
24 DE AGOSTO DE 2014 ÀS 08:57
247 - Repórter que cobriu a morte de Getúlio Vargas há exatos 60 anos, o jornalista Janio de Freitas relembra, neste domingo, o papel dos meios de comunicação na tragédia que culminou com o suicídio do político que fundou as bases do trabalhismo no Brasil.
"Getúlio ficou indefeso, objeto de um ódio coletivo que se propagava sem limites: monolíticos, a imprensa, a incipiente TV e o rádio, mais do que se aliarem à irracionalidade, foram seus porta-vozes sem considerar as previsíveis consequências para o Estado de Direito", rememora (leiaaqui).
Acusado de envolvimento, ainda que indireto, no polêmico
atentado da rua Toneleros contra Carlos Lacerda, no Rio de
Janeiro, Getúlio foi cassado sem trégua pelos meios de
comunicação.
No entanto, após o suicídio de Getúlio, os veículos de imprensa,
artífices do golpe foram também golpeados pela população
ensandecida.
A "Tribuna da Imprensa" de Lacerda foi empastelada. A redação
de 'O Globo' foi atacada, carros do jornal foram destruídos, o
'Jornal do Commercio' teve sua oficina invadida, vários dos 17
jornais foram alvos da massa", diz Janio de Freitas.
A atuação da imprensa como força política no Brasil vem de longe.
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quinta-feira, 24 de julho de 2014
O RESTAURADOR DA PIETÁ DE MICHELANGELO, UM BRASILEIRO ESQUECIDO
Estive na conferência do prof. Redig de Campos mencionada na matéria de Daniel Piza, em 1973. À época, eu e três amigos, todos muito jovens, estávamos organizando em Taubaté o Museu Didático Estudantil, uma forma de protesto porque os museus de Taubaté haviam sido desmantelados e seus acervos haviam desaparecido.
Os amigos de aventura eram Gilberto Martins, Jackson de Souza de Almeida Castro e Luiz Antonio de Souza (este último prematuramente falecido).
Eu era repórter iniciante na Rádio Difusora Taubaté e ia atrás de depoimentos que fortalecessem nossa luta por um museu. Entrevistei a diretora da Fundação Calouste Gulbekian, de Portugal, ofiquei amigo do prof. Vinicius Stein de Campos, então diretor dos Museus do Interior do Governo do Estado, do padre Hélio Viotti, que então reerguia o Pátio de Colégio, em São Paulo, etc.
E o depoimento do prof. Redig de Campos, sua gentileza, me marcaram para sempre. Guardo até um seu autógrafo. Além disso, a palestra sobre a complexa restauração da Pietá, de Michelangelo, que anos depois eu vi na Basílica de São Pedro, já cercada de vidros à prova de bala, foi brilhante e emocionante.
Eis o texto que encontrei sobre este brasileiro pouco reconhecido, de autoria do também recentemente falecido crítico Daniel Piza, no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 16 de junho de 2009:
Memórias de um brasileiro no Vaticano
Ele morava na famosa Praça da Espanha, em Roma, vizinho ao amigo e pintor Giorgio De Chirico. Trabalhava à mesa que tinha sido do escultor Antonio Canova, no Museu do Vaticano. Desenhava e pintava nas horas de folga, depois de abandonar o sonho juvenil de ser artista. Escrevia livros e artigos sobre o Renascimento. Coordenava empreitadas como as restaurações de duas das maiores obras de arte da história, a Pietà de Michelangelo e A Escola de Atenas de Rafael. E era brasileiro. Seu nome: Deoclecio Redig de Campos (1905-1989).
O curador brasileiro que ocupou o cargo mais alto já ocupado por um compatriota da mesma carreira não foi lembrado em seu centenário de nascimento, há quatro anos. Tampouco foi lembrado agora, 20 anos depois de sua morte, no dia 6 de abril. Mas o trabalho que fez pela arte italiana, assim como o livro Considerações sobre a Gênese da Renascença na Pintura Italiana (único lançado no Brasil, pelo MEC em 1958), é parte irremovível da história. E ele, Deoclecio, está muito vivo na memória de seus familiares, como a filha, Daniela, que mora em Roma, e os sobrinhos, Joaquim e Maria Clara, no Rio de Janeiro, que conversaram por telefone com o Estado.
Com a figura semelhante à do líder egípcio Nasser, com nariz adunco, bigode e pele morena, Deoclecio era um homem elegante, sempre de terno e com um cachimbo à mão ou à boca. Nascido em Belém (PA), morou no Brasil apenas até os 5 anos. Seu pai, também Deoclecio, era diplomata e foi enviado para Alemanha, Suíça e Itália sucessivamente. Foi em Roma que o filho se formou em Filosofia e História da Arte, sob orientação do respeitado Adolfo Venturi, e, apaixonado pela obra de Michelangelo, decidiu ficar para sempre.
Um curso de restauração, em 1933, colocou Deoclecio dentro do Vaticano, onde faria carreira até se aposentar em 1978. Ali foi conservador-chefe e depois diretor. “Professore De Campo”, assim o chamavam os funcionários; Deoclecio não gostava, porque jamais deu aula. No mesmo ano em que entrou para o laboratório do museu, ele se casou com a abonada italiana Virginia Kambo, com quem teria Daniela e Manuel. “Meu pai era um homem gentilíssimo”, diz a filha. “Ele sempre nos apoiava e estimulava, como se fosse um amigo.”
A Pietá, de Michelangelo Buonarrotti, restaurada pelo brasileiro Deoclécio Redig de Campos.
Joaquim e Maria Clara o descrevem como um homem ao mesmo tempo muito culto e muito simples, um poliglota e esteta afável e conversador, que não tinha traço professoral algum. Era também um tio atencioso, que perguntava sempre sobre a vida e os trabalhos dos parentes. Vinha pouco ao Brasil, mas era sempre visitado pelos sobrinhos na Itália. “Ele não falava mal de ninguém”, diz Maria Clara, arquiteta, filha de outro arquiteto, Olavo Redig de Campos (1906-1984), com obra importante no modernismo brasileiro.
“A gente andava com ele por Roma e ele nos mostrava obras nas praças com a maior simplicidade. Também estive com ele em Florença, Veneza e Assis. Foi maravilhoso”, relembra Maria Clara. Joaquim, designer, diz que testemunhou “vivamente” tais qualidades do “tio Deoclecinho” durante uma visita em 1969, aos 23 anos, ouvindo as explicações “claras, visíveis, didáticas e reveladoras” durante algumas horas, “entrando e saindo de salas e salões, passando por infindáveis portas, algumas fechadas, às vezes até subindo em andaimes para ver os trabalhos de restauração”.
Rigoroso, Deoclecio chegava a refazer dezenas de vezes a mesma peça de restauro, até atingir o que desejava. Único dos quatro irmãos a não voltar ao Brasil, foi também adido cultural no Vaticano por mais de 30 anos. Sua vida teve outros momentos marcantes como os dois anos durante a 2ª Guerra Mundial em que precisou se refugiar em aposentos do museu, pois o Brasil tinha passado para o lado dos aliados contra a Itália de Mussolini.
Outro momento foi o de 1972, quando um húngaro martelou o nariz da Pietà, a qual seria restaurada pela equipe de Deoclecio. À imprensa, declarou que era como ver “um parente gravemente ferido, e um parente muito amado”. À família, contou que teve uma conversa com o agressor, Laszlo Toth, mas que ele só dizia em inglês “Eu sou Jesus Cristo”. Por causa da restauração, Deoclecio ganhou uma eminência que não tinha tido até então, inclusive no Brasil, aonde veio dar conferência sobre o trabalho em 1973, no Masp.
Recebeu inúmeras homenagens da Itália, onde viveu 71 dos seus 84 anos, e algumas do Brasil, onde chegou a ser consultado para uma reforma dos profetas de Aleijadinho. Nos últimos anos de vida, sofreu do Mal de Parkinson. Numa carta para o Itamaraty em 1975, dissera estar feliz em ser considerado “um estudioso brasileiro” e acrescentou em latim, “ubique Patriae memor” – em qualquer lugar, a memória da pátria. Que ainda lhe deve uma memória.
http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/memorias-de-um-brasileiro-no-vaticano/
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sexta-feira, 18 de julho de 2014
DE VOLTA AO BATENTE...
Meu hotel em Florença, um antigo Pallazzo bem no centro da cidade. Não poderíamos ter escolhido melhor, pois estávamos a dois quarteirões do Palazzo Vecchio e a uns quatro da Catedral (Duomo).
Agora de volta à Holanda, posso recomeçar este convívio para mim tão enriquecedor. Nos próximos dias tentarei descrever um pouco do que vi na Toscana, em cidades maravilhosas como Lucca, Siena, Poggibonsi, San Donato, Pistóia, Pienza, e Florença, entre muitas outras. A Toscana nos mergulha num curso intensivo de História da Arte e também da História Política da Europa. Aprendi muito, e voltei cansado mais muito feliz. Se minhas postagens e fotos despertarem a curiosidade dos que ainda não conhecem esta região da Itália, ou matarem a saudade de quem já a conhece, ficarei gratificado.
Pietá inconclusa de Michelângelo, na Galleria dell'Accademia, Florença.
E vamos em frente, porque agora, depois do sucesso da Copa das Copas, temos outro campeonato ainda mais importante a vencer: é Dilma e Padilha, com maioria no Congresso e na Assembléia Legislativa. Este o nosso desafio. Vamos à luta!
sábado, 14 de junho de 2014
quarta-feira, 4 de junho de 2014
BRILHANTE CONTESTAÇÃO AO "HISTORIADOR" DO PSDB, QUE ERRA TODAS...
VILLA, UM BANDEIRANTE VIRTUAL

CARLOS ODAS
Nesta terça-feira, 3, o Brasil 247 reproduziu conteúdo
do último artigo de Marco Antônio Villa, historiador
tucano; sendo este um dos espaços mais democráticos que
temos, decidi dialogar com o referido artigo, em contribuição
ao site. Não pretendo contestar parágrafo por parágrafo as
desonestidades intelectuais do professor porque, sinceramente,
me falta tempo para isso no momento. Talvez seja, também,
desnecessário. Não é possível que Villa não tenha já exata
noção de quem é e do que representa. Não me parece ter mais
pretensões de ser levado a sério no ambiente acadêmico; jamais
vi argumento de sua lavra servir, mesmo à direita, para comprovar
o que quer que fosse, pois o que tece não é fruto de raciocínio
lógico e observação mas de suas escolhas pessoais. Ou seja,
os conteúdos que produz são absolutamente idiossincráticos,
resultado de seu ódio pela esquerda, em geral, e pelo PT em
particular. Quando um acadêmico substitui métodos de análise
pela sua própria opinião e preferências, só pode produzir fraudes.
É o que faz Marco Antônio Villa. Tenho pena de seus alunos.
No artigo a que me refiro, ele vaticina: o governo Dilma acabou.
Então podemos começar lembrando que o professor afirmou o
mesmo sobre o governo de Lula em 2005, no auge da crise do
mal chamado "mensalão"; do mesmo modo, previu o "fim
melancólico" – sim, além da fraude intelectual, Villa abusa
dos clichês – para o governo do PT em 2010 e, durante as
eleições municipais de 2012, cometeu alguns artigos
"explicando" porque Lula vivia seu crepúsculo como liderança
influente, dadas as chances eleitorais de seu candidato em
São Paulo àquela altura. Villa é assim: faz previsões, elas
não se confirmam, ele faz de conta que não as fez e as publica
novamente. Um dia, evidentemente, o PT perderá as eleições
presidenciais e, se Villa estiver vivo e em pleno gozo de suas
faculdades mentais, poderá dizer: acertei! Não há indícios
fortes, como gostaria o professor, de que será nessas eleições
que seus vaticínios se confirmarão.
No entanto, apenas seu posicionamento em relação aos
governos do PT não seria suficiente para traçar um panorama
do mal que esse senhor já tentou impingir à discussão política
no Brasil; suas diatribes, nesse caso, são apenas fruto de ódio
e interesse político. Ademais, é um direito seu ser antipetista,
como o é expressar-se acerca disso, inclusive mentindo. Mas,
como historiador que diz ser, deveria ser mais comedido com a
História e não tentar revisá-la a partir de interesses subalternos
da matriz ideológica à qual se afiliou. O ódio brutal de Villa
contra o PT é, de um ponto de vista intelectual, anterior ao PT.
Ele se pensa um "bandeirante" da academia e, assim, dedica
parte de seus esforços em deslegitimar a agenda política mais
bem sucedida no Brasil do Século XX: o trabalhismo. Deforma
o legado de Getúlio Vargas e da agenda trabalhista ao passo
que busca argumentos – do mesmo quilate dos que forja para
sustentar suas previsões – para legitimar o arbítrio golpista de
1964 e o arranjo chamado "transição", que postergou a escolha
direta dos brasileiros nas eleições presidenciais para além dos
estertores do regime militar e serviu para tirar os militares da
cena política preservando todos os interesses que os
mantiveram nela durante a ditadura. E esse é justamente o
termo que Villa gostaria que revíssemos: para ele, o golpe de
64 não implantou uma ditadura no Brasil, mas a resistência
armada de parte da esquerda é que seria a grande responsável
pelo único golpe que ele reconhece – aquele dado dentro do
próprio governo golpista –, o famigerado Ato Institucional
Nº 5, de 1968. Para além, segundo Villa, a ditadura –
implantada em 68, e não em 64 – teria acabado em 1979,
com a assinatura da Lei da Anistia. Seu argumento é:
liberdades relativas, antes de 68 e depois de 79, autorizariam
a reclassificar esses períodos como não autoritários. Assim o
professor, supõe-se, sustenta que a democracia, a cidadania
e os direitos civis não precisam ser plenos; meia democracia
já vale.
Parece estapafúrdio e, de fato, é; nem a direita o levou a sério,
mais uma vez. Mas obedece a um método, a uma tese, a um
pensamento: a esquerda deve ter deslegitimada sua participação
política de toda forma e não deve figurar na história senão c
omo assassina, equivocada ou incompetente; se possível, uma
mescla disso tudo. É falso. É desonesto. A esquerda, em sua
ampla maioria em nosso país, foi forjada na luta democrática,
por mais direitos e participação, nunca por menos. E o pensamento
mais influente nesse espectro político sempre buscou o caminho
do socialismo democrático – coisa que, pelas premissas falsas
colocadas por Villa, seria em si uma incongruência. Não é. As
perspectivas de esquerda mais bem sucedidas no Brasil sempre
estiveram mais associadas ao estado de bem estar social do que
às experiências autoritárias detrás da Cortina de Ferro. O professor
confunde – para confundir – os símbolos da luta de esquerda no
Brasil, fortemente influenciado pelo simbolismo revolucionário
comunista, como em toda a América Latina, com a agenda real
das esquerdas desde a metade do Século XX: a construção de
uma democracia de massas, com mercado interno desenvolvido e
valores identificados no socialismo utópico. Se os governos do PT
contribuem mais – ou menos – para essa construção, podemos
discutir, mas desde que o debate se ancore em premissas
verdadeiras e não nas escolhas políticas de Villa.
O professor sabe que o governo Dilma não acabou, que o país
não está emperrado e que quem seria capaz de lançá-lo à lona
em nome de seu projeto de poder é a oposição pela qual ele
milita, não o PT. Se já o fizeram quando no governo, por três
vezes em sete anos, porque não o fariam para voltar a ser
governo? Villa desqualifica o debate político; esse é seu papel,
aliás, e ele sabe disso.
http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/142271/Villa-um-
bandeirante-virtual.htm
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