A pesquisa do Ibope, mostrando que Lula aparece como favorito para as eleições presidenciais de 2018 caíram como uma bomba na cabeça da Direita golpista. Apesar das distorções de sempre em prejuízo da Esquerda, o levantamento mostra três constatações interessantes ao debate político:
1) É impressionante que 23% dos eleitores consultados declarem seu voto em Lula, muito à frente de Aécio Neves, segundo colocado na eleição passada e, portanto, beneficiário do que os publicitários chamam de "recall" (lembrança do nome or marca depois de uma forte exposição). O discurso de nota única de Aécio, em defesa de um golpe de Estado sob formas judicial ou congressual, mostrou ao povo seu despreparo e total irresponsabilidade política. Sua rejeição aumentou e suas intenções de votos caíram. Fracasso total do discruso de ódio da Direita, sem projetos ou respeito ao Povo;
2) O descrédito crescente da classe política como um todo. Os políticos nunca foram muito amados no Brasil, como exceção, talvez, de Getúlio e Juscelino, mas ambos depois que deixaram o poder e, mais ainda, depois que morreram. Lula foi muito querido durante seus mandatos, e continua a fascinar uma fatia importante dos brasileiros e brasileiras, que demonstram conservar a gratidão pelos avanços sociais produzidos naqueles oito anos.
O espírito crítico sobre a classe política é positivo, demonstra a vigilância do povo sobre os mandatários, e é a única forma de pressionar os detentores de mandatos a se manterem próximos à vontade popular. Ao contrário do que alguns pensam, a Democracia nunca está pronta; é um processo permanente, e a crítica popular, da mídia e da sociedade organizada em geral, é fator fundamental de aperfeiçoamento.
Porém, a desmoralização dos políticos como um todo, com chavões do tipo "todo político é ladrão", é um suicídio da sociedade. Nada acontece fora da Política, arte e ciência de se organizar a sociedade para proteger os mais fracos, estabelecer metas coletivas, mediar os conflitos de interesse, manter a coesão social, etc.
Alem disso, no vácuo aberto para ausência das lideranças políticas, só pode sobrevir o autoritarismo, o poder pode ser assaltado por um grupo restrito que promete "moralizar" a Nação - e a ditadura da minoria sempre acaba em falta de liberdades, favorecimento aos economicamente mais fortes e atraso cultural, entre outros pontos inevitáveis numa ditadura;
3) A total desmoralização dos maiores órgãos de Comunicação do país, que pregam abertamente um golpe de Estado, 24 horas por dia, no caso de rádio e TV, e em todas as manchetes de Política dos jornais e revistas. Um dos expoentes desta brigada do ódio ao PT, à Lula e à Dilma, Reinaldo Azevedo, que ocupa espaços no panfleto fascista semanal "veja", na Folha de S. Paulo e na rádio Jovem Pan (aquela sustentada pela propaganda do Governo Alckmin), confessou na rádio, nesta terça-feira, que estava "em surto" depois de comentar a pesquisa do Ibope. Cometeu erros primários, como dizer que Natal é a capital brasileira mais ao Oeste (é João Pessoa, como alguns ouvintes corrigiram a tempo). O "Rei do Esgoto" , como é conhecido nos meios jornalísticos e na blogosfera, passou uma hora xingando Lula e Dilma, caluniando vários petistas e insuflando o ódio nos seus eventuais ouvintes.
Era audível, no programa do Rei do Esgoto, a sua imensa frustração pelo fato de que sua pregação incessante, estridente, espumante de ódio, não produz nenhum resultado na opinião pública. Para ele, Lula deveria estar com 0,1% das preferências, e o candidato da Direita (ele deve sonhar com Bolsonaro, mas tem que se contentar com o Aécio Neves, o playboy do Leblon) com uns 80%....
Vamos nos debruçar sobre os dados da pesquisa, sem euforias, mas procurando entender seus múltiplos significados. Esses três, no entando, já nos saltam aos olhos.
. O impeachment é “uma nova patologia na política da América Latina”.
. “Os golpes militares da época da Guerra Fria estão sendo substituídos pelo impeachment. A função do Congresso é fiscalizar os governos, e não derrubá-los. Isso é o mesmo que bater às portas dos quartéis”.
. “Não se deve buscar interromper o mandato eletivo. Isso é um desrespeito à população, seja quem for o eleito. O impeachment é um instrumento violento, que causa instabilidade à economia e ao país”.
. “A lei exige um crime de responsabilidade, o que não vejo. Ninguém diz que a presidente enriqueceu. Sua honra está preservada”.
. Sobre a sugestão de renúncia vinda de FHC: “Um ex-presidente não devia falar isso. Eu também acho que ele poderia ter renunciado quando comprou a reeleição”.
Embora em valores absolutos a cotação do dólar bateu nesta semana o recorde desde a criação do real, em 1994, quando se atualiza os valores, levando em conta a correção pela inflação, o dólar está longe de superar o patamar de 2002, quando o país era presidido por FHC; para atualizar os valores, é preciso levar em conta a inflação brasileira e a dos EUA; por essa conta, o dólar teria que valer cerca de R$ 6,88 hoje para ser comparável com o valor de outubro de 2002; na prática, isso indica que a pressão no câmbio há 13 anos era muito maior
26 DE SETEMBRO DE 2015
247 - À primeira vista, a cotação do dólar bateu nesta semana o recorde desde a criação do real, em 1994. Mas quando se atualiza os valores, levando em conta a correção pela inflação, o dólar está longe de superar o patamar de 2002.
Para atualizar os valores, é preciso levar em conta a inflação brasileira e a dos EUA. Por essa conta, o dólar teria que valer cerca de R$ 6,88 hoje para ser comparável com o valor de outubro de 2002. Na prática, isso indica que a pressão no câmbio há 13 anos era muito maior.
Em 10 de outubro de 2002, o dólar atingiu a cotação nominal (sem o desconto da inflação) de R$ 3,99. Esse valor, se fosse atualizado com base no IPCA (inflação oficial do Brasil) e do CPI (índice de preços americano), seria hoje de R$ 6,88. Se for considerado o IGP-M (índice de inflação calculado pela FGV) e o CPI, o valor nominal hoje teria de ser o equivalente a R$ 7,46. Na última quinta-feira, o dólar nominal chegou aos R$ 4,2480 durante o dia.
O cálculo foi feito pelo economista Alexandre Cabral, da NeoValue Investimentos, para quem a pressão atualmente no câmbio é menor. “Hoje, o País tem reservas internacionais, naquela época não tinha. Há uma dor de cabeça? Sem dúvida. Mas todos sabem os motivos”, disse.
As reservas internacionais em 2002 giravam em torno de US$ 37 bilhões, enquanto hoje estão na casa dos US$ 370 bilhões.
O movimento “Vemprárua” e outros grupos que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff fazem desde ontem, segunda-feira, uma “Blitzkrieg” junto aos ministros do TCU que devem avaliar as contas da presidente Dilma Rousseff relativas a 2014 até o próximo dia 7 de outubro. Eles pedem que os ministros rejeitem pressões políticas do governo e dos partidos para aprovar as contas de Dilma, ainda que com ressalvas.
- O que temos dito a eles é que se prendam ao julgamento técnico repelindo pressões políticas e que contem com o nosso apoio para isso – disse ao 247 o coordenador da atividade pelo VemPráRua, Jailton Almeida.
Reservadamente, dois ministros do TCU nos revelaram ter sido assediados pelos visitantes que tentaram lhes cobrar compromisso com o voto pela rejeição das contas. “Foi uma tentativa de constrangimento desagradável, dentro do meu gabinete”, queixou-se um ministro.
Como se sabe, o relator das contas, ministro Augusto Nardes, apresentará um parecer que poder ser acolhido ou não pelo plenário do TCU. Este parecer, que pode ser pela aprovação, rejeição ou aprovação com ressalvas das contas do governo é que será apreciado pelo Congresso, a quem cabe a palavra final. A oposição aposta na rejeição das contas de Dilma pelo Congresso porque terá com isso o fundamento jurídico para um pedido mais consistente de abertura de processo de impeachment contra ela. Os 13 pedidos já apresentados, e que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, devolveu aos autores para que sejam enquadrados nas exigências técnicas da Casa, não apontam infrações cometidas pela presidente que possam ser enquadradas como crime de responsabilidade. Nem mesmo o do jurista Hélio Bicudo, adotado pela oposição, que é o melhor fundamentado e também foi devolvido ao autor.
A rejeição das contas do governo pelo Congresso resolverá este problema para a oposição, que não gostaria de conduzir um processo de impeachment que possa ter sua legalidade contestada e que, por inconsistência jurídica, possa ser caracterizado como golpismo.
No cronograma da oposição, o pedido de Hélio Bicudo deve ser reapresentado depois da votação do parecer de Augusto Nardes pelo TCU, o que dará uma fundamentação mais consistente ao pedido, ainda que o Congresso não tenha apreciado a matéria. A oposição ainda discute se vai apenas apoiar o pedido de Bicudo ou se, através de seus líderes, irá subscrevê-lo.
A menos que o distinto leitor viva em Marte ou Europa – satélite de Júpiter que os exobiólogos julgam ter condições de abrigar vida –, por certo vem ouvindo a oposição e a mídia dizerem que o ex-presidente Lula estaria politicamente “morto” devido à influência negativa que a queda de popularidade da presidente Dilma e do PT estaria exercendo sobre sua imagem.
Recentemente, um dos pistoleiros destacados pelos barões da mídia tucana para atirar todo santo dia contra o ex-presidente escreveu-lhe um “obituário” em artigo que, se não fosse a arrogância, seria simplesmente ridículo, já que se baseia muito mais na vontade do autor do que em fatos, os quais teimam em desmentir esse tipo de previsão fúnebre.
Trecho do texto do indigitado pistoleiro tucano reflete bem o clima que se tenta criar em relação a Lula:
“Brinco que Lula é uma espécie de morto-vivo da política, um zumbi. No programa “Os Pingos nos Is”, que comando na Jovem Pan, a cada vez que cito seu nome, toco a música tema de “Walking Dead”. Acho a metáfora perfeita. Sustento que ele já está morto para a política, mas ainda não lhe passaram o recado. Por essa razão, fica perturbando o mundo dos vivos. De qualquer um e de qualquer lugar”
Os fatos, porém, revelam que Lula perturba mesmo o mundo dos vivos, mas não o dos viventes. Perturba o mundo de espertalhões – do qual o termo “vivos” é sinônimo – como os que vêm alardeando um passamento que está por provar-se.
Não é por outra razão que oposição demo-tucano-midiática vem articulando medidas para, por via das dúvidas, tirar Lula de uma possível eleição em 2018.
A filha do ex-presidiário Roberto Jefferson (delator do esquema do Mensalão e hoje presidente nacional do PTB), a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), protocolou, recentemente, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 125/2015, que, se aprovada, impediria Lula de se candidatar à sucessão de Dilma Rousseff.
A oposição quer emplacar sistema vigente nos Estados Unidos em relação a ex-presidentes da República. A PEC 125/2015 proíbe reeleição por períodos descontinuados para cargos do Executivo, desde prefeitos até o presidente da República.
Ou seja: um presidente só poderia ser reeleito de maneira seguida, não podendo voltar a disputar uma eleição caso seja substituído. O mesmo aconteceria com governadores e prefeitos.
“O presidente da República, os governadores de Estado e do Distrito Federal, os prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos, poderão ser reeleitos para um único período subsequente, sendo proibida a reeleição por períodos descontínuos”, diz o quinto parágrafo do artigo 14 da proposta.
Assim como Lula, os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Fernando Collor e José Sarney também ficariam inelegíveis.
O mais esclarecedor sobre essa “morte” de Lula que a oposição e seus pistoleiros na imprensa alardeiam é que a PEC 125/2015 cita o petista indiretamente: “Ademais, um candidato recorrente possui uma vantagem desproporcional e desleal sobre os seus adversários, visto que este já possui um nome e um legado já conhecido pelo povo”, conclui o texto.
Tem razão a filha de Bob Jeff: Lula possui um nome e um legado já conhecidos pelo povo. Nenhum defensor de Lula escreveria melhor. Claro que um aliado ou defensor declarado dizer isso dele pode parecer mero wishful tinkhing, mas a frase na boca de adversários figadais do ex-presidente denuncia que a tal morte alardeada está longe de acontecer.
E para quem possa pensar que se trata de iniciativa isolada, segundo o portal UOL o plano para impedir que Lula dispute a eleição presidencial de 2018 “une a oposição”. Ou seja, os políticos assumidos de oposição não dão um tostão furado pela análise do pitbull da Veja e da Folha de São Paulo sobre a tal “morte” do ex-presidente.
Nesse aspecto, comparar Lula com os zumbis da série de TV ianque “Walking Dead” também faz algum sentido, mas não pelo que diz o reaça esquisito de Veja/Folha. É porque os “vivos”, ou melhor, os espertalhões da oposição e da mídia têm tanto medo de Lula quanto os mocinhos da série televisiva têm dos mortos-vivos, que podem ser pisoteados, fuzilados, espancados, mas não morrem nem a pau.
Contudo, segundo a Constituição Cidadã de 1988 a proposta da tal Cristiane Brasil – não parece nome de chacrete ou bailarina do Faustão? – não parece ter lá muitas chances de ser aprovada.
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) é uma atualização, um emendo à Constituição Federal. É uma das propostas que exige mais tempo para preparo, elaboração e votação, uma vez que modifica a Constituição Federal. Em função disso, requer quórum quase máximo e dois turnos de votação em cada uma das Casas legislativas, Câmara dos Deputados e Senado Federal.
Quando uma PEC chega ou é criada na Câmara dos Deputados, ela deve ser enviada, antes de tudo, para a Comissão de Constituição e Justiça e de Redação (CCJ). É nesse ponto que começa seu caminho pela Câmara, a chamada tramitação, rumo à aprovação.
Aprovada a proposta na CCJ, o presidente da Câmara cria uma Comissão Especial para o chamado exame de mérito, ou seja, a análise de seu conteúdo, que tem prazo de 40 sessões ordinárias para analisar o texto.
Aprovada na comissão, a PEC está pronta para votação em plenário. Entretanto, há algumas regras a serem seguidas. É necessária a aprovação em dois turnos, com espaço de pelo menos cinco sessões entre um turno e outro. Esse prazo é chamado de interstício.
Para ser aprovada, a proposta deverá obter os votos de três quintos, no mínimo, do número total de deputados da Câmara em cada turno da votação. Ou seja, aprovação de 308 dos 513 deputados.
O Presidente da Câmara mandará a proposta aprovada para o Senado onde tramitará segundo as regras de seu Regimento Interno que é diferente do da Câmara. No Senado, a proposta irá apenas para a Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ), que dará parecer sobre todos os seus aspectos. O Regimento do Senado não distingue admissibilidade e mérito. A comissão tem prazo de 30 dias para dar o parecer.
Aprovada na CCJ, a proposta segue diretamente para o plenário, que abre prazo de cinco sessões para discussão. A aprovação também se dá em dois turnos, com votação favorável mínima de 60% dos senadores em cada um dos turnos. É necessário, na legislatura atual, aprovação de 49 dos 81 senadores.
Caso a PEC que saiu da Câmara não tenha sido alterada pelo Senado, o texto é promulgado em sessão no Congresso pelo Presidente da República. Se tiver sido alterada, o processo recomeça inteirinho.
Convenhamos, é muito trabalho a ser feito por quem escreve ou fala, aparentando toda a “convicção” do mundo, que o alvo de tudo isso está “morto”.
Lula, porém, não está morto coisa nenhuma. Como diz a PEC que visa impedi-lo de disputar a eleição presidencial de 2018, o ex-presidente “possui uma vantagem desproporcional e desleal sobre os seus adversários, visto que este já possui um nome e um legado já conhecido pelo povo”. Queiram os pistoleiros da mídia tucana ou não.
É hora de defender vigorosamente a permanência de Dilma até o final de seu mandato.
Sobretudo nas ruas, mas não só nelas: as redes sociais são hoje um importante polo formador de opiniões.
Não se trata de defender Dilma em si e muito menos o PT: é a defesa da democracia, da justiça, da Constituição.
E, mais que tudo, é a defesa da decência.
O pequeno grupo que fez o Brasil ser a sociedade abjetamente desigual que é tenta, com métodos grotescos e argumentos sórdidos, cassar 54 milhões de votos.
Desde o momento em que a derrota de Aécio foi confirmada, iniciou-se uma louca cavalgada pelo golpe.
Da suspeição absurda sobre as urnas eletrônicas até o dinheiro de doações que irrigaram tanto a campanha de Dilma quanto a de Aécio, sucedem-se argumentos aos quais cabe um adjetivo: criminosos.
A direita brasileira, inflada pela imprensa, já provou que não é mais civilizada que a direita venezuelana, ou a equatoriana, ou a argentina.
Todas essas direitas fazem, neste momento, a mesma coisa: sabotam a democracia. Tratam seus países como republiquetas, passíveis de serem ludibriadas para a perpetuação de privilégios e mamatas ancestrais. E para a manutenção e ampliação do maior câncer da região: a desigualdade social.
O país seria atirado a um abismo com um impeachment, a uma noite longa e escura.
O maior erro é confundir Dilma com Collor. Collor não tinha sustentação nenhuma. Ninguém iria chorar a morte de sua presidência, sabia-se, e ninguém chorou exceto ele mesmo.
Mesmo com o desgaste de todos estes anos de poder, o PT tem uma base forte, a começar pela CUT e pelo MST.
Outros movimentos sociais haveriam certamente de se insurgir contra um golpe. Guilherme Boulos, do MST, já disse que é vital a união dos progressistas contra as manobras dos golpistas.
O Brasil, num caso de impeachment claramente forçado como este ora tramado, ficaria simplesmente ingovernável.
Para reprimir os que se manifestarem contra o golpe, a polícia vai ter que bater pesado. Seremos um enorme Paraná.
Ecos da ditadura ressurgirão na repressão aos protestos. Sangue de brasileiros correrá, como aconteceu num passado ainda recente.
É uma distopia, e é também um cenário altamente provável no caso de um golpe.
Tenho para mim que, no fundo, os sabotadores sabem disso. E estão, essencialmente, promovendo um terror contínuo para manter Dilma imobilizada e para sangrar o PT até 2018.
A hipótese de que eles acham mesmo que poderiam roubar a presidência é simplesmente tétrica.
Eles teriam que ser muito cegos e muito canalhas para imaginar que um golpe seria engolido com docilidade pelos brasileiros.
Vamos começar a análise com uma boa notícia. A taxa de inflação medida pelo IBGE (que é o índice mais importante) para agosto ficou em 0,22%, o menor número, para o mesmo mês, desde 2010. Os gráficos não mentem. A inflação está caindo.
A queda foi centrada nos itens que mais afetam a vida dos mais pobres: alimentação e moradia.
O mundo, portanto, não está acabando. Falta agora baixar os juros.
A má notícia do dia, veiculada ontem à noite mas repercutida hoje, foi o rebaixamento da nota do Brasil.
Ainda estamos, porém, bem acima dos níveis registrados no passado.
A repercussão à essas notas de agência de risco são um capítulo à parte na literatura do mundo financeiro. Todo mundo sabe que elas não são confiáveis, e mesmo assim o mercado confia. A bolsa brasileiro reagiu de maneira bastante negativa hoje.
Em sua época, FHC também costumava depreciar as agências.
A presidenta Dilma deu uma entrevista ao Valor. Ela tentou ao máximo agradar o mercado. Politicamente, me pareceu uma jogada firme para consolidar o apoio que ela já tem do grande empresariado, que não tem interesse nenhum num processo de ruptura política que poderia piorar muito o cenário de instabilidade política e econômica.
Na entrevista, Dilma se compromete de maneira bastante firme a manter uma política fiscal responsável e defende o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com muita ênfase.
A solução para a crise, segundo Dilma, virá da exportação, que ganha competitividade diante do dólar alto, dos investimentos e, por último, do mercado interno.
Mas faltou, como de praxe, um pouco de verve política à presidenta. Ela fala de economia de uma maneira muito fria.
É bom que ela dê entrevistas ao Valor, mas seria interessante que ela também desse entrevista aos jornais e revistas ligados aos movimentos sociais, que lhe dão sustentabilidade e, portanto, são peça chave na estratégia de superação da crise política e econômica.
A oposição e as pesquisas fora de hora para fazer Lula parecer fraco
É perceptível o medo que as oposições têm de Lula. Na política, nas corporações e na “grande imprensa”, se inquietam com a possibilidade de uma candidatura do ex-presidente em 2018. Podemos estar certos: elas próprias não acreditam no que alegam quando dizem não o temerem.
Por Marcos Coimbra*, na CartaCapital
Ricardo Stuckert | Instituto Lula
A sério nenhum expoente oposicionista endossa o raciocínio simplório de que a atual crise de popularidade da presidenta Dilma Rousseff, somada ao desgaste da imagem do PT causado pela Operação Lava Jato, eliminam a chance de sucesso de uma candidatura de Lula. Repetem-no para convencer a plateia e a si mesmos, mas a cada vez que reiteram a tese de que Lula não venceria, mais revelam o quanto creem em sua força.
De uns tempos para cá, para tentar demonstrar o enfraquecimento do ex-presidente, uma das estratégias mais utilizadas tem sido a divulgação de pesquisas de intenção de voto. Apenas nas últimas semanas, foram cinco, todas com Lula em segundo lugar, atrás dos possíveis nomes tucanos.
É claro que a razão de ser de algumas foi somente fortalecer a hipótese da candidatura de Aécio Neves pelo PSDB. Obrigado a enfrentar Geraldo Alckmin e José Serra, considerados favoritos na disputa interna por muitos, Aécio faz o mesmo que Serra fez com ele em 2010. Desta feita, em razão do recall de 2014, o argumento de “estar na frente nas pesquisas” lhe é favorável, e não será surpresa se sua pré-campanha promover a multiplicação de levantamentos de agora em diante.
O alvo principal sempre é, porém, Lula. O discurso sobre sua “fraqueza” visa apenas secundariamente a opinião pública. Embora não seja irrelevante desmotivar seus eleitores no horizonte de daqui a três anos, o jogo é de curto prazo e seu objetivo não é a sociedade, mas o interior do sistema político.
Ao afirmar que Lula seria derrotado em 2018, as oposições apostam no efeito imediato no Congresso Nacional. Não é segredo que a perspectiva do retorno do ex-presidente mantém minimamente articulada a base parlamentar do governo e que, sem ela, as dificuldades de Dilma Rousseff, que já são grandes, seriam ainda maiores.
É, no entanto, um despropósito pretender retirar conclusões como essas de pesquisas de intenção de voto feitas nas condições atuais e tão longe da próxima eleição. Em fases como a que vivemos, quando a população se sente insatisfeita e descrente no governo, elas tendem a captar atitudes e opiniões exclusivamente conjunturais, de pouca utilidade preditiva. A característica da pesquisa de ser a “fotografia de um momento” se acentua e, a mais de três anos de distância, a suposição de “a eleição ser hoje” mostra-se completamente sem sentido.
A se considerar que a popularidade atual do governo Dilma é muito parecida com aquela de Fernando Henrique Cardoso no início do segundo mandato, podemos tirar daquele período alguma lição que nos leve a compreender o presente e a imaginar o futuro. Mais especificamente, a entender que impacto tem uma crise de popularidade nas intenções de voto na eleição seguinte, na qual o governante não é candidato, mas seu partido ou grupo político vai concorrer.
Como sabemos, FHC começou pessimamente o segundo mandato, em meio a uma grave crise econômica, com inflação e desemprego na estratosfera, acossado por denúncias de favorecimento a grupos econômicos e obrigado a lidar com uma oposição política ativa, manifestações de rua e pedidos de impeachment. Em razão disso, sua popularidade caiu a níveis muito baixos: segundo dados de uma pesquisa do Instituto Vox Populi feita em setembro de 1999, apenas 8% da população avaliava positivamente o governo.
Como é de se supor, o cenário eleitoral era desfavorável ao condomínio tucano-pefelista. Em nenhuma das inúmeras pesquisas realizadas pelo Vox Populi entre 1999 e 2000, a soma de quaisquer candidatos do PSDB e do PFL ultrapassou 14%. José Serra, o tucano mais forte, nunca foi além de 7%. A medir a situação por elas e de acordo com os demais institutos, o governismo estava fadado a uma derrota acachapante em 2002.
Não foi o que vimos quando a eleição chegou. Serra só ficou atrás de Lula, disputou com ele o segundo turno e alcançou cerca de 40% dos votos válidos, quase exatamente o mesmo porcentual de Alckmin em 2006. Ou seja, na hora de votar, prevaleceram as identidades mais profundas do eleitorado e não a conjuntura da avaliação do governo.
Se, em 2002, Serra cresceu, apesar de sua limitadíssima identificação popular, imagine-se o favoritismo com que Lula pode chegar em 2018. O que, aliás, explica o medo das oposições e por que elas tentam, de qualquer maneira, impedir sua candidatura.
*Marcos Coimbra é sociólogo, presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense. Artigo originalmente publicado com o título "Pesquisas fora de hora"
Tão tagarelas ao dar lições de moral nos últimos meses, FHC e Aécio estão mantendo um silêncio de vaca amarela sobre o caso Eduardo Cunha.
Tem um preço este mutismo de ocasião.
Cada palavra silenciada desmoraliza as pronunciadas contra o governo Dilma.
FHC e Aécio simbolizam o Brasil farisaico, em que a corrupção é encarada conforme a ocasião.
Você faz cara de indignado se o acusado é um petista. Condena liminarmente.
E se cala se o acusado não é petista. No limite, diz que os fatos têm que ser devidamente apurados.
A pressa neurótica em condenar é substituída por uma calma imperturbável na espera da palavra sempre tardia da Justiça.
É a moralidade fajuta, feita não para promover a ética mas para enganar ingênips e manipular a opinião pública.
As evidências contra Eduardo Cunha são espetaculares.
Como esquecer o rosto amedrontado do delator Júlio Camargo ao rememorar o achaque de que foi vítima por Cunha?
Todas as peças se encaixaram no depoimento. No achaque, como ficou provado, Cunha utilizou até o expediente de ameaçar investigar na Câmara uma empresa que lhe devia dinheiro de propina.
Esmagado pela descoberta de seus crimes, Cunha faz o que agora, além de contar com o silêncio obsequioso dos Catões de araque como FHC e Aécio?
Ele se declara vítima.
Diz que foi escolhido para responder pelo que fez na certeza de que estava tudo sob controle.
Parece um batedor de carteira que, apanhado, olha para seus captores e diz, peito cheio de indignação: “Por que eu?”
Sua defesa, publicada no Facebook, é o oposto da peça de acusação de 85 páginas preparada pela equipe do procurador geral Rodrigo Janot.
Onde Janot traz fatos, Cunha contrapõe evasivas autovitimizadoras.
Pior do que ele só os caciques da Nova UDN, o PSDB.
Seu silêncio não apenas não ajuda Cunha como tem o efeito de desmascará-los.
É como se FHC e Aécio estivessem gritando: “O que nós falamos não vale nada. Não nos levem a sério.”
(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).
"Até agora, Dilma é acusada no Tribunal de Contas da União de ter pedalado as contas públicas. O TCU não é um tribunal, mas um conselho assessor da Câmara. Ademais, a acusação ainda não foi formalizada. Eduardo Cunha foi acusado pelo Ministério Público de ter entrado numa propina de US$ 5 milhões. O PSDB quer tirar Dilma do Planalto e admite manter Eduardo Cunha na presidência da Câmara", escreve o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna deste domingo na imprensa
23 DE AGOSTO DE 2015 ÀS 06:26
247 - O jornalista e escritor Elio Gaspari critica duramente, em sua coluna deste domingo 22, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), pela reação diante da denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele destaca que, para os tucanos, a presidente Dilma Rousseff, que sequer foi denunciada, precisa renunciar, enquanto Cunha vem sendo blindado.
"Até agora, Dilma é acusada no Tribunal de Contas da União de ter pedalado as contas públicas. O TCU não é um tribunal, mas um conselho assessor da Câmara. Ademais, a acusação ainda não foi formalizada. Eduardo Cunha foi acusado pelo Ministério Público de ter entrado numa propina de US$ 5 milhões. O PSDB quer tirar Dilma do Planalto e admite manter Eduardo Cunha na presidência da Câmara", escreve ele.
O colunista destaca ainda a frase de FHC dita há uma semana em que afirma que a renúncia da presidente Dilma seria um "gesto de grandeza" e, caso ela não seja capaz de tomar essa decisão, "assistiremos à desarticulação crescente do governo e do Congresso, a golpes de Lava Jato." A frase poderia ter sido dita sobre Cunha, diz Gaspari, mas o ex-presidente "não disse. Nem FHC, nem qualquer outro grão-tucano". O jornalista também faz questão de lembrar que o ex-presidente Fernando Collor renunciou em 1992, mas depois foi absolvido pelo STF.
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/196998/Movimentos-pressionam-TCU-sobre-contas-de-Dilma.htm