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terça-feira, 1 de abril de 2014

MAIS UM TORTURADOR RECEBE "ESCRACHO" DA JUVENTUDE COM CAUSA

Jovens 'escracham' ex-agente da ditadura em SP

01 de abril de 2014 | 10h 29
Agência Estado
Integrantes do movimento Jovens do Levante Popular da Juventude realizaram um ato no início da manhã desta terça-feira, 1º, em frente à casa do delegado aposentado da Polícia Civil Aparecido Laerte Calandra.
Conhecido como "Capitão Ubirajara", Calandra atuou por quase dez anos no DOI-Codi, centro de repressão e tortura da ditadura militar. O ato, definido pelo grupo como ''escracho'', faz parte de ações para lembrar os 50 anos do golpe que depôs o presidente João Goulart.
"O escracho tem como objetivo não deixar que a juventude brasileira esqueça o dia em que se completa os 50 anos do golpe militar, que submeteu nosso país a uma ditadura de mais de 20 anos e denunciar todos os abusos e violências sofridas pelos militantes", diz o grupo, em nota. Os manifestantes picharam a casa do ex-agente com dizerem como "torturador" e "assassino", e deixaram um tecido pregado ao portão no qual pedem "memória, verdade e justiça".
O Levante Popular da Juventude se apresenta como uma organização de jovens militantes que discute formas de mobilização e transformação social.
Nessa segunda, 31 de março, um ato parecido foi organizado em frente à casa do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, em um bairro nobre de Brasília. Os participantes da manifestação pregaram cartazes com fotos de pessoas que foram mortas e torturadas nas dependências do temido DOI-CODI, em São Paulo, durante o comando de Ustra, nos anos 1970. 
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,jovens-escracham-ex-agente-da-ditadutra-em-sp,1147720,0.htm

segunda-feira, 31 de março de 2014

MÍDIA ESCONDE SEU PASSADO PRÓ-DITADURA

A imprensa e o golpe de 64


Folha, Globo e outros jornais estão fazendo especiais sobre os 50 anos do Golpe.
É uma tragédia e ao mesmo tempo uma comédia.
Qualquer esforço sério para falar do Golpe tem que tratar do papel crucial da mídia. O que jornais como o Globo, a Folha, o Estadão e tantos outros fizeram, portanto.
Alguma linha sobre o assunto?
Pausa para rir, ou para chorar. Você escolhe.
1964 não teria existido sem a imprensa, este é um fato doído para nós, jornalistas.
Os jornais construíram um Brasil fantasioso – de mentira, sejamos diretos – que chancelaria a ação dos militares.
Como mostrou o jornalista Mário Magalhães em seu blog nestes dias, o presidente João Goulart tinha alta popularidade em março de 1964.
Numa pesquisa do Ibope, não divulgada à época e nem por muitos anos, ele aparecia bem à frente na lista de intenções de voto para as eleições presidenciais de 1965.
Como não seria popular um presidente que tinha uma agenda pró-povo como Jango? Entre outras coisas, em seu governo foi criado o 13.o salário, que o Globo – numa hoje amplamente exposta e debochada primeira página – tratou como calamidade.
Mas o noticiário criava a sensação de que os brasileiros em massa eram contra Jango. O Globo conseguiu dizer que a democracia fora “restaurada” com o golpe que mataria tantas pessoas e faria de seu dono o homem mais rico do país.
Mesmo o grande jornal que mais tarde foi uma trincheira na oposição aos militares – o extinto Correio da Manhã – produziu duas manchetes que entrariam tristemente na história.
Uma delas dizia “Basta!” e a outra “Fora!” Como maus exemplos prosperam, a Veja copiaria o Correio da Manhã na capa em que, décadas depois, anunciou a saída de Collor. (E sonharia por oito anos repetir a cópia na gestão de Lula.)
O apoio da mídia à ditadura se manteria enquanto os militares foram fortes para beneficiar seus donos.
A campanha da Folha pelas eleições diretas só veio quando a ditadura cambaleava: politicamente, a insatisfação galopava, e a economia era um caos insustentável.
Antes, Octavio Frias se comportara de maneira bem diferente. Cedera carros da Folha para a caça a opositores da ditadura, o que o levou a temer ser justiçado como outro empresário que fez o mesmo, Henning Albert Boilesen, da Ultragás.
Frias mostrou também sua combatividade seletiva quando, depois de uma crônica de Lourenço Diaféria que dizia que o povo mijava na estátua do Duque de Caxias, patrono do Exército, recebeu uma ordem de um general para afastar o diretor de redação Claudio Abramo.
Afastou – não um mês, uma semana, um dia depois. Afastou na hora. Covardemente, ainda mandou retirar seu próprio nome – dele, Frias — da primeira página do jornal como “diretor responsável”.
Pôs o de Boris Casoy, escolhido para substituir Claudio por causa de seus notórios vínculos com a ditadura. Boris foi integrante do Comando de Caça aos Comunistas, o CCC. Não sabia escrever, mas isso era um detalhe.
Depois, quando a ditadura desabava, Frias autorizou valentemente a campanha das Diretas Já, tão enaltecida como nascida da grandeza de Frias ainda hoje por jornalistas de renome como Clóvis Rossi.
Não era fácil se jornalista naqueles dias, especialmente se você tivesse convicções.
Meu pai – Emir Macedo Nogueira – era editorialista da Folha em meados dos anos 60, quando eclodiu uma greve de fome entre os presos políticos em São Paulo.
Frias mandou meu pai escrever um editorial que afirmaria não haver presos políticos, só prisioneiros comuns.
Papai se recusou, e foi tirado da posição. Por que Frias não o mandou embora, às vezes me pergunto. Imagino que sejam duas as explicações: a primeira, papai tinha um talento excepcional. A segunda: uma demissão significaria que Frias levara a perseguição política para o interior da Folha.
Prova de quanto era dura a vida na redação, o editorial acabou sendo escrito por Claudio Abramo, um grande jornalista de esquerda, cheio de amigos entre os presos políticos em greve de fome.
Papai na Folha na década de 70: ele se recusou a escrever um editorial que afirmaria que não havia presos políticos
Papai na Folha na década de 70: ele se recusou a escrever um editorial que afirmaria que não havia presos políticos
Você pode imaginar o sofrimento que foi para Claudio escrever o que escreveu naquele dia.
Quando penso no papel desempenhado pela imprensa no golpe, tenho vergonha de ser jornalista. Mas aí me lembro de como o DCM é diferente de tudo aquilo e sigo adiante, para combater o bom combate.
Paulo Nogueira
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-imprensa-e-o-golpe-de-64/

quarta-feira, 26 de março de 2014

MAIS PROVAS DO ENVOLVIMENTO DOS EUA E DA FIESP NA TORTURA

Ivan Seixas: O homem do Consulado 

dos EUA que visitava o DOPS

publicado em 25 de março de 2014 às 20:58
Especial – 50 anos do golpe
Um golpe contra o Brasil
por Ivan Seixas* — publicado 25/03/2014 08:55, última modificação 25/03/2014 09:23
Engana-se quem acha que a ditadura foi implantada, em abril de 1964, com uma quartelada ou alguma ação improvisada de militares furiosos. Foi um golpe de Estado anticomunista, antioperário e antinacional, dentro da histeria da Guerra Fria, em uma agressão escancarada para impor um minucioso projeto econômico e social desenvolvido segundo os interesses do capitalismo estrangeiro e seus aliados nacionais.
Para impor esse projeto econômico e social era necessário impor o arrocho salarial e medidas impopulares sem precedentes. E para que isso se efetivasse era necessário o terrorismo de Estado e a cumplicidade e cooperação do empresariado nacional.
A grande maioria dos sindicatos de trabalhadores sofreu intervenção, que passaram a ser dirigidos por gente de confiança da ditadura e dos patrões. Para garantir a repressão, uma extensa rede de repressão se instala desde os primeiros momentos da ditadura sob o comando do temido SNI — Serviço Nacional de Informações, complementada por agentes de repressão particular dentro das fábricas, contratados pelos empresários. Essa cooperação é prevista no organograma do SISNI – Sistema Nacional de Informações, que destaca as “Comunidades Complementares” com os convênios com “Entidades privadas conveniadas”.
Toda essa rede de arapongas a serviço do empresariado foi detectada pela Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, de São Paulo, com base em documentos oficiais do SNI, guardados no Arquivo Nacional. Do mesmo modo, o Arquivo do Estado de São Paulo guarda documentos que mostram que as empresas entregavam as fichas funcionais de seus empregados ao DOPS – Departamento de Ordem Política e Social para que fossem perseguidos pela temida repressão política e essa perseguição servir de desculpas para demitir e colocar o nome do perseguido nas “listas negras” daqueles que não poderiam conseguir emprego mais. Suas famílias passavam fome e os empresários impunham assim o medo da demissão e a submissão dos trabalhadores dentro do projeto implantado em abril de 1964.
A Comissão Estadual descobriu também os livros de entrada e saída no DOPS. Não o livro de entrada de presos, mas o de visitantes do departamento. Sem nenhuma dúvida, o visitante mais constante era um funcionário da FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Geraldo Resende de Mattos, homem de confiança do chefe da entidade patronal. Suas visitas nem sempre têm registrado o horário de saída. Numa dessas vezes, a entrada foi pouco antes das seis da tarde e sua saída se dá no dia seguinte quase sete horas da manhã. Óbvio que o funcionário da FIESP ia lá organizar a repressão ao movimento sindical já amordaçado, reprimido e duramente perseguido. Mais uma vez o projeto econômico e social implantado em 1964 era garantido pela repressão política da ditadura sem nenhum disfarce, bem longe da civilidade ou legalidade.
Outro que visitava muito aquele órgão de repressão, tortura e extermínio e opositores à ditadura militar era Claris Halliwell, graduado membro do consulado geral dos EUA, que entrava e saía com muita frequência e também não tinha horário de saída registrado ou só saía no dia seguinte. Em geral, sua presença lá coincidia com os dias em que aconteciam terríveis sessões de tortura a membros da resistência ao estado de terror imperante. Sua entrada acontecia junto com conhecidos torturadores do DOI-CODI de São Paulo como o tenebroso Capitão Ênio Pimentel Silveira, notório torturador e assassino de presos políticos. A entrada dos dois indica que participavam das sessões de torturas, como é o caso do dirigente do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), Devanir José de Carvalho, Comandante Henrique, barbarizado por quase três dias seguidos e assassinado ao fim dessa jornada.
Torturas, assassinatos e desaparecimentos de opositores militantes de organizações revolucionárias de luta armada aconteciam no mesmo lugar e com a mesma atenção que a repressão ao movimento sindical e de trabalhadores em geral. A ligação que há entre Mister Halliwell e Geraldo Resende de Mattos é o projeto econômico e social implantado em 1964, com orientação, apoio e acompanhamento do governo americano ao Estado usurpado pelos golpistas civis e militares, que se perpetuaram por longos 21 anos seguidos no poder. Causaram danos em, pelo menos, três gerações de brasileiros e estão impunes até hoje.
Nesse momento em que se marcam os cinquenta anos do assalto ao poder por gente que não tinha compromisso com a democracia e menos ainda com o País, devemos refletir o que se pode fazer para o Brasil continuar e aperfeiçoar suas instituições. Cometeram crimes de lesa-humanidade e também crimes de lesa-pátria, pois causaram danos ao povo trabalhador, aos jovens, à cultura nacional, à economia nacional e às instituições nacionais. E continuam impunes. As mortes são imperdoáveis, mas o que se pode dizer da fome causada aos trabalhadores colocados nas chamadas “listas negras”? Não eram “apenas” os trabalhadores, mas todos os componentes de suas famílias. Danos morais, políticos e econômicos em mulheres, crianças e idosos. Não há como perdoar. Tudo cometido em nome de um maldito projeto econômico e social de uma potência estrangeira.
*Ivan Seixas, ex-militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), foi torturado ao lado do pai, assassinado pelo regime. Hoje Seixas preside o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. Seu relato faz parte da série de 50 depoimentos coletados para o especial Ecos da Ditadura, sobre os 50 anos do golpe civil-militar de 1964
http://www.viomundo.com.br/denuncias/ivan-seixas-o-homem-do-consulado-dos-eua-que-visitava-o-dops.html?fb_action_ids=

sábado, 22 de março de 2014

NA DITADURA, TORTURADORES MUTILAVAM CADÁVERES!

Torturadores arrancavam arcadas dentárias e cortavam 

dedos, para impedir identificação dos mortos

Em depoimento à Comissão Estadual da Verdade do Rio, o coronel reformado Paulo Malhães, de 76 anos, acaba de dar importante contribuição para se entender melhor como a ditadura mutilou e desapareceu com os corpos de presos políticos. Segundo o coronel, para evitar que fossem encontrados, os agentes dos serviços de repressão jogavam os mortos em rios, em sacos impermeáveis e com pedras de peso calculado. Isso impedia que afundassem ou flutuassem.
O ventre da vítima também era cortado, evitando assim que inchasse e voltasse à superfície. O objetivo era criar condições para que o corpo fosse arrastado pelo rio. No caso de serem encontrados, os restos mortais dificilmente seriam identificados, porque os militares tomavam a precaução de arrancar as arcadas dentárias e os dedos das mãos, antes de lançá-los às águas.
Essas informações foram divulgadas nesta sexta-feira (21) pelo repórter Chico Otávio, do jornal O Globo, que teve acesso a trechos das declarações. Elas estão localizadas na primeira parte das gravações feitas pela comissão, nas duas visitas que fez à casa do coronel. No total foram gravadas 17 horas de conversa. Desse total, ainda existem 7 horas que não foram integralmente degravadas. Nelas, o coronel trata sobretudo de sua ação na Guerrilha do Araguaia.
O coronel Malhães foi uma peça das mais importantes na engrenagem do Centro de Informações do Exército (CIE), que atuava na área de informação e repressão. Integrava o núcleo mais duro da instituição, ao lado de Freddie Perdigão Pereira e Ciro Guedes Etchegoyen, entre outros oficiais. Também atuou na Casa da Morte, o maior centro de tortura e desaparecimento de presos políticos do País entre 1971 e 1973; e na Guerrilha do Araguaia, no Sul do Pará.
O presidente da Comissão Estadual, advogado Wadih Damous, vai encaminhar cópias do depoimento ao Ministério Público Federal e à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Ele disse ao Estado que as informações dadas pelo coronel reformado ainda precisam ser melhor analisadas e cotejadas com outros depoimentos.
“Foi um depoimento relevante, de um quadro qualificado da repressão política, que esteve envolvido em diversos episódios da época, entre eles o desaparecimento do deputado Rubens Paiva, a idealização da Casa da Morte e a Guerrilha do Araguaia”, afirmou. “Sua palavra tem que ser levada em conta. Talvez esteja apontando o caminho adotado pela ditadura em sua política de desaparecimentos. Mas é preciso também cruzar os dados para verificar sua veracidade. Particularmente não estou satisfeito com a informação de que o corpo do deputado Rubens Paiva foi jogado ao mar. Não digo que ele está mentindo, mas também não afirmo que seja tudo verdade.”
O advogado destacou no depoimento do coronel a seguinte declaração: “Podem escavar o Brasil todo, mas não vão achar ninguém, por nós desaparecemos com todo mundo.”
As dúvidas sobre a veracidade das informações do coronel do antigo CEI devem-se sobretudo ao fato de não ter apresentado nenhum documento comprovando sua veracidade. Ele se baseou exclusivamente na memória e, em diversos momentos, confundiu fatos.
http://blogs.estadao.com.br/roldao-arruda/torturadores-arrancavam-arcadas-dentarios-e-dedos-para-impedir-identificacao-dos-mortos-conta-agente-da-repressao/

segunda-feira, 3 de março de 2014

PAÍS COMEÇA A ENXERGAR A FRAUDE QUE FOI A AP 470

Julgamento do mensalão começa a ruir

A cada dia que passa avolumam-se os indícios de que, como em uma espécie de reação biológica a infecções, a sociedade e as instituições democráticas vão rejeitando, pari passu com o mundo jurídico e com as instituições (imprensa incluída), os abusos e as ilegalidades perpetrados ao longo do julgamento da Ação Penal 470, vulgo julgamento do mensalão.
Ainda que a opinião publicada – que se pretende opinião pública – ainda resista, ainda que grupos de interesse continuem refestelados e se regozijando com a condenação retórica e formal de cidadãos brasileiros à prisão sem o necessário amparo de provas, a grita dos setores mais racionais contra um processo espúrio que a todos preocupa vai aumentando de volume e já ameaça tornar-se ensurdecedora.
Há cerca de um ano, a reversão dessa anomalia democrática parecia impossível. Hoje, ainda parece improvável. Mas cada vez menos…
Ainda assim, seguem ruidosos os entusiastas de condenações seletivas de pessoas ao cárcere, ou seja, de condenações levadas a cabo sob critérios forjados na medida para alguns, como em uma espécie de exceção institucional que se pensava ser possível aplicar sem que, no entanto, tal golpe na democracia afetasse mais seriamente o organismo institucional.
Como diriam os mais jovens, porém, não está “rolando”. A persistência dos que se dispõem a resistir, aliás, ganha simbolismo através de um grupo de cidadãos que acampou diante do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, a fim de protestar contra condenações sem provas. E que prometem não sair de lá até que seja vislumbrável alguma luz no fim do túnel.
Esses cidadãos têm vivido um verdadeiro inferno. Privações, ameaça de violência de grupos radicais, mas não arredam pé. Algumas horas antes de este texto se escrever sozinho, cerca de 20 homens atacaram o acampamento diante do STF e, munidos de porretes, destruíram barracas, agrediram até mulheres e foram embora.
Todavia, os que denominam seu acampamento diante do STF como “trincheira”, prometem persistir.
A esses, juntam-se juristas de renome, advogados, filósofos, jornalistas da dita “mídia alternativa”, entre muitos outros. Começaram sozinhos essa resistência, mas agora ganham a companhia de novos ministros do Supremo que também enxergam os malfeitos na primeira fase do julgamento do mensalão (em 2012) e que já estão reformando decisões.
Como se fosse pouco, até na grande mídia vai se tornando comum encontrar textos opinativos e até reportagens que, até há alguns meses, eram censurados. Na semana passada, um desses textos causou rebuliço.
No jornal O Estado de São Paulo, um repórter denúnciou que o ministro Joaquim Barbosa e alguns de seus pares teriam exagerado na dosimetria das penas dos condenados pelo julgamento do mensalão de modo a que fossem confinados a regime fechado. Essa matéria, somada à rejeição da tese de quadrilha, constitui-se em uma bomba de efeito retardado.
Contudo, um texto publicado no primeiro dia útil desta semana na Folha de São Paulo excede tudo o que a grande imprensa, de uns tempos para cá, passou a publicar em termos de questionamento ao julgamento do mensalão e, assim, expõe ao grande público talvez o que seja a maior prova da ilegalidade desse processo.
O colunista da Folha Ricardo Melo escreveu, no texto “Começar de novo” (3/3), pedido de que o julgamento seja refeito. Mas não foi só: ainda discorreu sobre um tema que, até então, estava proibido na grande imprensa. Escancarou informações sobre o inquérito 2474, conduzido paralelamente à investigação que originou a AP 470.
A grande maioria do público dos grandes jornais deve ter ficado perturbada e desorientada ao ler na coluna de Melo na Folha que “O inquérito 2474 não é um documento qualquer” e que está “Repleto de laudos oficiais” e “Investigações da Polícia Federal” que permitiriam aos réus do mensalão “Rebater argumentos decisivos para sua condenação”.
“Como assim?”, devem estar se perguntando os que só se informam pela grande mídia…
Primeiro, ficam sabendo, através do Estadão, que o “heroico” Joaquim Barbosa, com a colaboração exclusiva dos juízes que condenaram os réus, manipulou a dosimetria das penas. Agora, os leitores de uma Folha ficam sabendo que há um segundo inquérito que pode conter provas, por exemplo, de que não houve dinheiro público envolvido no mensalão.
Enquanto os bate-paus (contratados e espontâneos) dos partidos antipetistas continuam repetindo, pavlovianamente, palavras de ordem (petralhas, mensaleiros, bandidos etc.) valendo-se das condenações em um processo tão questionado a fim de desqualificar qualquer argumentação contrária, o julgamento da Ação Penal 470 começa a fazer água.
Barbosa, Gilmar Mendes, o PSDB, o DEM, o PPS e os setores da grande mídia que ainda apostam na sobrevivência daquele julgamento de exceção, entre outros, já admitem que, após todos esses fatos e a queda da tese de formação de quadrilha, “um processo” pode estar começando.
Nota: eles se referem a processo de anulação do julgamento do mensalão.
Diante disso tudo, uma reflexão: muitos, com boa dose de razão, questionam a democracia brasileira. Para os mais radicais, em nosso país não haveria democracia de verdade. Particularmente, discordo. O que é a democracia se não o fenômeno que está minando, paulatinamente, um julgamento viciado como o da AP 470?
Democracia, antes de tudo, é a possibilidade de se dizer o que se quiser a quem quiser ouvir. Muitas vezes, não chega a ser o ideal. Alguns usam mal esse direito, como os que pregam na internet até golpes de Estado. Abertamente. Porém, esse direito também serve para divulgar trapaças como as praticadas por setores do STF ao longo do julgamento do mensalão.
Finalizo, pois, recorrendo a um antigo clichê, mas que, neste momento, parece fazer mais sentido do que qualquer outra coisa: a democracia seguramente não é o melhor sistema de organização política, mas ainda não inventaram outro melhor. Seu grande mérito é impedir que qualquer pensamento ou fato sejam sonegados. Não é pouco.
http://www.blogdacidadania.com.br/2014/03/julgamento-do-mensalao-comeca-a-ruir/

JOAQUIM VAI ACABAR NO LUGAR DA SHEHERAZADE...

Qual a diferença, na essência, entre o “alerta à nação” de Barbosa e a defesa dos justiceiros de Sheherazade?

Postado em 02 Mar 2014
barbosa

Qual a diferença, na essência, entre o último discurso de Joaquim Barbosa no STF e a clássica defesa dos justiceiros proclamada por Rachel Scheherazade?
Bem pouca. Em ambos os casos está embutido um descrédito nas instituições, uma vontade de espalhar o pânico e a vontade de fazer justiça com as próprias mãos.
Barbosa se sentiu no dever de informar os brasileiros de que corremos perigo. “Sinto-me autorizado a alertar a nação brasileira de que este é apenas o primeiro passo. Esta maioria de circunstância tem todo tempo a seu favor para continuar nessa sua sanha reformadora. Essa maioria de circunstância formada sob medida para lançar por terra todo um trabalho primoroso, levado a cabo por esta corte no segundo semestre de 2012″, declarou.
Alerta? Primeiro passo para o quê? O bolchevismo? O aparelhamento do Supremo pelo PT? Ele sugere uma mudança na forma como os ministros do Supremo são indicados? Vale para ele, que foi indicação de Lula?
“Ouvi argumentos tão espantosos como aqueles que se basearam simplesmente em cálculos aritméticos e em estatísticas totalmente divorciadas da prova dos autos, da gravidade dos crimes praticados e documentados nos autos dessa ação penal”, disse.
“Ouvi até mesmo a seguinte alegação: ‘Eu não acredito que esses réus tenham se reunido para a prática de crimes’. Há duvidas de que eles se reuniram? De que se associaram? E de que essa associação perdurou por mais três anos? E o que dizer dos crimes que eles praticaram e pelos quais cumprem pena?”
Terminou com um lamento teatral: “Esta é uma tarde triste para o STF. Com argumentos pífios, foi reformada, jogada por terra, extirpada do mundo jurídico uma decisão plenária sólida, extremamente bem fundamentada, que foi aquela tomada por este plenário no segundo semestre de 2012.”
De alguma maneira, JB está em sintonia com os novos tempos, em que criminosos ou supostos criminosos são presos a postes por uma multidão inconformada com o estado das coisas. Ele berra, ele ofende, ele quer resolver na porrada, no grito.
Agora, como é um perdedor, o próprio Jornal Nacional destacou apenas a “tarde triste” de sua diatribe. JB decepcionou seus patrocinadores na Globo e os patrocinadores não têm espaço para cavalos mancos.
Deixando o STF, seu lugar pode ser numa bancada do SBT, alertando a nação sobre seja lá o que se passar por sua mente delirante, alimentado pela intolerância e a raiva eterna de tudo que não pode controlar. Uma Sheherazade um pouco mais fofa.
Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/qual-a-diferenca-na-essencia-entre-o-alerta-a-nacao-de-barbosa-e-a-defesa-dos-justiceiros-de-sheherazade/

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

SE NÃO HOUVE QUADRILHA, O QUE FOI MESMO O "MENSALÃO"?

TEORI ENTERRA CRIME DE “QUADRILHA”.
CHORA, BARBOSA !

Lula não é chefe de quadrilha, viu, Ataulfo ?
Teori considerou que Genoino e Dirceu não estavam juntos para praticar crimes contra o sistema 
financeiro.

Não está presente o dolo específico.

Teori se valeu de voto de Celso de Mello para espinafrar “inflação” da pena de Dirceu para evitar 
a prescrição, como fez Barbosa.

Teori assegurou o sexto voto da nova maioria.

Em tempo: 
o voto de Gilmar Dantas (*) não foi um voto. Foi um discurso de palanque. 

Começou com uma bizarria: que tentaram transformar o Supremo numa corte bolivariana … 
(Nem o Ataulfo foi tão longe …) Acusou o PT de querer acabar com os partidos… 
Chamou o Dirceu de delinquente. Que fazia parte de uma quadrilha armada nos subterrâneos 
do Poder (ou seja, Lula é o quadrilheiro-mor …). 

Tinha a voz rouca do choro. O choro da minoria irrelevante. 

Sobre a última do Gilmar, leia aqui: ele vai “julgar”o Demóstenes… 


Paulo Henrique Amorim
http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2014/02/27/teori-enterra-crime-de-quadrilha
-chora-barbosa/

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

ATÉ A FOLHA PUBLICA DEFESA DAS "VAQUINHAS" PARA PRESOS-POLÍTICOS!

A quem o povo assusta?

Ricardo Mello, colunista da Folha de S. Paulo
Imagine o cenário. Vencido o prazo para os condenados da AP 470 pagarem as multas, nenhum apareceu. José Genoino, olhe só, alegou que o valor supera o preço de sua casa. Os outros tampouco respeitaram a sentença. O que aconteceria?
Pelo que se tem lido e ouvido, batata. "Mensaleiros do PT desprezam Justiça." Ou então: "Além de truculentos e corruptos, petistas dão calote no Tesouro". Ou parafraseando aquele ministro falastrão: "Eles merecem mais que o ostracismo: ademais de incomunicáveis, precisam apodrecer na cadeia e receber apenas uma refeição por dia. E mais: entrar para sempre na lista negra da Serasa!".
Outra hipótese. Com dois ou três telefonemas, ou num regabofe no coração de Higienópolis, condenados se acertam com a banca e o dinheiro surge em segundos – o tempo de uma TED. Formalmente, tudo dentro da lei: não é crime receber auxílio para pôr contas em dia. Para os banqueiros, seria apenas uma gorjeta diante de lucros nunca antes imaginados. O juízo midiático, contudo, também seria inapelável. "Cai a máscara: bancos ajudam 'companheiros' a pagar multas."
Surpresa (ou decepção) para muitos: nada disso ocorreu. Sem afrontar instituições, sem desrespeitar qualquer direito (diferentemente do que ocorre com os dos condenados), Genoino e cia. agiram como deveria ser habitual num partido de raízes populares: recorreram à militância. Quem se assustou? Todo mundo para quem não passa pela cabeça alguém doar dinheiro por acreditar em alguma coisa, alguma ideia, algum futuro.
A reação mostra o grau de envenenamento do clima político atual. Partiu-se para a troça. Alguns leitores pediram desde uma vaquinha para honrar carnês até auditoria implacável nas doações. Houve mais. Embaladas como coisa séria, reportagens acusaram os petistas de arrecadar mais dinheiro que a Pastoral da Criança! O que tem a ver uma coisa com a outra? Por acaso a Pastoral está em campanha? Pareceria mais razoável comparar o orçamento dessa ONG com fundos auferidos pelo Criança Esperança – mas aí a coisa complica diante do calibre dos interesses envolvidos.
O deputado tucano Jutahy Magalhães Júnior, por sua vez, exagerou no ridículo. "Isso é um acinte, um deboche." Por quê? Talvez porque os condenados, em vez de seguir o recém-divulgado manual de propinas de empresas como a Alstom, optaram pela arrecadação popular e voluntária.
Não há anjos em política, mas a democracia em vigor prevê o respeito a decisões judiciais, até num caso polêmico como a AP 470. A democracia não obriga, contudo, ao conformismo bovino – exceto no caso da vigência de ditaduras disfarçadas ou quando se está sob o tacão de juntas togadas travestidas de supremas.
Muito ainda vai se falar da campanha de doações petista. Pode ser que impropriedades tenham sido cometidas. Mas certamente nada tão grave, por exemplo, como a montanha de denúncias fartamente documentadas no livro primoroso do jornalista desta Folha Rubens Valente, "Operação Banqueiro". Como se sabe, a obra desvenda relações promíscuas entre Poderes da República e o personagem Daniel Dantas. Investigá-las ou não fica ao gosto do freguês.
Feitas as contas, o mais sincero entre os apavorados foi o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha. Como se discute o financiamento público nas eleições, o deputado sentiu a água subir: "Só o PT vai ter dinheiro. Se da cadeia ele arrumou isso, imagina da Esplanada".
Qual o "crime" do partido? Para o deputado, o PT é o único com militância suficiente para arrecadar grandes quantias em defesa de ideais. Em vez de fazer o mesmo e disputar apoiadores entre o povo, a turma suprapartidária de Cunha prefere levantar dinheiro na surdina para melhor abafar suas próprias causas. 
ricardo melo
Ricardo Melo, 58, é jornalista. Na Folha, foi editor de 'Opinião', editor da 'Primeira Página', editor-adjunto de 'Mundo', secretário-assistente de Redação e produtor-executivo do 'TV Folha', entre outras funções. Atualmente é chefe de Redação do SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). Também foi editor-chefe do 'Diário de S. Paulo', do 'Jornal da Band' e do 'Jornal da Globo'. Na juventude, foi um dos principais dirigentes do movimento estudantil 'Liberdade e Luta' ('Libelu'), de orientação trotskista.