quarta-feira, 23 de novembro de 2011

QUEM SÃO OS "SEM-PARTIDO DA USP"

Antônio David: Na USP, o choro do derrotado

por Antônio David
Não é de hoje que a turma da direita procura desesperadamente os holofotes e microfones da imprensa para se autoproclamar os representantes da “maioria”, os que vieram para salvar os estudantes contra a “esquerda radical” que, segundo eles, toma conta do movimento estudantil da USP.
No dia seguinte mesmo da ocupação da Administração da FFLCH, alguns estudantes de direita postaram-se em frente do prédio ocupado, procurando as câmaras de TV para fazer o discurso que já conhecemos: que este movimento estudantil é uma minoria, e que eles são os verdadeiros porta-vozes da “maioria”.
Esqueceram-se os colegas de dizer que na última eleição para o DCE da USP, eles, porta-vozes da “maioria”, tiveram apenas 5% dos votos, num universo de mais de 8 mil votos. Onde estava a “maioria”, que não votou neles? Que eu saiba, a “maioria” não tem porta-vozes oficiais e não deu procuração a ninguém pra que fale em nome dela.
Seu principal líder é Rodrigo Souza Neves, estudante de História até ano passado e agora estudante de Gestão de Políticas Públicas, amplamente conhecido como “Malufinho”. O motivo? A foto, no final desse artigo. Se falo dele, é porque ele é de fato o líder, articulador, porta-voz e figura pública do grupo. A crítica não é personalista; o grupo é que parece ser.
Há alguns dias, durante uma reunião do Conselho de Centros Acadêmicos em Ribeirão Preto, Malufinho gabava-se dizendo que sua chapa “ganharia fácil” a eleição do Centro Acadêmico. Eu estava lá, e ouvi ele dizer isso. Pois bem, a eleição já aconteceu, e a chapa do Malufinho perdeu de lavada. A chapa concorrente teve mais que o dobro de votos. Nem no seu próprio curso Malufinho é maioria.
Agora que estamos em greve, com mais de 50% do campus Butantã parado (vale lembrar, o maior campus da USP), Malufinho e sua turma estão esperneando, dizendo que o adiamento da eleição foi golpe. Malufinho só esqueceu de dizer que ele não apenas estava na assembleia que deliberou pelo adiamento da eleição, como defendeu a proposta de não adiar a eleição. Todos ouviram sua defesa, e ele teve o mesmo tempo dado aos outros para defender sua proposta. Como pode, uma pessoa defender uma proposta, perder, e depois sair dizendo “é golpe”? Se é golpe, o coerente não seria ter dito que aquela votação não poderia acontecer? Mas Malufinho e sua turma parecem não se preocupar com a coerência.
Aos que não estavam na assembleia, um dado curioso: a votação foi mais ou menos 3 mil contra 10. (Isso mesmo, votaram contra o adiamento da eleição só os membros da chapa da direita que estavam na assembléia, umas dez pessoas. Os demais 3 mil votaram pelo adiamento da eleição). Essa deve ter sido a votação mais folgada da história das assembleias dos estudantes da USP.
Atentado à democracia é haver uma eleição no meio de uma greve tão grande, com tanta adesão. Se a eleição ocorresse na data original, um imenso contingente de estudantes não teria condições de votar, dada a impossibilidade de organizar a eleição e de organizar as atividades de greve ao mesmo tempo. Precisa dizer? Uma criança de dez anos é capaz de entender isso. Além disso, não há absolutamente nada no Estatuto do DCE que impeça uma assembléia de mudar a data da eleição numa situação como a que estamos vivendo. Mas Malufinho e sua turma parecem ignorar isso tudo.
Agora eles evocam o Estatuto do DCE. Que ironia! Pois, não bastasse Malufinho interpretar o Estatuto de maneira equivocada, ele se esquece que, segundo o Estatuto, a diretoria do DCE deve seguir as deliberações aprovadas nas instâncias do DCE (Art. 7), a saber, o Congresso dos Estudantes da USP, as Assembleias e o Conselho de Centros Acadêmicos. Será que Malufinho e sua turma reconhecem essas instâncias? Como eles inscreveram uma chapa, pressupõe-se que sim. Será? É duvidoso, haja vista o tanto de ataques que eles fazem contra as deliberações dessas instâncias.
Há alguns dias, a imprensa divulgou uma pesquisa feita pelo Datafolha, que supostamente dá razão para Malufinho e sua turma. A chamada em um jornal de grande circulação foi: “Pesquisa indica que maioria dos alunos da USP é a favor da PM no campus”. No entanto, uma leitura mais atenta mostra que não é bem assim.
Segundo o Datafolha, 58% dos entrevistados são a favor da presença da PM no campus. É possível que entre os docentes o percentual seja o mesmo. Mas, se os trabalhadores do campus tivessem sido entrevistados, muito provavelmente este percentual seria muito mais baixo. Sobretudo se a entrevista tivesse contemplado os trabalhadores terceirizados, muitos dos quais moradores da favela São Remo, que fica ao lado da USP, e que são vítimas diariamente da truculência e dos abusos policiais.
Mesmo se desconsiderarmos essa falha grosseira na pesquisa – afinal, os trabalhadores também são usuários do campus e também necessitam de segurança tanto quanto os estudantes -, ainda assim o resultado é favorável para os críticos da presença da PM no campus. Afinal, com a campanha violenta e diária que a mídia está fazendo contra nós, marcada pelo esforço de estigmatizar nosso movimento e de fazer o elogio da presença da PM no campus, este percentual deveria ser de no mínimo 90%.
Não é à toa que Malufinho e sua turma não vibraram quando saiu o resultado da pesquisa. 58% representa uma derrota para a Reitoria e uma vitória para o nosso movimento. Pois o que os estudantes querem não é a PM no campus; mas sim, segurança. E se muitos ainda acreditam que segurança rima com PM, não é porque a PM traga segurança, mas sim porque nós somos todos os dias bombardeados com mau jornalismo, que, de forma tendenciosa e antiética, ataca nosso movimento e faz a apologia da Polícia Militar.
É sintomático, aliás, que essa mesma pesquisa tenha mostrado que 79% dos entrevistados têm medo de andar pelo campus à noite. Ora, como têm medo, se agora a PM faz rondas ostensivas no campus? Sintoma de que os reais problemas de segurança do campus não foram resolvidos. De fato, não o foram. E não serão, enquanto Rodas for Reitor e enquanto não houver uma estatuinte paritária na USP, que abra a estrutura de poder feudal dessa universidade.
Isso tudo pra dizer que a mídia não apenas manipula as informações; ela inverte a realidade. Defesa da democracia e atentado à democracia parecem na mídia ocupar o lugar um do outro. Há alguns dias, Alckmin afirmava que “os estudantes precisam de uma aula de democracia”. No entanto, a Assembleia Legislativa nunca investigou nenhuma denúncia de corrupção contra seu Governo. Vivemos na era do cinismo.
Não poderia deixar de encerrar este artigo sem compartilhar essa bela foto, de Malufinho prestando solidariedade a seu grande mestre, no Encontro Estadual do PP em 2009. O site de onde copiei a foto está AQUI.  (Aproveitem para guardar essa recordação (rs), antes que eles tirem do ar!)
O que dizer de Maluf? Não falarei das denúncias e dos processos que Paulo Maluf responde na Justiça. Todos já os conhecem. Lembrarei de algumas frases imemoriais, de sua autoria:
- Os EUA não têm AI-5; têm cadeira elétrica.
- Professora não é mal paga; é mal casada.
- O que fazer com um camarada que estuprou uma moça e matou? Tá bom, está com vontade sexual, estupra, mas não mata.
- O Collor é um bom rapaz, mas não aceitem atravessadores. Se quiserem um malufista, votem em mim.
- Nossa polícia é boa. O que atrapalha é essa política de direitos humanos para bandidos.
- Não se pode comprar deputados, porque eles saem por aí contando, e você se desmoraliza com o eleitorado.
- Vou pôr a ROTA na rua.
Com a palavra, Malufinho…
Antônio David é mestrando em filosofia na FFLCH/USP
PS 1 do Viomundo: Malufinho é o jovem de camisa azul, terno e gravata, com a mão no ombro do original. O autor do apelido é Ramos Toledo, que foi veterano de Rodrigo Souza Neves na História da USP, na época em que este organizou a sua primeira chapa para o CAHIS (Centro Acadêmico da História):  “Lancei o apelido em uma de suas intermináveis colocações sobre o perigo marxista que rondava a universidade!”

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