sexta-feira, 4 de novembro de 2011

CÉSAR MAIA (DEM) TENTA ENTENDER O PSDB

O QUE É A CRISE NO PSDB?
                     
1. A mudança de tom de José Serra, passando de um discurso administrativo-econômico para um discurso político de oposição pela esquerda, veio acompanhada pela nova vocalização do senador Aloysio Nunes, que passa por seu porta-voz. Uma interpretação mais imediata seria uma reação impulsiva à derrota eleitoral e a perda de mandato. Uma segunda -mais destacada por seus pares e pela imprensa- é a disputa antecipada pela liderança em 2014.
                      
2. Mas, independente dos graus de acertos destas duas interpretações, há um pano de fundo que é muito mais complexo: a determinação de Serra, Nunes..., de empurrarem o PSDB para o campo da esquerda. No início de 2010, numa conversa, Serra dizia que sua disposição na redemocratização era estar na formação do que seria o PT. Teria conversado isso com o Lula. Mas a sindicalização do novo partido o afastou desse projeto.
                      
3. Terminou no PMDB de Franco Montoro, de quem foi secretário, cuja equipe paulista aglutinada na Constituinte, deu origem ao PSDB. Franco Montoro, desde antes de 1964, era o líder mais expressivo da Democracia Cristã brasileira, tendo fortes vínculos internacionais com as DCs da Itália e do Chile. E essa foi a marca que acabou adotando o PSDB, prevalecendo as ideias de seu inspirador.
                      
4. No governo FHC isso ficou claro, com a adoção de uma linha social-liberal própria das democracias-cristãs. Mas Serra, no governo, sempre foi um dissidente, e seus conflitos explícitos com o presidente do Banco Central, Gustavo Franco, exemplificam essa dissidência. Não é segredo que, na campanha de 2002, nem Serra tratava com entusiasmo, nem FHC mostrou qualquer empenho em sua candidatura.
                      
5. Agora mesmo, nas reuniões do DEM-FLC com a CDU-KAS em Berlim e com a FAES-PP em Madrid, isso ficou claro, nas avaliações conjuntas da política brasileira. O PSDB, para dentro, é social-liberal e, para fora, é socialdemocrata, fazendo as fotos e imagens com os líderes -ditos- socialistas europeus. Esse hibridismo é inaceitável para o Centro (Die Mitte) do CDU, ou (Centro) do PP.
                      
6. A projeção de um conflito ideológico no PSDB, com uma visão de esquerda patrocinada por Serra-Nunes, não trará resultados práticos para eles. Então o que pensam como "derivada segunda? Imaginar que seja o PSD, seria um híbrido social-ruralista-clientelista, inimaginável. Agregar-se ao PT seria uma aventura, pois o ônibus está cheio, especialmente em projetos presidenciais. Ir para o PPS seria mais acomodável (Afinal, o cineasta PPSista Silvio Tendler deu um destaque a ele no documentário sobre Tancredo, quando ele ainda era -na época- secretário de planejamento de Montoro e nada teve com a ascensão de Tancredo. Aliás, Tendler se esqueceu do PFL, decisivo para a eleição de Tancredo pelo Congresso).
                      
7. O PT já sentiu isso e ofereceu ao senador Aloysio Nunes um holofote de esquerda como relator que foi da Lei da Comissão da Verdade e conta com ele na votação do Código Florestal. Mas há um cheiro no ar de que -por esses conflitos ideológicos- a convivência partidária será como a de um casal nos meses antes da separação. Brizola, que sempre afirmou que Serra estava à esquerda do PSDB, diria: Serra está costeando o alambrado.

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