ESTARÁ O PT À ALTURA DO MOMENTO HISTÓRICO?
Antonio Barbosa Filho
DELFT (Países-Baixos) - A cassação do mandato de Juninho Ortiz - na qual muitos não acreditavam - colocou enormes responsabilidades sobre o principal partido de oposição, o PT. Tendo chegado ao segundo turno nas eleições fraudadas de 2012, cabe ao Partido dos Trabalhadores, agora, saber usar a oportunidade histórica de tentar chegar ao poder municipal e começar a restaurar a combalida confiança dos taubateanos na Política e nas instituições públicas.
A situação exige uma altíssima capacidade de compreensão dos fatos e de suas consequências para a cidade. Pode-se dar um grande passo adiante, mas pode-se também retroceder a um passado terrível, dando continuidade a uma crise que já dura quase nove ou dez anos.
Sabemos que o PT é um partido democrático, onde convivem diversas tendências e grupos. Praticamente, só Lula os une - no mais, cada parcela tem uma visão política, indo do centro-esquerda à extrema. É salutar esta pluralidade interna, desde que ela não atrapalhe os objetivos estratégicos de um partido que tem mais de três décadas de vida e a enorme responsabilidade de governar o Brasil, com muito mais acertos do que erros. É preciso que o PT de Taubaté esteja à altura dessa imensa responsabilidade e não jogue no lixo a oportunidade que a História lhe dá.
Até novembro o PT vive seu processo de renovação de direções em todos os níveis. É natural que cada grupo exponha suas plataformas, e o debate se aqueça, chegando à divergência mais aguda. Mas nenhum dos setores do Partido tem o direito de colocar em risco a possibilidade da chegada ao poder municipal, o que depende, primordialmente, de uma sólida unidade. Vença quem vencer a disputa pelos cargos de direção, no dia seguinte os petistas precisam abraçar-se e partirem unidos para a luta eleitoral. Afinal, isso interessa a toda a população, e não apenas aos filiados ao Partido de Dilma Roussef. Quem jogar na divisão estará servindo ao adversário, que é a direita mais corrupta e anti-social que o Brasil já conheceu.
CENÁRIO
Apenas como hipótese de análise, baseada nos quadros que hoje mais de destacam no PT de Taubaté, tracemos um cenário possível para a organização petista diante do pleito que se avizinha. Levo em consideração que todas as principais lideranças merecem ser prestigiadas e contempladas com espaço político, interna e externamente ao partido.
Isaac do Carmo teve desempenho modesto na eleição de 2012, o que não lhe tira o mérito da luta e dedicação. Perdeu também a disputa pelo Sindicato dos Metalúrgicos, em cuja direção a partir de novembro terá um mínimo espaço. Pelo que sei de amigos comuns, estaria se preparando para disputar uma cadeira na Assembléia Legislativa, aproveitando-se da notoriedade que obteve como candidato a prefeito, e dos laços que tem com prefeitos e vereadores petistas das cidades vizinhas. É uma pretensão mais do que justa, e Isaac tem todas as condições de conseguir uma bela vitória, que seria extremamente positiva para Taubaté.
O vereador que mais tem se destacado no PT, e na Câmara como um todo, é Salvador Soares. Tem sabido diferenciar-se da geléia-geral em que se transformou o Legislativo, onde vereadores chamam o prefeito cassado de "meu chefe", "meu líder", numa submissão que beira a falta de decoro parlamentar: vereador não existe para bajular outro Poder, mas sim para exercer independência, em nome do povo que o elegeu.
Seria ótimo vermos o Salvador exercendo a liderança do futuro prefeito do PT, e conquistando ainda mais experiência e popularidade, credenciando-se para outros passos maiores (deputado ou mesmo prefeito) a partir de 2016 ou 2020 - ele tem a vantagem de ser bastante jovem.
A vereadora Vera Saba, outra promessa do PT, mas que ainda não se confirmou como a lutadora aguerrida que esperávamos, poderia continuar na Câmara, ou participar de uma administração petista em função ligada à Promoção Social ou à defesa do emprego e dos trabalhadores, sindicalista que é. No caso de o PT preferir uma chapa puro-sangue (o que seria um equívoco, na minha visão, já que a coligação com o PMDB foi importante em 2012 e seria de todo conveniente agora) ela poderia até voltar a ser candidata a vice-prefeita, cargo que já exerceu com enorme dificuldade, marginalizada que foi pelo ex-prefeito Roberto Peixoto.
Finalmente, no meu ponto de vista (e respeitando os contrários pois aqui fala um mero observador) o nome para prefeito que melhor pode representar o PT é o do ex-prefeito e ex-deputado Salvador Khuriyeh. Hoje trabalhando na Secretaria dos Transportes da capital, como diretor da SPTrans, empresa que administra 15 mil ônibus e está iniciando uma revolução na mobilidade urbana, Salvador nunca deixou de residir em Taubaté, de viver seus problemas e de sonhar com soluções. Desde que deixou a Prefeitura, o engenheiro Salvador estudou muito, aprendeu em funções estratégicas (foi assessor da bancada do PT na Assembléia Legislativa, convivendo com ex-prefeitos e figuras ilustres da política paulista) e amadureceu como homem e como político.
Já ouvi dizer que Salvador tem alto índice de rejeição. Duvido disso, e duvido que exista alguma pesquisa séria que indique isso. Ao contrário, conheço inclusive eleitores muito conservadores que admiram e apoiam Salvador, porque ele fez uma boa administração e saiu da Prefeitura com alta taxa de aprovação popular. Quem não gosta de Salvador são os Ortizes que, aliás, só gostam de si mesmos. As calúnias lançadas por Ortiz pai contra Salvador são iguais às que lançou contra seus vice-prefeitos e seus sucessores: "bom mesmo é quem tem o sobrenome Ortiz, o resto não vale nada".
Creio que um esquema como este, ou parecido com este, poderia unir o PT, atrair o PMDB e talvez algum outro partido menos dominado pelos Ortizes, e conquistar a maioria do eleitorado. Lembro que não teremos segundo-turno, e que o futuro prefeito poderá ser vitorioso com algo como 35 ou 40% dos votos, conforme a divisão dos demais.
Enfim, trata-se de uma chance preciosa, que Taubaté precisa aproveitar para limpar-se da sujeira e acabar com a guerra que caracterizou sua vida política nos últimos anos. Fica minha modesta sugestão aos companheiros petistas, pedindo-lhes que não a descartem de pronto: analisem, ponderem e proponham caminho melhor, caso o encontrem.
O que não pode acontecer, sob pena de um crime histórico, é o PT se perder em picuinhas, ciumeiras, ambições pessoais de seus líderes. O momento é este, para mostrar maturidade. A bola está quicando na área; será que o PT saberá marcar o gol pelo qual Taubaté inteira torce?