Espera-se que ainda haja, na Câmara, alguém que, na terça-feira, tenha a coragem de dizer aos líderes da oposição que Eduardo Cunha é cria deles.
Porque foi com os votos deles que Cunha se tornou presidente da Câmara, sem o que o escândalo em que está metido seria mais um entre as dezenas de imbroglios em que senhores deputados e senadores estão metidos, neste lodaçal que o dinheiro fez espalhar-se na política brasileira.
Alguns, até, tentaram livrar a cara, dizendo que apoiavam o pessebista Júlio Delgado, mas demistas, tucanos e suas sublegendas descarregaram em peso seu apoio e lhe deram a vitória em primeiro turno, ainda, na escolha do terceiro na linha sucessória. Sabiam que teriam, com ele, um conspirador, o Sabotador Geral da República, como chegou a ser chamado, quando a sua sombra projetou o país na escuridão mental desprezível, que ia desde encarcerar menores até legalizar a propina eleitoral nas campanhas.
Assim como sabiam, e Brasília inteira sabe, que Eduardo Cunha é velho adepto da arte da escroqueria.
Acaso imaginam que a opinião pública, ainda que com todas as omissões da mídia, acreditará que o homem que os liderou e fez da Câmara tudo o que quiseram não tinha nada senão uma “amizade colorida” com o tucanato?
Esqueceram-se das reuniões, dos planos, dos acertos para a pantomima arranjada de fazê-lo “recusar” os pedidos de impeachment e votar, com o apoio do “cunhismo” um recuso para aceitá-lo, num jogo de cartas marcadas da esperteza?
Resistiram até agora e só deixam a “nau cunhal” quando o seu naufrágio tornou-se inevitável.
Há de ter sobrado no Parlamento que lhes atire isso ao rosto e lhes diga: Não, senhores, não adianta. Tomem, que o Cunha é seu.
Aproprio-me das imagens das capas das três “grandes” revistas semanais, reproduzidas no Facebook de Fernando Morais. Salvo por duas pequenas notas na capa da Istoé e da Época – “nadica de nada” na Veja – o leitor que tiver passado algum tempo em Marte, olhando os córregos que a Nasa descobriu por lá, haverá de pensar que Eduardo Cunha, que era o todo-poderoso “dono” da Câmara, não existe mais.
A “força súbita”, que a Veja via nele – olhe a capa do final de março – virou “morte súbita”?
Ele não é mais o homem que vai derrubar o Governo, colocando o impeachment a ser votado?
Não, ele é um cadáver insepulto no meio da sala da oposição e que não vai sair de imediato dali, como rapidamente o retiraram das capas de suas revistas.
E não há lençol que lhe esconda o fedor.
Embora o Fernando Morais – com toda a razão, aliás – chame a atenção para o fato de que as capas atacando Lula serem ” a merecida paga que o PT recebe por ter, durante doze anos, chocado o ovo dessa serpente com verbas publicitárias do estado”, eu prefiro destacar outra forma de olhar.
As contas de Cunha na Suíça – mais que as delações de sua propinagem, que se arrastariam num processo necessariamente longo no STF , nada parecido com os rallies de Sérgio Moro no Paraná, foram o prego no caixão da tentativa de depor, imediatamente, Dilma Rousseff , por conta da composição com o PMDB, que dá arrepios aos puristas que não se pejavam em aliar-se e bajular o presidente da Câmara, um homem, naturalmente, de trajetória limpíssima e ideias humanistas e modernas como as dos jovens rapazes de sua redação, amém.
O que vejo é que se transferiu a mira dos canhões para mais acima: Lula 2018.
Não que vão abandonar as escaramuças, pelo contrário. Com a ajuda luxuosa de quem não percebe que, na guerra ninguém sai de uniforme impoluto.
E como qualquer curioso sobre táticas de guerra sabe, mais importante que uma grande precisão dos tiros no “fogo de barragem” é o terror e o encolhimento que ele provoca nas forças de defesa.
Que faz ser a hora, antes de tudo, de “tocar reunir”.
De uma coisa não se pode acusar Eduardo Cunha: de ter enganado alguém. Afinal, é uma longa “carreira” que segue os mesmos métodos desde 1989 quando era um dos “coletores de dinheiro” de PC Farias, como informava reportagem de O Globo, no dia 14 de junho de 1992.
Foram outras e outras e outras matérias sobre as atividades suspeitas de Cunha, tantas que esgotavam a cota de presunção de boa-fé que qualquer um possa ter.
Brizola, por exemplo, jamais tolerou a atitude de Garotinho ao nomeá-lo presidente da Companhia de Habitação e não se passou muito tempo até se meter em outro escândalo por lá. Boa parte do rompimento dos dois deveu-se a ele.
E coisa demais para que alguém se iluda: quem vai para o lado dele, sem ter obrigações funcionais que o justifiquem – afinal, ele é (por enquanto) o Presidente da Câmara, vai sabendo do risco.
Marta Suplicy, sempre uma generosa mantenedora da espécie dos “micos”, parece ter ficado com a tarefa de fechar a fila dos oportunistas.
Que tem o rapaz aí da foto que personifica da maneira mais penalizante a pobreza intelectiva de parte da juventude brasileira como um dos seus “fechadores de fila”.
Numa posição mais constrangedora, ainda que como a legião de admiradores de Cunha – os Malafaia, os Azevedos, os Carlos Sampaio não saibam o que fazer para se desvencilhar da mancha imunda.
'Usar crise para chegar ao poder é versão moderna do golpe', diz Dilma
Presidente falou a rádio de Presidente Prudente na manhã desta quarta. Ela criticou os que torcem pela crise para poder 'pescar em águas turvas'.
Do G1, em Brasília, e do G1, em Presidente Prudente
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta quarta-feira (16), em entrevista a rádio de Presidente Prudente (SP), que usar a crise pela qual o país passa para chegar ao poder é uma "versão moderna do golpe".
"Todos os países que passaram por dificuldades, você não viu nenhum país propondo a ruptura democrática como forma de saída da crise. Esse método, que é querer utilizar a crise como um mecanismo para você chegar ao poder, é uma versão moderna do golpe", afirmou a presidente.
Esse método, que é querer utilizar a crise como um mecanismo para você chegar ao poder, é uma versão moderna do golpe"
Dilma Rousseff, presidente
Para ela, há no país pessoas que não se "conformam" com o fato de o Brasil ser uma "democracia sólida", que tem a legitimidade dada pelo "voto popular". Ela disse que essas pessoas torcem pelo quanto pior melhor para depois poderem "pescar em águas turvas".
"Eu acredito que tenham ainda no Brasil infelizmente pessoas que não se conformam que nós sejamos uma democracia sólida, cujo fundamento maior é a legitimidade dada pelo voto popular. Essas pessoas geralmente torcem pro quanto pior, melhor. E aí é em todas as áreas. Quanto pior, melhor, na área da economia. Quanto pior, melhor na área da política. Todas elas esperando uma oportunidade para pescar em águas turvas", completou Dilma.
"Muitos países nesta década passaram por situações difíceis e tiveram suas notas de risco rebaixadas. Isso aconteceu tanto com os Estados Unidos, em 2011, como também com a França, com a Itália e com a Espanha, em 2012. E agora aconteceu conosco. Todos os países foram muito maiores do que as suas notas. O Brasil é muito maior do que a sua nota também. Todos voltaram a crescer e assim vai ser com o Brasil também", afirmou a presidente.
Dilma afirmou ainda que o país não tem problema de crédito internacional nem de investimento e ressaltou medidas que o governo vem tomando para a retomada do crescimento.
"Estamos honrando nossos compromissos e contratos. Não temos problemas de crédito internacional nem tão pouco problema para atrair investimento para o Brasil. Aliás, somos um dos países em que mais há entrada de capital pra isso. Nós também estamos tomando dois tipos de medida: uma é de controle da inflação e de equilíbrio fiscal do nosso orçamento federal e as outras são de estímulo ao crescimento, como o programa de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos", continuou a presidente.
Para Dilma, o Brasil é uma economia "grande e diversificada", que vai conseguir "atravessar o período de crise".
"Nós somos a sétima economia do mundo e por isso vamos atravessar esse período de crise que muitos países passaram, que nós inclusive procuramos de todos os meios evitar, não foi possível. E vamos fazer todas essas medidas, tanto as de reequilíbrio ou ajuste fiscal e as de estímulo ao investimento, à agricultura para voltar a crescer e gerar emprego", afirmou a presidente.
Tão tagarelas ao dar lições de moral nos últimos meses, FHC e Aécio estão mantendo um silêncio de vaca amarela sobre o caso Eduardo Cunha.
Tem um preço este mutismo de ocasião.
Cada palavra silenciada desmoraliza as pronunciadas contra o governo Dilma.
FHC e Aécio simbolizam o Brasil farisaico, em que a corrupção é encarada conforme a ocasião.
Você faz cara de indignado se o acusado é um petista. Condena liminarmente.
E se cala se o acusado não é petista. No limite, diz que os fatos têm que ser devidamente apurados.
A pressa neurótica em condenar é substituída por uma calma imperturbável na espera da palavra sempre tardia da Justiça.
É a moralidade fajuta, feita não para promover a ética mas para enganar ingênips e manipular a opinião pública.
As evidências contra Eduardo Cunha são espetaculares.
Como esquecer o rosto amedrontado do delator Júlio Camargo ao rememorar o achaque de que foi vítima por Cunha?
Todas as peças se encaixaram no depoimento. No achaque, como ficou provado, Cunha utilizou até o expediente de ameaçar investigar na Câmara uma empresa que lhe devia dinheiro de propina.
Esmagado pela descoberta de seus crimes, Cunha faz o que agora, além de contar com o silêncio obsequioso dos Catões de araque como FHC e Aécio?
Ele se declara vítima.
Diz que foi escolhido para responder pelo que fez na certeza de que estava tudo sob controle.
Parece um batedor de carteira que, apanhado, olha para seus captores e diz, peito cheio de indignação: “Por que eu?”
Sua defesa, publicada no Facebook, é o oposto da peça de acusação de 85 páginas preparada pela equipe do procurador geral Rodrigo Janot.
Onde Janot traz fatos, Cunha contrapõe evasivas autovitimizadoras.
Pior do que ele só os caciques da Nova UDN, o PSDB.
Seu silêncio não apenas não ajuda Cunha como tem o efeito de desmascará-los.
É como se FHC e Aécio estivessem gritando: “O que nós falamos não vale nada. Não nos levem a sério.”
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Juristas ouvidos pelo Congresso em Foco entendem que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo na linha sucessória à Presidência da República, pode ser imediatamente afastado do comando da Casa se virar réu da Operação Lava Jato. Ou seja, caso o Supremo Tribunal Federal (STF) aceite a denúncia que a Procuradoria-Geral da República (PGR) deve apresentar contra Cunha, em breve, pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
No entendimento dos especialistas, como Cunha pode vir a ocupar a Presidência da República em eventuais ausências da titular, Dilma Rousseff, e do vice, Michel Temer, também está sujeito a ser enquadrado no artigo da Constituição que trata do afastamento do chefe do Executivo. O dispositivo estabelece que o presidente tem de ser afastado do cargo, por determinado período, caso vire réu no Supremo.
De acordo com o idealizador da Lei da Ficha Limpa e coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), juiz Márlon Reis, o STF pode afastar Eduardo Cunha de ofício, com a aplicação do artigo 86 da Constituição.
O artigo 86, combinado ao parágrafo 1º, inciso 1º, define que o presidente da República “ficará suspenso de suas funções nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal”. Para Márlon, isso se aplica diretamente àqueles que estão na linha sucessória presidencial, como o vice-presidente da República e os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal – este, o último da linha sucessória.
“A intenção do legislador ao incluir estes aspectos é de não contaminar o andamento do processo. É uma questão que pode ser definida, por exemplo, em uma simples questão de ordem se o STF acatar a denúncia da PGR”, afirmou Márlon ao Congresso em Foco.
Esse afastamento, no entanto, seria por um período de 180 dias. “Esse prazo é determinado para que o processo tramite o mais rápido possível”, assinalou o juiz.
A mesma tese é defendia pelo jurista Luís Flávio Gomes, ex-juiz e ex-promotor de Justiça, considerado uma das principais autoridades brasileiras no estudo do Código Penal. Para ele, é possível também um afastamento de ofício de Cunha caso seja aplicado o artigo 319 do Código Penal. Esse dispositivo versa sobre as possibilidades de medidas cautelares alternativas à prisão preventiva.
Segundo o jurista, como o presidente da Câmara não pode ser preso, por ter foro privilegiado (parlamentares só podem ser presos em caso de homicídio ou crimes hediondos com flagrante ou condenação sem possibilidade de recurso), o STF pode determinar seu afastamento por meio da aplicação do artigo 319. De acordo com Luiz Flávio, isso também pode ser feito por determinação dos próprios ministros. “É um afastamento preventivo para se evitar a contaminação das provas”, disse o ex-juiz.
O uso de igrejas como canal de lavagem de dinheiro não é propriamente uma novidade. Mas, com o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o depósito de R$ 250 mil numa conta da Assembleia de Deus, a lavagem de dinheiro alcançou uma igreja tradicional, fundada no Brasil há mais de cem anos.
“É impossível auditar as doações dos fiéis. E isso é ideal para quem precisa camuflar o aumento de sua renda, escapar da tributação e lavar dinheiro do crime organizado”, diz o desembargador Fausto de Sanctis, aquele da operação Satiagraha, um dos maiores especialistas brasileiros estudos sobre lavagem de dinheiro.
O desembargador De Sanctis lançou este ano nos Estados Unidos uma obra sobre o tema: “Churches, Temples, and Financial Crimes” – A Judicial Perspective of the Abuse of Faith (Igrejas, Templos e Crimes financeiros – Uma perspectiva judicial do abuso de fé).
A obra ainda não foi traduzida para o português, mas trata das investigações policiais realizadas no Brasil, entre elas a da Universal do Reino de Deus, a Igreja Mundial do Poder de Deus e a Renascer em Cristo, igrejas grandes, mas com menos de 40 anos de história.
O dono de uma grande incorporadora de Santana, Zona Norte de São Paulo, contou-me que há alguns anos vendeu uma cobertura para o líder da Igreja Deus É Amor e teve muito trabalho, não para receber, porque o pastor pagou em dinheiro vivo, mas para passar a escritura no nome dele.
“Ele não queria de jeito nenhum. Passaram-se alguns anos até que eu disse: pastor, não dá mais”, contou o empresário. Só assim a cobertura saiu do nome da incorporadora e foi para o do pastor David Miranda, falecido recentemente.
O poder das igrejas tem levado a disputas ferrenhas, no caso daquelas que promovem algum tipo de processo eleitoral para escolher sua direção.
Um pastor com direito a voto numa grande igreja evangélica me disse que, quando havia eleição, evitava beber água no local de votação, com medo de que algum adversário tivesse colocado sonífero.
Na igreja de Eduardo Cunha, este problema não existe mais. Manuel Ferreira, líder nacional da Assembleia de Deus – Ministério Madureira, mudou o estatuto há alguns anos e transformou a presidência num cargo vitalício.
Assim, ele e os filhos — Abner, que comanda a igreja no Rio de Janeiro, e Samuel Ferreira, o chefe em São Paulo –, só deixarão o posto depois de mortos e serão sucedidos pelos filhos.
A vitaliciedade e hereditariedade não impedem que os Ferreira participem ativamente da atividade democrática externa. Um missionário da igreja, Samuel Aragão, gravou um vídeo em que diz que o apoio nas eleições é em troca de cargos no governo e de outras vantagens.
Em 2012, na eleição para vereador, Samuel Ferreira dividiu São Paulo em regiões e as entregou a candidatos de vários partidos, nem todos evangélicos. Em 2014, a igreja fez campanha para alguns deputados federais. No Rio de Janeiro, um deles era Eduardo Cunha.
Samuel Ferreira se apresenta com roupas de grifes e, em seus deslocamentos pelo Brasil, utiliza avião particular, nada de voos comerciais. Há 10 anos, Ferreira era o responsável pela igreja em Campinas.
Ganhou poder, ao ser escolhido para governar a igreja no Estado, e perdeu peso, com uma redução no estômago que eliminou metade dos seus quase 150 quilos. Em Campinas, quem manda agora é o filho, nomeado pastor, apesar de bastante jovem.
Com mais de cem anos de história, a Assembleia de Deus comandada pela família Ferreira é uma dissidência da Assembleia de Deus original, chamada Missão.
Nesta Assembleia de Deus, existe eleição, mas desde 1988 ninguém bate o pastor José Wellington. Dois filhos de José Wellington estão na política. A filha é deputada estadual em São Paulo e o filho, deputado federal.
“O que as lideranças das igrejas querem é o poder, e nenhuma aliança na Assembleia de Deus é feita de graça”, contou-me ex-deputado federal eleito muitas vezes com o apoio das igrejas evangélicas.
A promiscuidade das igrejas com o poder não é exclusiva do universo evangélico. Nessa história, se feito um exame de DNA, a paternidade será encontrada na Igreja Católica – até porque é muito mais antiga –, citada no livro do desembargador Fausto de Sanctis sobre lavagem de dinheiro por causa do escândalo do banco do Vaticano.
O papa Francisco fez lá uma limpa recentemente. Mas essa limpeza vai durar até quando? Num ambiente religioso, a fé pode não mover montanhas, mas é usada para comprar todo tipo de riquezas.
Serve também para vender o voto do eleitor, e agora, como indica o depósito da propina na conta da Assembleia de Deus, negociar o poder de lavar mais branco.