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sábado, 18 de julho de 2015

PUBLICAÇÃO INGLESA ANALISA LIVRO SOBRE MACHADO DE ASSIS

Machado, o mulato que conquistou o Rio de Janeiro e ganhou projeção internacional.

The Times Literary Supplement, publicação semanal britânica, mas com larga circulação nos meios intelectuais dos Estados Unidos e outros países de língua inglesa, traz na sua última edição uma resenha do livro "Machado de Assis - a literary life" (M de A - uma vida literária), de K. David Kackson, publicado pela editora da Universidade norte-americana de Yale.
No texto crítico, Miranda France afirma que Machado de Assis "é um dos mais importantes escritores latino-americanos, mas nunca chegou a ser tão famoso quanto Jorge Luis Borges ou Gabriel García Márquez, talvez porque ele escreveu em Português, ou porque seu estilo lacônico não atende a nossas expectativas coloridas sobre aquele continente". Outra explicação para a menor popularidade de Machado no exterior, segundo a crítica do TLS, é que "Machado parece uma grande anomalia: um neto de escravos libertados escrevendo prosa urbana; um escritor do século 19 que nos soa contemporâneo".
Para o autor do livro, Machado é um "cético desestabilizador de sistemas" e suas personagens nunca deixam suas idéias totalmente claras ao leitor, o que contribui para a ativa participação deste nas estórias. "Um estuda durante anos numa escola de Direito, mas sai dela sem convicções, 'nem mesmo sobre libertar os escravizar pessoas", outro rejeita sua nomeação como governador da província porque a data é o dia 13, mas depois aceita uma segunda indicação porque ela ocorre num dia 31". 

O cineasta Woody Allen, leitor de Machado.

A crítica do TLS menciona que "Susan Sontag, John Updike e Woody Allen estão entre os admiradores de Machado (...). Freud teria gostado dos muitos sonhos eróticos, da ansiedade sexual. A cena na qual Bento, protagoinista de Dom Casmurro, vê uma mulher cair na rua e pensa ao mesmo tempo em moças francesas deixando ver suas roupas íntimas e nas batinas usadas no seminário, são puro Buñuel".
Ao final, o texto crítico diz que o livro falha no propósito de detalhar a vida literária de Machado de Assis, que continua aberta a novas análises. Mas "o rigor e energia de K. David Jackson faz deste livro, mesmo assim, um útil manual para um estudo mais próximo de Machado".
O livro, de 360 páginas,  está à venda pela Yale University Press,  e custa 40 dólares, ou 25 libras esterlinas.
(texto e tradução das citações: A. Barbosa Filho)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

O RESTAURADOR DA PIETÁ DE MICHELANGELO, UM BRASILEIRO ESQUECIDO

Estive na conferência do prof. Redig de Campos mencionada na matéria de Daniel Piza, em 1973. À época, eu e três amigos, todos muito jovens, estávamos organizando em Taubaté o Museu Didático Estudantil, uma forma de protesto porque os museus de Taubaté haviam sido desmantelados e seus acervos haviam desaparecido. 

Os amigos de aventura eram Gilberto Martins, Jackson de Souza de Almeida Castro e Luiz Antonio de Souza (este último prematuramente falecido). 
Eu era repórter iniciante na Rádio Difusora Taubaté e ia atrás de depoimentos que fortalecessem nossa luta por um museu. Entrevistei a diretora da Fundação Calouste Gulbekian, de Portugal, ofiquei amigo do prof. Vinicius Stein de Campos, então diretor dos Museus do Interior do Governo do Estado, do padre Hélio Viotti, que então reerguia o Pátio de Colégio, em São Paulo, etc. 
E o depoimento do prof. Redig de Campos, sua gentileza, me marcaram para sempre. Guardo até um seu autógrafo. Além disso, a palestra sobre a complexa restauração da Pietá, de Michelangelo, que anos depois eu vi na Basílica de São Pedro, já cercada de vidros à prova de bala, foi brilhante e emocionante. 
Eis o texto que encontrei sobre este brasileiro pouco reconhecido, de autoria do também recentemente falecido crítico Daniel Piza, no jornal O Estado de S. Paulo, edição de 16 de junho de 2009:


Memórias de um brasileiro no Vaticano


Ele morava na famosa Praça da Espanha, em Roma, vizinho ao amigo e pintor Giorgio De Chirico. Trabalhava à mesa que tinha sido do escultor Antonio Canova, no Museu do Vaticano. Desenhava e pintava nas horas de folga, depois de abandonar o sonho juvenil de ser artista. Escrevia livros e artigos sobre o Renascimento. Coordenava empreitadas como as restaurações de duas das maiores obras de arte da história, a Pietà de Michelangelo e A Escola de Atenas de Rafael. E era brasileiro. Seu nome: Deoclecio Redig de Campos (1905-1989).
O curador brasileiro que ocupou o cargo mais alto já ocupado por um compatriota da mesma carreira não foi lembrado em seu centenário de nascimento, há quatro anos. Tampouco foi lembrado agora, 20 anos depois de sua morte, no dia 6 de abril. Mas o trabalho que fez pela arte italiana, assim como o livro Considerações sobre a Gênese da Renascença na Pintura Italiana (único lançado no Brasil, pelo MEC em 1958), é parte irremovível da história. E ele, Deoclecio, está muito vivo na memória de seus familiares, como a filha, Daniela, que mora em Roma, e os sobrinhos, Joaquim e Maria Clara, no Rio de Janeiro, que conversaram por telefone com o Estado.
Com a figura semelhante à do líder egípcio Nasser, com nariz adunco, bigode e pele morena, Deoclecio era um homem elegante, sempre de terno e com um cachimbo à mão ou à boca. Nascido em Belém (PA), morou no Brasil apenas até os 5 anos. Seu pai, também Deoclecio, era diplomata e foi enviado para Alemanha, Suíça e Itália sucessivamente. Foi em Roma que o filho se formou em Filosofia e História da Arte, sob orientação do respeitado Adolfo Venturi, e, apaixonado pela obra de Michelangelo, decidiu ficar para sempre.
Um curso de restauração, em 1933, colocou Deoclecio dentro do Vaticano, onde faria carreira até se aposentar em 1978. Ali foi conservador-chefe e depois diretor. “Professore De Campo”, assim o chamavam os funcionários; Deoclecio não gostava, porque jamais deu aula. No mesmo ano em que entrou para o laboratório do museu, ele se casou com a abonada italiana Virginia Kambo, com quem teria Daniela e Manuel. “Meu pai era um homem gentilíssimo”, diz a filha. “Ele sempre nos apoiava e estimulava, como se fosse um amigo.”
A Pietá, de Michelangelo Buonarrotti, restaurada pelo brasileiro Deoclécio Redig de Campos.
Joaquim e Maria Clara o descrevem como um homem ao mesmo tempo muito culto e muito simples, um poliglota e esteta afável e conversador, que não tinha traço professoral algum. Era também um tio atencioso, que perguntava sempre sobre a vida e os trabalhos dos parentes. Vinha pouco ao Brasil, mas era sempre visitado pelos sobrinhos na Itália. “Ele não falava mal de ninguém”, diz Maria Clara, arquiteta, filha de outro arquiteto, Olavo Redig de Campos (1906-1984), com obra importante no modernismo brasileiro.
“A gente andava com ele por Roma e ele nos mostrava obras nas praças com a maior simplicidade. Também estive com ele em Florença, Veneza e Assis. Foi maravilhoso”, relembra Maria Clara. Joaquim, designer, diz que testemunhou “vivamente” tais qualidades do “tio Deoclecinho” durante uma visita em 1969, aos 23 anos, ouvindo as explicações “claras, visíveis, didáticas e reveladoras” durante algumas horas, “entrando e saindo de salas e salões, passando por infindáveis portas, algumas fechadas, às vezes até subindo em andaimes para ver os trabalhos de restauração”.
Rigoroso, Deoclecio chegava a refazer dezenas de vezes a mesma peça de restauro, até atingir o que desejava. Único dos quatro irmãos a não voltar ao Brasil, foi também adido cultural no Vaticano por mais de 30 anos. Sua vida teve outros momentos marcantes como os dois anos durante a 2ª Guerra Mundial em que precisou se refugiar em aposentos do museu, pois o Brasil tinha passado para o lado dos aliados contra a Itália de Mussolini.
Outro momento foi o de 1972, quando um húngaro martelou o nariz da Pietà, a qual seria restaurada pela equipe de Deoclecio. À imprensa, declarou que era como ver “um parente gravemente ferido, e um parente muito amado”. À família, contou que teve uma conversa com o agressor, Laszlo Toth, mas que ele só dizia em inglês “Eu sou Jesus Cristo”. Por causa da restauração, Deoclecio ganhou uma eminência que não tinha tido até então, inclusive no Brasil, aonde veio dar conferência sobre o trabalho em 1973, no Masp.
Recebeu inúmeras homenagens da Itália, onde viveu 71 dos seus 84 anos, e algumas do Brasil, onde chegou a ser consultado para uma reforma dos profetas de Aleijadinho. Nos últimos anos de vida, sofreu do Mal de Parkinson. Numa carta para o Itamaraty em 1975, dissera estar feliz em ser considerado “um estudioso brasileiro” e acrescentou em latim, “ubique Patriae memor” – em qualquer lugar, a memória da pátria. Que ainda lhe deve uma memória.

http://blogs.estadao.com.br/daniel-piza/memorias-de-um-brasileiro-no-vaticano/

terça-feira, 29 de abril de 2014

MAIOR SABUJO DA VEJA OUSA CRITICAR LULA...

Uma eterna lição de antijornalismo: 

a resenha triunfal da Veja sobre 

o romance de seu redator-chefe


Um veterano desinspirador: Graieb
Um veterano desinspirador: Graieb
Um artigo do jornalista Carlos Graieb, da Veja, dá uma contundente lição de moral em Lula.
Lula criticou o julgamento do Mensalão. Hoje, é amplamente sabido que foi um ato político e 
não jurídico. Lula disse isso.
Mas, segundo a peculiar lógica de Graieb, Lula teria que elogiar o julgamento do Mensalão.
Graieb. O nome me era familiar. E então lembrei.
Ele entrou para a história da infâmia jornalística ao escrever, na Veja, um panegírico multipáginas 
de um romance escrito por seu chefe, o então redator-chefe da revista Mario Sabino. O 
romance se chamava O Dia em que Matei meu Pai.
Foi uma indecência. E um marco no processo de desagregação moral da Veja. Nenhuma 
publicação civilizada faz resenhas extensas e bajulatórios de chefes de redação, por razões 
óbvias.
Um trecho de Graieb: “Dois tipos de sedução aguardam o leitor de O Dia em que Matei 
Meu Pai (Record; 221 páginas; 25,90 reais). Primeiro, a sedução do bom texto literário, 
à qual ele pode se entregar sem medo. O romance de estréia do jornalista Mario Sabino, 
editor executivo de VEJA, é daqueles que se devoram rápido, de preferência de uma vez 
só, porque a história é envolvente e a linguagem, cristalina. Sabino possui atributos 
fundamentais para um ficcionista, como o poder de criar imagens precisas: em seu texto, 
ao ser atingido pelas costas um personagem não apenas se curva antes de desabar; ele 
se curva como se fosse `para amarrar os sapatos´.”
Pausa para rir.
Nas escolas de jornalismo, o episódio poderia ser um exemplo prático, aos jovens 
estudantes, de coisas que são moralmente inaceitáveis e repulsivas.
Graieb chegou, num arroubo servil, a comparar Sabino a Machado de Assis.
Lembrei disso e fui dar uma pesquisada para reavivar minha memória. Na época, 
eu pertencia ao Comitê Executivo da Abril.
O Comitê não tinha jurisdição nenhuma sobre a Veja. Roberto Civita monopolizou 
a Veja até o final de sua ida. O diretor da revista respondia apenas a ele.
Mesmo sem poder nenhum na Veja, o artigo de Graieb sobre o livro de Sabino foi 
debatido no Comitê. E provocou repulsa.
Fui ver agora, passados alguns anos, o que o mundo real, longe da Veja, de Graieb e 
de Sabino, falou do prodigioso romance.
No site de compartilhamento de impressões de livros Goodreads, você logo topa com o
 seguinte depoimento: “Não terminei”.
Em outro site, o Skoob, você lê isso: “Infelizmente o autor foi muito previsível A leitura é 
rápida e maçante.” Mais um trecho sobre o romance:   ”O livro é muito chato, muitas 
divagações e cenas mal descritas que me deixaram entediada. Quase desisti de ler e não 
sei que milagre me fez voltar.”
Graieb bateu a carteira do leitor com uma propaganda enganosa e abjeta. Mesmo assim, 
consegue se comportar como se fosse Catão, como se vê pelo artigo acusatório sobre Lula.
Bonito isso.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/uma-eterna-licao-de-antijornalismo/