Uma eterna lição de antijornalismo:
a resenha triunfal da Veja sobre
o romance de seu redator-chefe
Um artigo do jornalista Carlos Graieb, da Veja, dá uma contundente lição de moral em Lula.
Lula criticou o julgamento do Mensalão. Hoje, é amplamente sabido que foi um ato político e
não jurídico. Lula disse isso.
Mas, segundo a peculiar lógica de Graieb, Lula teria que elogiar o julgamento do Mensalão.
Graieb. O nome me era familiar. E então lembrei.
Ele entrou para a história da infâmia jornalística ao escrever, na Veja, um panegírico multipáginas
de um romance escrito por seu chefe, o então redator-chefe da revista Mario Sabino. O
romance se chamava O Dia em que Matei meu Pai.
Foi uma indecência. E um marco no processo de desagregação moral da Veja. Nenhuma
publicação civilizada faz resenhas extensas e bajulatórios de chefes de redação, por razões
óbvias.
Um trecho de Graieb: “Dois tipos de sedução aguardam o leitor de O Dia em que Matei
Meu Pai (Record; 221 páginas; 25,90 reais). Primeiro, a sedução do bom texto literário,
à qual ele pode se entregar sem medo. O romance de estréia do jornalista Mario Sabino,
editor executivo de VEJA, é daqueles que se devoram rápido, de preferência de uma vez
só, porque a história é envolvente e a linguagem, cristalina. Sabino possui atributos
fundamentais para um ficcionista, como o poder de criar imagens precisas: em seu texto,
ao ser atingido pelas costas um personagem não apenas se curva antes de desabar; ele
se curva como se fosse `para amarrar os sapatos´.”
Pausa para rir.
Nas escolas de jornalismo, o episódio poderia ser um exemplo prático, aos jovens
estudantes, de coisas que são moralmente inaceitáveis e repulsivas.
Graieb chegou, num arroubo servil, a comparar Sabino a Machado de Assis.
Lembrei disso e fui dar uma pesquisada para reavivar minha memória. Na época,
eu pertencia ao Comitê Executivo da Abril.
O Comitê não tinha jurisdição nenhuma sobre a Veja. Roberto Civita monopolizou
a Veja até o final de sua ida. O diretor da revista respondia apenas a ele.
Mesmo sem poder nenhum na Veja, o artigo de Graieb sobre o livro de Sabino foi
debatido no Comitê. E provocou repulsa.
Fui ver agora, passados alguns anos, o que o mundo real, longe da Veja, de Graieb e
de Sabino, falou do prodigioso romance.
No site de compartilhamento de impressões de livros Goodreads, você logo topa com o
seguinte depoimento: “Não terminei”.
Em outro site, o Skoob, você lê isso: “Infelizmente o autor foi muito previsível A leitura é
rápida e maçante.” Mais um trecho sobre o romance: ”O livro é muito chato, muitas
divagações e cenas mal descritas que me deixaram entediada. Quase desisti de ler e não
sei que milagre me fez voltar.”
Graieb bateu a carteira do leitor com uma propaganda enganosa e abjeta. Mesmo assim,
consegue se comportar como se fosse Catão, como se vê pelo artigo acusatório sobre Lula.
Bonito isso.
http://www.diariodocentrodomundo.com.br/uma-eterna-licao-de-antijornalismo/
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