Pode delirar, Veja. Só não pode delinquir
Democracia é um sistema amplamente generoso e, portanto, perfeitamente suportável por qualquer pessoa normal. Por exemplo: você pode delirar à vontade desde que, com seus delírios, não invada o direito do outro e, sobretudo, da coletividade. É livre o direito à crítica, pois, conquanto o crítico saiba que, ao exercê-lo, arrisca-se a ultrapassar limites e a cometer calúnia ou difamação e, assim, a ter que se sujeitar às conseqüências de seu ato.
Criticar além da conta, inventando fatos sobre o outro que você não pode provar que ocorreram tal como disse, é ruim e perigoso. Mas não é crime até que fique provado que não tinha razões suficientes para afirmar o que afirmou. Já agir de forma física contra alguém na ânsia de conseguir provar o que diz sobre ele, se você não for uma autoridade estará cometendo um crime. Tal ato não está coberto pelo direito democrático de se manifestar.
Se eu acho que você age desta ou daquela forma desonesta e digo isso publicamente, você pode até me processar. Mas só terei cometido crime se não conseguir provar o que disse sobre você. Agora, se eu, para juntar provas contra você, invado a sua casa, estou cometendo um crime e o fato de o acusar de ser o criminoso não me garante justificativa.
Na Inglaterra, o jornal The News of the World foi fechado e jornalistas estão sendo presos por terem feito exatamente o que fez o repórter Gustavo Pereira, da Veja. Ele, como seus congêneres britânicos, instalou equipamentos de monitoramento de imagens e/ou de áudio de pessoas sobre as quais queria informações.
Os britânicos, à esquerda e à direita, horrorizaram-se com o que fez o jornal de Rupert Murdoch porque são civilizados o suficiente para saberem que quando se instala o vale-tudo em uma sociedade, ninguém está a salvo. A injustiça que se faz a um é a ameaça que se faz a todos, diria o Barão de Montesquieu.
À luz desses fatos, chegamos ao “Day After” nas páginas da Veja – à edição posterior à da semana passada. Recebo trechos da reportagem desta semana daquela revista que versa sobre seu affair com José Dirceu – e que, diga-se, não saiu na capa. É um delírio de cabo a rabo. Contrasta com os últimos fatos de uma forma chocante, como demonstrarei a seguir.
A matéria diz que “Dilma Rousseff ficou surpresa ao saber que o presidente da Petrobras foi ao encontro do ‘consultor’ José Dirceu num quarto de hotel em horário de expediente – e logo depois de uma reunião com ela no Palácio do Planalto”.
É mesmo? Como a Veja sabe disso? Será que colocou câmeras ou escutas no gabinete da presidente no Palácio do Planalto ou, quem sabe, em seu dormitório no Palácio da Alvorada? Talvez, pior, tenha colocado um espião nos ambientes íntimos da presidente da República. Seria o mordomo?
De uma coisa, porém, é possível ter certeza: os fatos da semana passada deixam ver que a Veja usa esses métodos – ou tenta usar.
Já ao fim, o novo delírio da revista afirma que “A configuração [da mesa com Dilma, Lula e Dirceu no Congressso do PT, ontem] foi cuidadosamente pensada. Com a imprensa postada no fundo do salão, em qualquer foto da presidente inevitavelmente aparecerá Lula ao lado e Dirceu ao fundo. Lula, como era de esperar, elogiou Dirceu e criticou a imprensa. Dilma começou seu discurso saudando os presentes. Quando terminava, alguém na plateia gritou: ‘E o Zé Dirceu?’. A presidente, de maneira protocolar, saudou a presença do ‘companheiro José Dirceu’. Foi aplaudida pela claque. Aparências salvas, o conteúdo permanece imutável: Dirceu é mesmo um espectro”.
Essa bobagem não oferece a menor sustentação de que é real, mas gera uma questão: Dirceu não era o “Poderoso Chefão”? De uma semana para cá, com o PT se levantando em peso em sua defesa, virou “espectro”, é? Bem, não importa. O direito de delirar é livre e democrático, mas só até quando não faz o delirante ultrapassar aquela linha que separa a loucura da criminalidade. Aí ele tem que aguentar as consequências.
Pode delirar, Veja. Só não pode delinquir
Democracia é um sistema amplamente generoso e, portanto, perfeitamente suportável por qualquer pessoa normal. Por exemplo: você pode delirar à vontade desde que, com seus delírios, não invada o direito do outro e, sobretudo, da coletividade. É livre o direito à crítica, pois, conquanto o crítico saiba que, ao exercê-lo, arrisca-se a ultrapassar limites e a cometer calúnia ou difamação e, assim, a ter que se sujeitar às conseqüências de seu ato.
Criticar além da conta, inventando fatos sobre o outro que você não pode provar que ocorreram tal como disse, é ruim e perigoso. Mas não é crime até que fique provado que não tinha razões suficientes para afirmar o que afirmou. Já agir de forma física contra alguém na ânsia de conseguir provar o que diz sobre ele, se você não for uma autoridade estará cometendo um crime. Tal ato não está coberto pelo direito democrático de se manifestar.
Se eu acho que você age desta ou daquela forma desonesta e digo isso publicamente, você pode até me processar. Mas só terei cometido crime se não conseguir provar o que disse sobre você. Agora, se eu, para juntar provas contra você, invado a sua casa, estou cometendo um crime e o fato de o acusar de ser o criminoso não me garante justificativa.
Na Inglaterra, o jornal The News of the World foi fechado e jornalistas estão sendo presos por terem feito exatamente o que fez o repórter Gustavo Pereira, da Veja. Ele, como seus congêneres britânicos, instalou equipamentos de monitoramento de imagens e/ou de áudio de pessoas sobre as quais queria informações.
Os britânicos, à esquerda e à direita, horrorizaram-se com o que fez o jornal de Rupert Murdoch porque são civilizados o suficiente para saberem que quando se instala o vale-tudo em uma sociedade, ninguém está a salvo. A injustiça que se faz a um é a ameaça que se faz a todos, diria o Barão de Montesquieu.
À luz desses fatos, chegamos ao “Day After” nas páginas da Veja – à edição posterior à da semana passada. Recebo trechos da reportagem desta semana daquela revista que versa sobre seu affair com José Dirceu – e que, diga-se, não saiu na capa. É um delírio de cabo a rabo. Contrasta com os últimos fatos de uma forma chocante, como demonstrarei a seguir.
A matéria diz que “Dilma Rousseff ficou surpresa ao saber que o presidente da Petrobras foi ao encontro do ‘consultor’ José Dirceu num quarto de hotel em horário de expediente – e logo depois de uma reunião com ela no Palácio do Planalto”.
É mesmo? Como a Veja sabe disso? Será que colocou câmeras ou escutas no gabinete da presidente no Palácio do Planalto ou, quem sabe, em seu dormitório no Palácio da Alvorada? Talvez, pior, tenha colocado um espião nos ambientes íntimos da presidente da República. Seria o mordomo?
De uma coisa, porém, é possível ter certeza: os fatos da semana passada deixam ver que a Veja usa esses métodos – ou tenta usar.
Já ao fim, o novo delírio da revista afirma que “A configuração [da mesa com Dilma, Lula e Dirceu no Congressso do PT, ontem] foi cuidadosamente pensada. Com a imprensa postada no fundo do salão, em qualquer foto da presidente inevitavelmente aparecerá Lula ao lado e Dirceu ao fundo. Lula, como era de esperar, elogiou Dirceu e criticou a imprensa. Dilma começou seu discurso saudando os presentes. Quando terminava, alguém na plateia gritou: ‘E o Zé Dirceu?’. A presidente, de maneira protocolar, saudou a presença do ‘companheiro José Dirceu’. Foi aplaudida pela claque. Aparências salvas, o conteúdo permanece imutável: Dirceu é mesmo um espectro”.
Essa bobagem não oferece a menor sustentação de que é real, mas gera uma questão: Dirceu não era o “Poderoso Chefão”? De uma semana para cá, com o PT se levantando em peso em sua defesa, virou “espectro”, é? Bem, não importa. O direito de delirar é livre e democrático, mas só até quando não faz o delirante ultrapassar aquela linha que separa a loucura da criminalidade. Aí ele tem que aguentar as consequências.
Pode delirar, Veja. Só não pode delinquir
Democracia é um sistema amplamente generoso e, portanto, perfeitamente suportável por qualquer pessoa normal. Por exemplo: você pode delirar à vontade desde que, com seus delírios, não invada o direito do outro e, sobretudo, da coletividade. É livre o direito à crítica, pois, conquanto o crítico saiba que, ao exercê-lo, arrisca-se a ultrapassar limites e a cometer calúnia ou difamação e, assim, a ter que se sujeitar às conseqüências de seu ato.
Criticar além da conta, inventando fatos sobre o outro que você não pode provar que ocorreram tal como disse, é ruim e perigoso. Mas não é crime até que fique provado que não tinha razões suficientes para afirmar o que afirmou. Já agir de forma física contra alguém na ânsia de conseguir provar o que diz sobre ele, se você não for uma autoridade estará cometendo um crime. Tal ato não está coberto pelo direito democrático de se manifestar.
Se eu acho que você age desta ou daquela forma desonesta e digo isso publicamente, você pode até me processar. Mas só terei cometido crime se não conseguir provar o que disse sobre você. Agora, se eu, para juntar provas contra você, invado a sua casa, estou cometendo um crime e o fato de o acusar de ser o criminoso não me garante justificativa.
Na Inglaterra, o jornal The News of the World foi fechado e jornalistas estão sendo presos por terem feito exatamente o que fez o repórter Gustavo Pereira, da Veja. Ele, como seus congêneres britânicos, instalou equipamentos de monitoramento de imagens e/ou de áudio de pessoas sobre as quais queria informações.
Os britânicos, à esquerda e à direita, horrorizaram-se com o que fez o jornal de Rupert Murdoch porque são civilizados o suficiente para saberem que quando se instala o vale-tudo em uma sociedade, ninguém está a salvo. A injustiça que se faz a um é a ameaça que se faz a todos, diria o Barão de Montesquieu.
À luz desses fatos, chegamos ao “Day After” nas páginas da Veja – à edição posterior à da semana passada. Recebo trechos da reportagem desta semana daquela revista que versa sobre seu affair com José Dirceu – e que, diga-se, não saiu na capa. É um delírio de cabo a rabo. Contrasta com os últimos fatos de uma forma chocante, como demonstrarei a seguir.
A matéria diz que “Dilma Rousseff ficou surpresa ao saber que o presidente da Petrobras foi ao encontro do ‘consultor’ José Dirceu num quarto de hotel em horário de expediente – e logo depois de uma reunião com ela no Palácio do Planalto”.
É mesmo? Como a Veja sabe disso? Será que colocou câmeras ou escutas no gabinete da presidente no Palácio do Planalto ou, quem sabe, em seu dormitório no Palácio da Alvorada? Talvez, pior, tenha colocado um espião nos ambientes íntimos da presidente da República. Seria o mordomo?
De uma coisa, porém, é possível ter certeza: os fatos da semana passada deixam ver que a Veja usa esses métodos – ou tenta usar.
Já ao fim, o novo delírio da revista afirma que “A configuração [da mesa com Dilma, Lula e Dirceu no Congressso do PT, ontem] foi cuidadosamente pensada. Com a imprensa postada no fundo do salão, em qualquer foto da presidente inevitavelmente aparecerá Lula ao lado e Dirceu ao fundo. Lula, como era de esperar, elogiou Dirceu e criticou a imprensa. Dilma começou seu discurso saudando os presentes. Quando terminava, alguém na plateia gritou: ‘E o Zé Dirceu?’. A presidente, de maneira protocolar, saudou a presença do ‘companheiro José Dirceu’. Foi aplaudida pela claque. Aparências salvas, o conteúdo permanece imutável: Dirceu é mesmo um espectro”.
Essa bobagem não oferece a menor sustentação de que é real, mas gera uma questão: Dirceu não era o “Poderoso Chefão”? De uma semana para cá, com o PT se levantando em peso em sua defesa, virou “espectro”, é? Bem, não importa. O direito de delirar é livre e democrático, mas só até quando não faz o delirante ultrapassar aquela linha que separa a loucura da criminalidade. Aí ele tem que aguentar as consequências.
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