MARILENA SE DIZ ESTARRECIDA E PROPÕE ESTUDO DE CASO
SOBRE REELEIÇÃO DE ALCKMIN
Filósofa pede que acadêmicos se reúnam para tentar encontrar explicações para
quarto mandato do governador em meio a racionamento, denúncias de
corrupção e problemas de gestão
São Paulo – A filósofa Marilena Chauí propõe que acadêmicos somem esforços
para tentar entender os motivos que levaram o governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin, a conquistar um novo mandato nas eleições realizadas ontem
(5). Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a professora da USP afirmou ter
proposto ao presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio
Pochmann, que estude ao longo dos próximos quatro anos os processos que
explicam que o PSDB possa chegar a mais de duas décadas de comando
do Palácio dos Bandeirantes.
“O PSDB tem uma monarquia hereditária. Alguém precisa entender o que
acontece em São Paulo. A reeleição do Alckmin no primeiro turno é
uma coisa verdadeiramente espantosa”, avaliou. Para ela, é difícil explicar
como o governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento
de água, denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública,
como a perda de qualidade do Metrô paulistano, alvo de denúncias de
formação de cartel e pagamento de propina a políticos do PSDB.
“Por que fico estarrecida? Porque você teve milhares e milhares e milhares
de jovens nas ruas pedindo em São Paulo mais saúde e mais educação. Se
você pede mais saúde e mais educação, considera que são direitos sociais
e que têm de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin. Estou
tentando entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado por
quem você reelege.”
Ela avalia que o PSDB trata políticas públicas não como direitos, mas como
um produto que a população deve ter recursos financeiros para adquirir. Nesse
sentido, entende também que uma parcela da sociedade paulista enxerga
os avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do PT não
como uma melhoria no papel do Estado, mas como um mérito individual.
“Não há nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para
trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma
ideologia de classe média, que é a do esforço individual.”
Marilena Chauí considera que ainda é cedo para estabelecer uma relação entre
o saldo final das manifestações de junho e o alto número de abstenções e
de votos brancos e nulos – 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em branco
e 5,80% em nulo. De outro lado, ela avalia que o resultado geral das eleições
de ontem, com crescimento de Aécio Neves (PSDB) na reta final da corrida
presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no Congresso,
tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional pela
despolitização da sociedade.
“Uma das coisas que mais têm acontecido no país é um processo realizado pela
grande mídia, tanto impressa como falada como televisiva, é um processo
que vem vindo nos últimos oito anos, e sobretudo nos últimos quatro, de
esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão política. Você tem a
operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Fora disso você
não tem o verdadeiro debate político. Eu diria que os partidos políticos são
responsáveis também pela ausência de um grande debate político. Ou porque
não têm o que propor, ou porque não querem entrar neste debate.”
http://www.conversaafiada.com.br/pig/2014/10/06/chaui-
quer-entender-eleicao-de-alckmin/
quer-entender-eleicao-de-alckmin/
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