terça-feira, 7 de outubro de 2014

ATRASO POLÍTICO DOS PAULISTAS MERECE SER ESTUDADO



MARILENA SE DIZ ESTARRECIDA E PROPÕE ESTUDO DE CASO 

SOBRE REELEIÇÃO DE ALCKMIN



Filósofa pede que acadêmicos se reúnam para tentar encontrar explicações para 

quarto mandato do governador em meio a racionamento, denúncias de 

corrupção e problemas de gestão



São Paulo – A filósofa Marilena Chauí propõe que acadêmicos somem esforços 

para tentar entender os motivos que levaram o governador de São Paulo, 

Geraldo Alckmin, a conquistar um novo mandato nas eleições realizadas ontem 

(5). Em entrevista à Rádio Brasil Atual, a professora da USP afirmou ter 

proposto ao presidente da Fundação Perseu Abramo, o economista Marcio 

Pochmann, que estude ao longo dos próximos quatro anos os processos que 

explicam que o PSDB possa chegar a mais de duas décadas de comando 

do Palácio dos Bandeirantes.



“O PSDB tem uma monarquia hereditária. Alguém precisa entender o que 

acontece em São Paulo. A reeleição do Alckmin no primeiro turno é 

uma coisa verdadeiramente espantosa”, avaliou. Para ela, é difícil explicar 

como o governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento 

de água, denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública, 

como a perda de qualidade do Metrô paulistano, alvo de denúncias de 

formação de cartel e pagamento de propina a políticos do PSDB.



“Por que fico estarrecida? Porque você teve milhares e milhares e milhares 

de jovens nas ruas pedindo em São Paulo mais saúde e mais educação. Se 

você pede mais saúde e mais educação, considera que são direitos sociais 

e que têm de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin. Estou 

tentando entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado por 

quem você reelege.”



Ela avalia que o PSDB trata políticas públicas não como direitos, mas como 

um produto que a população deve ter recursos financeiros para adquirir. Nesse 

sentido, entende também que uma parcela da sociedade paulista enxerga 

os avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do PT não 

como uma melhoria no papel do Estado, mas como um mérito individual. 

“Não há nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para 

trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma 

ideologia de classe média, que é a do esforço individual.”



Marilena Chauí considera que ainda é cedo para estabelecer uma relação entre 

o saldo final das manifestações de junho e o alto número de abstenções e 

de votos brancos e nulos – 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em branco 

e 5,80% em nulo. De outro lado, ela avalia que o resultado geral das eleições 

de ontem, com crescimento de Aécio Neves (PSDB) na reta final da corrida 

presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no Congresso, 

tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional pela 

despolitização da sociedade.



“Uma das coisas que mais têm acontecido no país é um processo realizado pela 

grande mídia, tanto impressa como falada como televisiva, é um processo 

que vem vindo nos últimos oito anos, e sobretudo nos últimos quatro, de 

esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão política. Você tem a 

operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Fora disso você 

não tem o verdadeiro debate político. Eu diria que os partidos políticos são 

responsáveis também pela ausência de um grande debate político. Ou porque 

não têm o que propor, ou porque não querem entrar neste debate.”

http://www.conversaafiada.com.br/pig/2014/10/06/chaui-
quer-entender-eleicao-de-alckmin/

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