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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

JORNAIS EVITAM TRATAR DE SEU APOIO À DITADURA

Relatório coloca imprensa diante do espelho

Por Luciano Martins Costa em 11/12/2014 na edição 828
A apresentação do relatório final da Comissão da Verdade, em solenidade oficial, marca o momento histórico em que as instituições brasileiras são colocadas diante da escolha entre consolidar a democracia ou manter ao relento os fantasmas da ditadura.O destino do documento não é tão importante quanto as responsabilidades que ele coloca diante da sociedade, num contexto em que uma parcela da população, ainda que mínima, se sente encorajada a pedir a volta do regime de exceção.
Os três jornais de circulação nacional, que conduzem a agenda pública e ancoram os principais temas que circulam nas redes de comunicação, destacam o assunto em manchete e, em graus variados de sutileza, tratam de desencorajar o passo seguinte, que seria o processo de punição dos autores dos crimes de tortura, assassinato e desaparecimento de pessoas colocadas sob sua guarda.A leitura criteriosa de cada um deles revela que tanto o Globo quanto a Folha de S. Paulo e o Estado de S. Paulo prefeririam não ter que lidar com esse legado macabro.
Mas a História, como se sabe, se desenrola em conjuntos de espirais e de cada uma delas se pode confrontar, periodicamente, tudo aquilo que não foi resolvido em seu devido tempo.Assim como a corrupção de hoje reflete a impunidade de antigas falcatruas, a vergonha que agora atinge algumas entidades do Estado, principalmente as Forças Armadas, é um reflexo da tentativa inútil de abafar sob o pó do tempo aquilo que não pode ficar oculto.
Os 377 criminosos apontados pela Comissão da Verdade representam não apenas o lado mais obscuro do regime deletério, mas também fazem lembrar aqueles que colaboraram ativamente, passivamente, ou na sombra da omissão, para que os crimes fossem cometidos com tanta naturalidade ao ponto de se transformarem em processos quase burocráticos na rotina do aparato de repressão.Ativa, passiva ou na sombra da omissão, a imprensa tem sua parcela de responsabilidade, e nesta quinta-feira (11/12) pode-se observar como cada uma das grandes empresas de mídia reage diante do espelho.
Encarando o passado
Dos três principais diários do País, o único que evita abordar o assunto em editorial é a Folha de S. Paulo – que preferiu citar em nota curta o trecho do documento que se refere ao apoio que parte da imprensa deu ao golpe militar em 1964.
Também há referência ao trecho em que o relatório acusa a empresa Folha da Manhã de haver financiado a Oban (Operação Bandeirantes, nome que se deu a um dos grupos do sistema repressivo) e de ter cedido veículos para suas ações.O texto reconhece que "em 1964, a Folha apoiou o golpe, como quase toda a grande imprensa", mas nega que o jornal tenha dado suporte financeiro ao sistema repressivo ou emprestado carros de sua frota para as ações ilegais.
Não era necessário haver um esquema oficial: pelo menos dois dos jornais do grupo eram dirigidos por policiais e empregavam agentes ligados ao sistema, que faziam jornada dupla, servindo ao jornalismo e ao aparato do Estado e circulavam à vontade a bordo das peruas Veraneio pintadas de amarelo.
Estado de S. Paulo e o Globo encaram em editoriais o passado que, confessadamente, prefeririam ver esquecido. O jornal paulista propõe uma forma estranha de resolver pendências históricas, ao dizer que a Lei da Anistia cobre todos os atos daqueles tempos: "Não se tratava de perdoar crimes, mas de deixá-los no passado, no âmbito da história", diz o texto.O Globo alinha as virtudes do relatório, principalmente o fato de iluminar os porões da repressão e ajudar a "manter viva a memória dos horrores da ditadura", mas também se manifesta contra o julgamento dos acusados.
De modo geral, o conjunto das reportagens e trechos do documento citado e comentado pelos três diários contribui para dar ao leitor uma ideia do que foram aqueles tempos de horror.
Destaque-se o texto em que o Globo reproduz depoimentos de vítimas que sobreviveram às sevícias, cuja leitura ajuda a entender a extensão daqueles crimes.Observe-se também que o título escolhido pela Folha para a reportagem principal distorce o sentido de justiça, propósito original da Comissão da Verdade: "Acerto de contas", diz o jornal.
A linguagem jornalística tem dessas sutilezas.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/relatorio_coloca_
imprensa_diante_do_espelho

domingo, 1 de junho de 2014

É HORA DE PRENDER OS TERRORISTAS, A LEI DEMOCRÁTICA PROTEGE AS MAIORIAS

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

DELEGADO DE INFORMAÇÕES DESTRÓI LIVRO DA VEJA, ASSINADO POR TUMA JR.

Delegado diz que livro de Tuma Jr. é recheado de 'deboches e bravatas'

Do Observatório da Imprensa
 
 
Por Mauro Marcelo de Lima e Silva 
Resisti à tentação de comprar o livro Assassinato de Reputações: um crime de Estado, de Romeu Tuma Júnior (Editora Topbooks 2013), mas acabei cedendo quando fui informado que havia menção ao meu nome. Li-o em três dias e cheguei à conclusão de que o título correto deveria ser “Como cuspir no prato que comeu”.
São mais de 500 páginas confusas e com imprecisões temporais, recheadas de acusações sem provas, chulices, deboches e bravatas, nas quais o autor chega ao cúmulo de dizer, com todas as letras, que seu pai, o Tumão, morreu de desgosto quando o autor foi defenestrado da Secretaria Nacional de Justiça. Pasmem: ele diz isso e acredita nisso.
Na sua visão obliterada, o autor foi exonerado ou por perseguir Daniel Dantas, que diz ser amigo do governo, ou por ter achado uma conta secreta nas Ilhas Cayman atribuída (mas nunca comprovada) a José Dirceu, ou por ter “peitado” o governo ao impedir a operação Satiagraha, ou por tudo isso junto. Para justificar tirá-lo do cargo, fantasia que o governo determinou à Polícia Federal que fizesse uma ultra-super-hiper-secreta investigação, interceptando conversas telefônicas do amigo do amigo do amigo dele para chegar até a sua pessoa e depois, por determinação de Lula, as gravações foram seletivamente vazadas a determinados jornalistas e panfletadas na internet, para assim “fritá-lo” perante a opinião pública e o governo, enfim, demiti-lo. Não bastava aí uma canetada do presidente? Mas é nessa chicana conspiratória que ele piamente acredita.
Centro das atenções
Encolerizado por ter sido tirado do cargo – onde se considerava a figura central da atual República – ele quer, neste cartapácio, limpar sua honra que julgou atingida por essa investigação. Para isso, dispara sua metralhadora giratória contra o ex-presidente Lula, contra os ex-ministros Márcio Thomaz Bastos e Tarso Genro, contra a Polícia Federal e seu ex-diretor, contra o DHPP de São Paulo, contra “os maquiavélicos do PT e da PF”, contra o PSDB, contra o Judiciário, contra promotores e procuradores, contra delegados de polícia, contra membros da Secretaria Nacional de Justiça, contra o jornal O Estado de S. Paulo, além de outras autoridades e instituições.
Compara o governo a traficante de favelas e brada ter atrapalhado o projeto de poder do PT e os interesses “da banda”. Ofende, menospreza, ridiculariza e calunia o ex-presidente Lula, apontando-o como informante do seu pai, Tumão. Ok. O papa Francisco é ateu, sabiam?! O papel aceita tudo, até infâmias.
Você, leitor, nunca verá tamanho egocentrismo nessa resma. Recheado de “eu fiz”, “eu sei”, “eu prendi e mandei prender”, “foi por minha causa”, “eu avisei”, “eu sou o melhor”, “eu tinha razão”, “foi minha idéia”, “eu propus”, “eu baixei a criminalidade”, “eu mostrei quem eu sou”, “eu investiguei os mais clamorosos casos no Brasil e no exterior”, “eu fui o cara certo na hora certa”, “eu fiz e desfiz”, “eu sou competente”, “eu, experiente policial”, “eu tenho capacidade técnica”, só faltando mesmo ele dizer “esse cara sou eu”, tamanho ego, que não cabe nas 560 páginas.
Na defesa de sua reputação, que considera mais valiosa que a sua própria vida, elogia excessivamente a si e a seus atos querendo ser o centro de todas as atenções julgando suas opiniões e interesses mais importantes que os pensamentos dos outros. Que nome poderíamos dar a isso?...
Verdade falseada
Quando discorre sobre a morte do prefeito Celso Daniel, narra um verdadeiro filme, um thrillerhollywoodiano com convicção baseada em achismos e especulações. Esquece que o crime foi duas vezes investigado pela Polícia Civil – instituição constitucionalmente investida no poder de investigação e capacitada para isso – que concluiu tratar-se de crime comum; mas para o autor, se ele tivesse investigado, teria esclarecido de forma diferente, pois tinha as melhores pistas, os melhores indícios e as melhores provas. Nessa trama, menciona “eu acho”, “provavelmente ocorreu isso”, “tive a sensação de que”, “acredito que”, “minha tese é”, “meu entendimento é”, “avalio eu”, “penso que”, ou seja, sua teoria é recheada de suposições e conjecturas diversas, chegando a afirmar que Celso Daniel morreu com expressão de sofrimento no rosto. Ora, como ensinado em Medicina Legal, cadáveres não têm expressão de sofrimento – algo talvez apregoado na Idade Média – pois é sabido que, após a morte, toda a musculatura do corpo relaxa, sendo impossível um cadáver estampar qualquer tipo de sentimento.
No mais fino exemplo de jactância, ele compara o Tumão, seu pai, ao Pelé da Polícia, talvez se enxergando como um Neymar desconvocado pelo Felipão...
Entre as afirmações mais absurdas, está a de que Lula foi “aluno de seu pai e aprendeu bem”, pois usou o “talento investigativo adquirido para propósitos inconfessáveis”. Chama o ex-presidente de vingativo e o acusa de criar um Estado policial e de fabricar dossiês. Afirma ter sido um “fraldão” do governo, eleito alvo pelo Palácio, precisando ser alvejado, transposto e abatido. Quando cheguei ao capítulo em que diz que ajudou seu pai a esclarecer o caso Joseph Mengele, confesso que pulei para o próximo, mas quase desisti de ler o resto, quando, na página 318, ele afirma ter ensinado ao jornalista Boris Casoy o bordão “Isso é uma vergonha!” Quanta pretensão.
Escrito a quatro mãos e quatro pés, é nítida a participação do coautor, digamos, no floreamento dos parágrafos, principalmente nas menções de leitmotif, “Razão Instrumental de Max Weber”, “leviatã de Thomas Hobbes”, “Politiburo”, “Soljenitsin”, “devir da filosofia”, “endoxa de Aristóteles” dentre outras. Destila ainda seu ódio à ferramenta de pesquisa do Google, chamado por ele de “Tribunal Superior do Google”. Será que ele sabe o que é e como funciona essa ferramenta de pesquisa, que faz a indexação de mais de 40 trilhões de páginas na web?
Talvez a única coisa correta nesse emaranhado de papéis seja o título, por meio do qual o autor – ou autores – tentam assassinar a reputação do ex-presidente Lula e demais autoridades e instituições que, pela sua ótica deturpada, tramaram pela sua exoneração.
A propósito, sou citado no livro em algumas passagens onde o autor falseia a verdade, inclusive atribuindo a si a minha indicação para fazer um curso fora do país. Ele mente. Nunca houve tal interferência. Minha conclusão? Ele – ou eles – vão precisar contratar bons advogados.
***
Mauro Marcelo de Lima e Silva é delegado de polícia em São Paulo, foi diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e é ex-diretor de Inteligência da Polícia Civil de São Paulo
http://jornalggn.com.br/noticia/delegado-diz-que-livro-de-tuma-jr-e-recheado-de-deboches-e-bravatas

sábado, 4 de janeiro de 2014

TUMINHA ESCONDE QUE SEU PAI OCULTAVA CADÁVERES DE PRESOS



Organizador de “Habeas Corpus” acredita que livro contribuirá para a Comissão da Verdade

Carlos Azevedo pondera que sistematização de documen-
tos sobre desaparecidos da ditadura militar é fruto de 
décadas de esforço de familiares e ajuda a recontar epi-
sódios do regime repressor

por João Peres, da RBA publicado 13/01/2011 19:31, 
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São Paulo – O livro “Habeas Corpus – Que se apresente o corpo”, recém-lan-
çado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, será 
um importante instrumento para a futura Comissão Nacional da Verdade, que 
terá o papel de restaurar a verdade sobre a ditadura militar.
Carlos Azevedo, editor-chefe da redação responsável pelo trabalho, entende 
que a grande contribuição é fazer a sistematização de um material acumulado 
ao longo de décadas. “Poderia dizer que é um trabalho de 40 anos de apuração. 
Foram se somando os documentos levantados pela sociedade desde que se 
abriram alguns arquivos, com o fim da ditadura. Nos últimos anos, a Secretaria 
de Direitos Humanos teve um papel de acelerar essa sistematização”, avalia.
Azevedo ressalta que os esforços do Ministério Público Federal em São Paulo 
como centrais para esse levantamento de dados foi importante para o trabalho.

    O livro teve como foco recontar a história de 184 desaparecidos políticos. Por 
    isso, o esforço de compilação do material trará importantes subsídios ao traba-
    lho da Comissão da Verdade. Enviado ao Congresso no ano passado, o Projeto 
    de Lei 7376 prevê a apuração dos crimes cometidos pelo Estado entre 1946 e 
    1988.
    A comissão a ser criada pela Casa Civil teria sete integrantes indicados pelo pre-
    sidente da República que tenham como pré-requisito o “respeito aos direitos hu-
    manos”. 
    Em 2007, a Secretaria de Direitos Humanos lançou os livros da série “O direito 
    à memória e à verdade”, que se tornaram um importante material de referência 
    para esclarecer alguns dos episódios da ditadura. Azevedo avalia que “Habeas 
    Corpus” é a sequência deste esforço de apuração, reunindo documentos e fatos 
    surgidos ao longo dos últimos anos. 
    Além da história de 184 desaparecidos políticos, a obra soma os avanços obtidos 
    nas buscas por corpos no Araguaia e joga novas luzes sobre o papel de Romeu Tu-
    ma no aparato repressor. Como narrado pela repórter Marina Amaral, o livro re-
    força o papel do político falecido no ano passado na produção de atestados de óbi-
    to com nomes falsos, na simulação de “suicídios” e “tiroteios” em inquéritos, na 
    ocultação dos fatos que levaram à morte de dezenas de desaparecidos e no sumiço 
    de seus corpos. “Os depoimentos dos camponeses do Araguaia indicavam que o 
    Tuma ia à região, com o nome de delegado Silva, e que sua equipe era especializa-
    da em ocultação de cadáveres. Ou seja, o grande coveiro da ditadura”, pondera 
    Azevedo.
    A ocultação de corpos é, sob a legislação internacional, um crime continuado, ou 
    seja, não prescreve enquanto não for localizada a vítima. É esse um dos fundamen-
    tos da decisão proferida no último mês de dezembro pela Corte Interamericana de 
    Direitos Humanos, que definiu que o Estado brasileiro é culpado por não haver so-
    lucionado esse capítulo da ditadura. Ao analisar os crimes cometidos por militares 
    no episódio da Guerrilha do Araguaia, a entidade integrante da Organização dos Es-
    tados Americanos (OEA) determinou que o Brasil adote as medidas necessárias a 
    virar esta página da história, entre elas a punição dos torturadores.
    O título de “Habeas Corpus” transforma-se, portanto, numa interessante sugestão, 
    à medida que resgata o sentido original da expressão em latim que significa “apre-
    sente-se o corpo”. “É uma provocação. Não para os militares em especial, mas pa-
    ra a sociedade como um todo, para que se dê conta de que é preciso encontrar os 
    corpos para poder virar essa página”, pontua o organizador da obra. 
    Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, aponta na apre-
    sentação do trabalho que há uma dívida inegável que precisa ser resgatada. “O reco-
    nhecimento da responsabilidade do Estado pelas violações de Direitos Humanos 
    praticadas durante a ditadura já está consolidado. Mas ainda faltam alguns passos 
    indispensáveis para que se considere plenamente concluída a longa transição para 
    uma democracia irreversível.” 

    sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

    EX-TORTURADOR APONTA APOIO DE EMPRESÁRIOS

    Marina Amaral: A intimidade dos empresários com a repressão

    Conversas com o Mr. DOPS
    Nossa repórter passou mais de 15 horas entrevistando um dos poucos delegados do DOPS ainda vivos, entre os que atuaram nos anos mais duros da ditadura. Enfrentou resistência, informações desencontradas e até um suposto pacto de silêncio – um embate que antecipa os desafios da Comissão da Verdade
    Aos 80 anos, José Paulo Bonchristiano conserva o porte imponente dos tempos em que era o “doutor Paulo”, delegado do Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo, “o melhor departamento de polícia da América Latina”, não se cansa de repetir.“O DOPS era um órgão de inteligência policial, fazíamos o levantamento de todo e qualquer cidadão que tivesse alguma coisa contra o governo, chegamos a ter fichas de 200 mil pessoas durante a revolução”, diz, referindo-se ao golpe militar de 1964, que deu origem aos 20 anos de ditadura no Brasil.
    Embora esteja aposentado há 27 anos, não há nada de senil em sua atitude ou aparência. Os olhos astutos de policial ainda dispensam os óculos para perscrutar o rosto do interlocutor, endurecendo quando o delegado acha que é hora de encerrar o assunto.
    Bonchristiano gosta de dar entrevistas, mas não de responder a perguntas que lancem luz sobre os crimes cometidos pelo aparelho policial-militar da ditadura do qual participou entre 1964 e 1983: prisões ilegais, sequestros, torturas, lesões corporais, estupros e homicídios que, segundo estimativas da Procuradoria da República, vitimaram cerca de 30 mil cidadãos. Destes, 376 foram mortos, incluindo mais de 200 que continuam até hoje desaparecidos.
    Os arquivos do DOPS se tornaram públicos em 1992, mas muitos documentos foram retirados pelos policiais quando estavam sob a guarda do então diretor da Polícia Federal e ex-diretor geral do DOPS, Romeu Tuma. Entre os remanescentes estão os laudos periciais falsos, produzidos no próprio DOPS, que transformavam homicídios cometidos pelos agentes do Estado em suicídios, atropelamentos, fugas. No caso dos desaparecidos, os corpos eram enterrados sob nomes falsos em valas de indigentes em cemitérios de periferia.
    Globo, Folha, Bradesco – e Niles Bond
    Bonchristiano é um dos poucos delegados ainda vivos que participaram desse período, mas ele evita falar sobre os crimes. Prefere soltar o vozeirão para contar casos do tempo em que os generais e empresários o tratavam pelo nome. Roberto Marinho, da Globo, diz, “passava no DOPS para conversar com a gente quando estava em São Paulo”, e ele podia telefonar a Octávio Frias, da Folha de S. Paulo “para pedir o que o DOPS precisasse”. Quando participou da montagem da Polícia Federal em São Paulo, conta, o fundador do Bradesco mobiliou a sede, em Higienópolis: “Nós do DOPS falamos com o Amador Aguiar ele mandou por tudo dentro da rua Piauí, até máquina de escrever”.
    Leia a íntegra deste histórica matéria em:

    quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

    TUCANOS ASSUMEM: SÃO O PARTIDO ANTI-POVO

    Maria Inês Nassif: Tucanos fazem a opção preferencial contra os pobres

    DEBATE ABERTO
    O horror e a opção preferencial contra os pobres
    Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.
    É o horror. Nada mais precisa ser dito para descrever a operação de despejo de Pinheirinho, em São José dos Campos, e a ação policial contra os usuários de crack no centro da capital, na chamada Cracolândia. Mas existem muitas explicações para a truculência, a desumanidade, a destituição do direito de cidadania aos pobres pelo poder público paulista.
    A primeira delas é tão clara que até enrubesce. Nos dois casos, trata-se de espantar o rebotalho urbano de terrenos cobiçados pela especulação imobiliária. O Projeto Nova Luz do prefeito Kassab, que vem a ser a privatização do centro para grandes incorporadoras, vai ser construído sob os escombros da Cracolândia, sem que nenhuma política social tenha sido feita para minorar a miséria ou dar uma opção séria para crianças, adolescentes e adultos que se consomem na droga.
    O terreno desocupado com requintes de crueldade em São José dos Campos, de propriedade da massa falida do ex-mega-investidor Naji Nahas, que já era de fato um bairro, vai ser destinado a um grande investimento, certamente. O presente de Natal atrasado para essas populações pobres libera esses territórios antes que terminem os mandatos dos atuais prefeitos, e o mais longe possível do calendário eleitoral. Rapidamente, a prefeitura de São Paulo está derrubando imóveis; a prefeitura de São José não deve demorar para limpar o terrreno de Pinheirinho das casas – inclusive de alvernaria – das quais os moradores foram expulsos.
    Até outubro, no mínimo devem ter feito uma limpeza na paisagem, o que atenua nas urnas, pelo menos para a classe média, a ação da polícia. A higienização justifica a truculência policial. A “Cidade Limpa” de Kassab, que começou com a proibição de layouts na cidade, termina com a proibição de exposição da pobreza e da miséria humana.
    A segunda é de ordem ideológica. Desde a morte de Mário Covas, que ainda conseguia erguer um muro de contenção para o PSDB paulista não guinar completamente à direita, não existe dentro do partido nenhuma resistência ao conservadorismo. Quando Geraldo Alckmin reassumiu o governo do Estado, em janeiro de 2011, muitas análises foram feitas sobre se ele, por força da briga por espaço político com José Serra dentro do partido, iria trazer o seu governo mais para o centro. A referência tomada foi o comando da Segurança Pública, já que em seu mandato anterior a truculência do então secretário, Saulo de Castro Abreu Filho, virou até denúncia contra o governo de São Paulo junto à Comissão de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos.
    O fato de ter mantido Castro fora da Segurança e se aproximado do governo federal, incorporando alguns programas sociais federais, e uma relação nada íntima com o prefeito da capital, deram a impressão, no primeiro ano de governo, que Alckmin havia sido empurrado para o centro. O que não deixava de ser uma ironia: um político que nunca escondeu seu conservadorismo foi deslocado dessa posição por um adversário interno no partido, José Serra, que, vindo da esquerda, tornou-se a expressão máxima do conservadorismo nacional.
    Isso não deixa de ser uma lição para a história. Superado o embate interno pela derrota incondicional de José Serra, que desde a sua derrota vinha perdendo terreno no partido e foi relegado à geladeira, depois da publicação de “Privataria Tucana”, do jornalista Amaury Ribeiro Júnior, Alckmin volta ao leito. O governador é conservador; o PSDB tornou-se orgânicamente conservador, depois de oito anos de governo Fernando Henrique Cardoso (FHC) e oito anos de posição neoudenista. A polícia é truculenta – e organicamente truculenta, já que traz o modelo militar da ditadura e foi mais do que estimulada nos últimos governos a manter a lei, a ordem e esconder a miséria debaixo do tapete.
    O nome de quem faz a gestão da Segurança Pública não interessa: está mais do que claro que passou pelo governador a ordem das invasões na Cracolândia e em Pinheirinho.
    Outra análise que deve ser feita é a da banalização da desumanidade. Conforme a sociedade brasileira foi se polarizando politicamente entre PSDB e PT, a questão dos direitos humanos passou a ser tratada como um assunto partidário. O conservadorismo despiu-se de qualquer prurido de defender a ação policial truculenta, de tomar como justiça um Judiciário que, nos recantos do país, tem reiterado um literal apoio à propriedade privada, um total desprezo ao uso social da propriedade e legitimado a ação da polícia contra populações pobres (com nobres exceções, esclareça-se).
    Para os porta-vozes desses setores, a polícia, armada, “reage” com inofensivas balas de borracha à agressão dos moradores que jogam pedras perigosíssimas contra escudos enormes da tropa de choque. No caso de Pinheirinho, a repórter Lúcia Rodrigues, que estava na ocupação, na sexta-feira, foi ela própria alvo de duas balas letais, vindas da pistola de um policial municipal. Ela não foi atingida, mas duvida, pela violência que presenciou, das informações de que tenha saído apenas uma pessoa gravemente ferida daquele cenário de guerra.
    (*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo