sábado, 21 de setembro de 2013

HISTORIADOR INGLÊS ELOGIA DILMA POR CANCELAR VIAGEM

Para brasilianista, país cresce com decisão de Dilma de não ir aos EUA

Mário Magalhães
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O historiador britânico Kenneth Maxwell, no Festival de História, em Diamantina

Em Diamantina
A presidente Dilma Rousseff “tomou a decisão correta” ao desistir da visita de outubro ao presidente Barack Obama, nos Estados Unidos. Essa é a opinião do historiador inglês Kenneth Maxwell, 72.
Professor aposentado da Universidade Harvard, nos EUA, Maxwell é um dos mais importantes brasilianistas, como costumam ser designados os acadêmicos estrangeiros especialistas em história do Brasil. Hoje ele mora na Inglaterra.
Maxwell está no país para participar do 2º Festival de História, em Diamantina. Foi nessa bela cidade mineira, terra natal do presidente Juscelino Kubitschek, que ele conversou com o blogueiro, também participante do evento.
O historiador é autor do clássico “A devassa da devassa”, sobre a Inconfidência Mineira. O livro completa 40 anos de lançamento neste mês. Maxwell está lançando “O livro de Tiradentes” (Companhia das Letras), do qual é coordenador. Trata-se de uma coletânea de documentos constitucionais fundadores dos Estados Unidos. Os papéis eram referência dos conspiradores mineiros do século 18, como Joaquim José da Silva Xavier.
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Blog – O senhor concluiu assim sua coluna na “Folha de S. Paulo” desta quinta-feira (19/09), sobre a decisão da presidente Dilma Rousseff de adiar _ou cancelar_ a visita de Estado aos EUA: “Uma coisa é certa: a perda é muito maior para os Estados Unidos, que somente podem culpar a si mesmos”. Por que a perda é maior para os EUA, se nessa relação o Brasil é a parte mais fraca?
KM – Refiro-me ao propósito de vender caças da Boeing para ao Brasil. Vai ser difícil que isso ocorra, principalmente por razões políticas. Acho que isso é impossível, agora. Por essa razão, pensando só nas relações comerciais, é uma perda enorme para os Estados Unidos.
O ganho para o Brasil seria o apoio para um lugar permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Essa é uma ideia brasileira há muitos anos, mas os EUA não têm capacidade de garantir. Podem apoiar, mas as decisões são tomadas fora dos EUA. Inglaterra e França não vão deixar o Brasil entrar. Claro que por seu peso no mundo o Brasil deve ter uma cadeira no Conselho de Segurança. Mas o Brasil não tem o apoio de outros países da América Latina, México principalmente.
Blog – Houve uma série de críticas no Brasil à decisão da presidente de não ir à Casa Branca em outubro. Dilma foi acusada de bravata, provocada por interesses eleitorais. Supõe-se que falar grosso com uma grande potência poderia render votos. Como o senhor analisa essas observações?
KM – Isso é possível, mas as razões para a tomada dessa decisão são totalmente corretas. Os EUA estão numa promiscuidade de ver e ouvir tudo o que está acontecendo no mundo. Há um Estado, os serviços de inteligência, dentro do Estado. Atuam sem inteligência nas suas agências de inteligência. Por que é necessário que eles saibam de todas essas coisas? Por que uma pessoa de mais baixa hierarquia nas Forças Armadas americanas deve saber o que Dilma Rousseff está dizendo aos seus ministros? É totalmente irrelevante.
Blog – Ou com quem estava conversando, como mostram gráficos.
KM – É preciso uma discussão nos Estados Unidos sobre a expansão elefantina dos serviços secretos americanos. Um elefante sem uma mente. Esse é o problema.
Blog – A decisão de Dilma pode vir a dificultar as relações com a Casa Branca ou não haverá maior repercussão?
KM – Vai ter resultados, claramente. Porque geralmente as pessoas que fazem análises da política brasileira não dão muita atenção ao Brasil. E isso chegou em um momento muito mau para a administração Obama. Eles farão uma interpretação de que isso é um jogo nacionalista, coisa assim. Possivelmente, será a reação deles.
Mas, no meu ponto de vista, foi uma posição totalmente correta tomada pela Presidência brasileira. Se ela aceitasse visitar os Estados Unidos… Nós sabemos que Edward Snowden e Glenn Greenwald têm capacidade de fazer vazamentos de informações da forma que eles querem. E esperam o momento ideal de fazer mais vazamentos sobre o Brasil. Mas não sei que outras coisas eles têm.
Blog – A decisão de Dilma repercutirá além da relação Brasil-EUA ou ninguém, incluindo a Europa, está prestando muita atenção no imbróglio?
KM – Isso dependerá muito da reação dos formadores de opinião nos EUA. Mas no longo prazo não creio que haverá grandes danos ao relacionamento entre Brasil e EUA.
Blog – Nem nas relações comerciais?
KM – Acho que não. Porque agora o Brasil está integrado comercialmente ao mundo.
Blog – Com a reação de Dilma à espionagem, o tamanho do Brasil na comunidade internacional aumenta, diminui ou fica na mesma?
KM – Aumenta. Porque foi uma decisão feita por motivos razoáveis. É decisão de um país aliado dos EUA. Não há nenhuma razão para justificar a espionagem sobre políticos e líderes brasileiros e também sobre a Petrobras. É totalmente inaceitável, do meu ponto de vista. O Brasil tomou a decisão correta.

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