Apareceu a “gambiarra” hídrica de Alckmin
14 de maio de 2014 | 09:20 Autor: Fernando Brito
Se o Cantareira fosse federal, a manchete da Folha seria assim:
“Bombeamento do Cantareira, atrasado, começa com apenas quatro das 14 bombas instaladas”.
Mas como o Cantareira é tucano, a Folha não se dá ao trabalho de contar, nas fotos que veicula, quantos “mangueirões” estão colocados e quantas bombas estão em seus lugares.
É por isso, e por mais ainda, que o ilustre leitor da Folha e de todos os outros jornais vinha sendo privado de ver, uma única vez sequer, imagens ou cobertura do andamento das obras emergenciais para salvar São Paulo – sabe-se lá até quando – São Paulo da seca.
Porque ninguém imagina que os chefes de reportagem da Folha e dos outros jornais não tenham feito, durante dois meses, a pauta óbvia de acompanhar as obras, que estão sendo mostradas pela primeira vez.
Obras que merecem o nome de “gambiarra”: por conta da pressa, é extremamente mal feita e imprevidente diante das necessidades futuras.
E não é porque nem todas as bombas estão instaladas, até porque o bombeamento vai começar em quantidades menores do que as que serão necessárias no “pico” do esvaziamento do reservatório,
Não foi aberto um canal de derivação e um “lago” para a instalação das tomadas d”água das bombas, de forma que se pudesse, quando chegarem as chuvas e o nível subir, manter íntegras as instalações para novo uso, em caso de necessidade.
E isso é mais do que adequado, uma vez que, com chuvas normais, o nível do reservatório subirá e não sobrará quase nada da estrutura que foi montada.
Portanto, com uma nova (e quase inevitável, ao menos em 2015) necessidade de bombeamento, vai ter de se esperar a água baixar de novo a níveis dramáticos, porque tudo o que foi feito estará abaixo de água.
Apenas olhando as fotografias, a grosso modo, pois não se divulgaram dados técnicos: como a cota do reservatório ontem era a de 821,5 metros acima do nível do mar, dá para achar que a crista do canal (o topo da barragem de terra)que leva as águas ao túnel de captação está na cota 824 m, 824,5 m com muito boa vontade.
Se o Cantareira, com as chuvas do final do ano, chegasse aos mesmos 24% de volume que tinha em 31 de dezembro, a “obra do século” da Sabesp ficará abaixo de quatro metros de água, pois esse volume corresponde a uma cota de 828,5 metros acima do nível do mar.
Ou seja, se as preces forem atendidas e chover o suficiente encher o reservatório Jaguari-Jacareí com o equivalente a metade de seu volume útil normal, teríamos pouco mais que isso de água no final das chuvas de verão ( 50% menos o volume rebaixado pelo bombeamento).
De qualquer forma, basta olhar as fotografias e ver que tudo está executado de maneira tosca e sem nenhuma preocupação com um fato evidente: que o bombeamento seja, na melhor das hipóteses, novamente utilizado em 2015.
Porque o horizonte otimista é de que, pelo menos durante um ou dois anos mais seja necessário usar a “gambiarra” alckimista.
Mas nada disso importa para a turma da “gestão”.
Tendo água até o dia da eleição, está bom demais.
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