247 – A campanha eleitoral do presidenciável Aécio Neves
corria sem sobressaltos até o último final de semana. Em alta
nas pesquisas e com seu partido pacificado, ele se dedicava,
em silêncio, a dois movimentos simultâneos. De um lado,
convidou o jornalista Otávio Cabral, da revista Veja e autor de
uma polêmica biografia do ex-ministro José Dirceu, para ser o
chefe de sua equipe de assessoria de imprensa e comunicação.
Representaria, ao mesmo tempo, uma provocação ao PT e um
afago na editora Abril, dona de Veja. Parecia não haver contra-
indicações.
Ao mesmo tempo, numa operação bem mais complexa e
estratégica, Aécio resolveu executar uma ideia que lhe pareceu
brilhante. Interessado, desde sempre, em fazer uma coalizão
partidária ampla para aumentar suas chances, o senador
aproximou-se, com extrema discrição, do ex-presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, Meirelles,
fez saber Aécio, tornou-se o sonho de consumo do ex-governador
mineiro para o cargo de seu companheiro de chapa.
Os dois movimentos poderiam ter dado certo, mas agora
desconfia-se que o primeiro gesto ajudou a travar o segundo.
Ou terá sido apenas coincidência? O fato é que no mesmo
período em que Cabral iniciava seu trânsito pelos bastidores da
campanha tucana, o segredo do assédio político sobre Meirelles
se esfarelou. E logo pela coluna Painel, do jornal Folha de S.
Paulo, que publicou nota no domingo 18 cravando o que ninguém
até ali sabia. Mais precisamente, o interesse total e irrestrito de
Aécio em ter Meirelles como seu vice. O Painel é assinado pela
jornalista Vera Magalhães. Ela é casada com o agora ex-repórter
Otavio Cabral, novo titular da comunicação da campanha Aécio
2014.
SEM DEFESA - O 'furo' do Painel deixou Aécio indefeso. O ex-
governador José Serra, com quem ele já desenvolvia um diálogo
difícil, foi à luta em sua página no Facebook. Como reflexo direto
da procura de Aécio por Meirelles, Serra sepultou qualquer chance
de deixar evoluir seu próprio nome como alternativa do PSDB ao
cargo de vice. "Isso é coisa do jornalismo criativo", desqualificou
Serra, que, no entanto, ainda contava com um convite de Aécio
para sair do seu atual ostracismo político. Após saber que o nome
número 1, para o tucano, é o do pessedista Meirelles, Serra
excluiu-se da fila, nada interessado em poupar o ex-governador
mineiro do desgaste que a negativa acarreta.
A jornalista Monica Bergamo, cuja coluna rivaliza com o Painel
de Vera Magalhães na divulgação de notícias exclusivas do mundo
político, deu seu troco na, digamos, concorrente interna dentro da
Folha. Foi ela quem noticiou a contratação de Cabral, cuja esposa
tornou público o assédio tucano a Meirelles.
Ainda no domingo 18, demonstrando a desestabilização provocada
pelo vazamento da informação sigilosa no Painel, o ex-prefeito
Gilberto Kassab, presidente do PSD, afirmou em entrevista ao 247
que não há possibilidade de seu partido aderir ao PSDB e ceder o
passe de Meirelles. "Nosso compromisso com a presidente Dilma
Rousseff é anterior e está mantido", assegurou.
Nesta segunda-feira 19, quando as repercussões negativas para
os tucanos ainda reverberavam, a colunista Juliana Duialibi
confirmou em seu blog que Otavio Cabral será mesmo o novo
chefe de comunicação de Aécio. O jornalista passou incólume pela
sucessão de notícias indigestas para o presidenciável, enquanto o
sonho do tucano em ter Meirelles como vice virou um verdadeiro
pesadelo, no qual até o ministro Guilherme Afif Domingos se viu
no direito de rechaçar publicamente a especulação, garantindo
que Meirelles não será vice de Aécio.
O presidenciável, após a demonstração de irritação de Serra e o
chega para lá de Kassab e Afif, afirmou que, se o PSD mudar de
posição, o interesse por Meirelles está mantido. O próprio Aécio
sabe, no entanto, que a manobra, no mínimo, sofrerá um grande
atraso para ser completada. O segredo tornado público atrapalhou
seus planos.
http://www.brasil247.com/+c0sxg
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.