MINORIA ANTI-COPA DESAFIA
COMPLACÊNCIA DO ESTADO
A 16 dias da Copa do Mundo, pequenos grupos de manifestantes
testam os limites da condescendência do Estado brasileiro;
grandes cidades como Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro voltam
a enfrentar tumultos e engarrafamentos provocados por minorias;
entusiasmo da maioria por receber Copa do Mundo vai sendo
abafado por cenas fabricadas sob medida para se transmitidas ao
vivo pela televisão; basta interromper uma grande avenida para
conseguir atenção global; plano de segurança do governo vai
sendo desafiado a ser colocado em prática com rigor; Mundial
com 500 mil ingressos vendidos, projeção de audiência recorde
e torcida ao lado da Seleção Brasileira não merece ser tisnado
por meia dúzia, em termos proporcionais, de oportunistas
anárquicos; em países ricos e desenvolvidos, repressão não
admite provocações
27 DE MAIO DE 2014 ÀS 21:06
247 – O padrão de manifestações na reta final para a Copa do
Mundo está dado: mistura pleitos sindicais com temas difusos,
dá carona ao 'não vai ter Copa', é violento contra as grandes
cidades e o patrimônio público e, sobretudo, feito por minorias.
A chamada massa não está neles, com todas as diferenças
registradas entre as manifestações de junho do ano passado,
que somaram dezenas de milhares, e os atos patrocinados
agora por punhados de ativistas de origem duvidosa.
Nesta terça-feira 27, exemplos prontos e acabados de como
essa minoria pode estragar a festa da maioria, caso não seja
enfrentada, aconteceram em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Na capital federal, ditos sem teto e índios de arco e flecha
tentaram atacar a taça da Copa do Mundo, exposta numa tenda
diante do estádio Mané Garrincha.
Em seu périplo pelas 27 capitais do Brasil, onde virou até mesmo
programa de visitação escolar, a taça vai sendo vista com alegria,
orgulho e satisfação. O Brasil, afinal, já conquistou-a duas vezes,
além das três vezes em que ergueu a Jules Rimet. Mas uma
minoria de Brasília, de não mais que 300 manifestantes, procurou
tirar todo o brilho dessa passagem com um arremedo irresponsável
de passeata. Na hora do rush, engarrafou todo o tráfego do plano
piloto da capital.
Dezenas de bombas de gás lacrimogêneo tiveram de ser usadas
pela PM, que estava posicionada com tropa de choque e cavalaria
para defender o espaço da Fifa. A visitação à taça teve de ser
suspensa e os manifestantes ganharam com toda a exposição
ao vivo nas redes de tevê. Mais imagens enviadas para o mundo,
cada uma delas criadas, reforçando, uma minoria.
Em São Paulo, não mais que 2 mil professores se deram o direito
de, pela quarta vez nos últimos dias, invadir pistas das grandes
avenidas e marchar com ameaças sobre a Prefeitura da cidade.
Deixando um rastro de caos no trânsito, estão sempre abertos
a receber grupelhos do chamado 'não vai ter Copa' à reboque.
Registre-se que, se um dia esse slogan foi chamado de
'movimento', isso não se confirmou, dado seu absoluto esvaziamento
de público nas poucas vezes em que tentou se auto-convocar. Há
um burburinho pela internet, com imagens de baixo nível e grau
máximo de despolitização, que igualmente não alcançou seu
sonho – ou pesadelo – de ser um viral.
No Rio de Janeiro, com os rodoviários sendo envolvidos em uma nova
greve por dissidentes do sindicato da categoria, o mesmo quadro se
repete. Violentos no início do mês, quando atacaram garagens para
depredar mais de 360 coletivos, eles prometem voltar à carga a
partir da meia-noite desta quarta-feira 28.
Manifestações pouco numerosas também ocorrem em outras
capitais, enquanto que um iniciante clima de festa começa pelas
cidades menores do país, refletindo ainda discretamente nas
maiores. É claro que, à medida em que a competição começar, e
a Seleção Brasileira, que cumpriu hoje seu primeiro dia
concentração, avançar, mais e mais brasileiros irão aderir. Não é
novidade. Desde os tempos do Pra Frente, Brasil, em 1970, cada
Copa teve seu reflexo no público. Mas nunca, nem mesmo durante
a ditadura militar, essa adesão foi violenta.
Agora, no entanto, o poder real e midiático de quem provoca
um congestionamento, faz uma depredação ou tenta cometer um
atentado contra a Copa – como, a rigor, ocorreu durante a tarde
na capital federal – é desproporcional ao grito de alegria e respeito
pela Copa do Mundo que vai sendo dado pela maioria do País. Se
fosse para não querer Copa, os sinais seriam outros, com muito,
mas muito mais gente nas ruas, e de todas as classes sociais ou,
ao menos, da classe média e estudantes. Foi assim em junho, não
está sendo assim agora.
Reclamos do colunista conservador global Carlos Lacerda, quer
dizer, Arnaldo Jabor, caem no vazio. Ele age como um anarquista
bufão a pastorear seu público na concessionária Rede Globo ao
abismo do quanto pior, melhor. É um dos chefes da minoria isolada,
motivo sem retoques do declínio de audiência da emissora dos
três bilionários irmãos Marinho. A esse e outros chamados, a
grande, imensa maioria da população está enviando uma resposta
de aceitação à Copa do Mundo no Brasil.
Os poucos manifestantes de agora não fazem mais que testar os
limites da condescendência do Estado. Em outros países do
mundo, já teriam sido convidados, sem cerimônia a se retirar.
Em Washington, capital dos Estados Unidos, por exemplo,
passeatas que invadem ruas são realinhadas a borrachadas para
cima das calçadas. Em Berlim, na Alemanha, jatos d'água
poderosos ainda são usados para dispersar protestos. Na França,
as tropas de choque mais parecem unidades de combate americanas
nos auge da guerra do Afeganistão. Até mesmo na vizinha Argentina
o Estado parece saber se defender de maneira bastante eficaz frente
a ações minoritárias.
A medida do enfrentamento com a minoria que prejudica a maioria
tem de ser encontrada a cada situação. Nas ruas, cada caso é um
caso de grande repercussão e complexidade. O que não significa que
o Estado não deva, por seus meios tradicionais, usados em todo o
mundo democrático, a efetivamente agir. Provocação de
congestionamentos em horários de rush, realização de ataques a
alvos esportivos e quebra-quebras de oportunidade não merecem complacência.
O Mundial já alcança 500 mil ingressos vendidos no País e dezenas
de milhares de credenciamentos de mídia. É um sucesso comercial,
de adesão esportiva e na projeção de audiência. Os estrangeiros
virão em lotes ao Brasil. Nunca foi um costume recebê-los mal, de
cara cerrada e punhos fechados. Nem na literatura, muito menos
na vida real, jamais o brasileiro agiu assim. Ao contrário. As
capitais vivem sendo reconhecidas internacionalmente como entre
as mais cordiais do mundo, a começar pelo Rio de Janeiro, de Lacerda
e Jabor, e São Paulo. É essa verdade que tem de prevalecer.
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