O FUTURO DO BRASIL CHEGOU,
DIZ DOMENICO DE MASI
Para o autor do recente livro 'O futuro chegou', que participou
nesta terça-feira 27 de audiência pública no Senado, o momento
do Brasil é este; segundo o sociólogo italiano, o País pode
oferecer a um "mundo desorientado" um novo e pouco
conhecido modelo de vida
27 DE MAIO DE 2014 ÀS 17:44
Marcos Magalhães, da Agência Senado - Nem o clima tenso
que antecede a Copa do Mundo nem a perspectiva de reedição
de grandes manifestações populares conseguem obscurecer o
otimismo do sociólogo italiano Domenico de Masi. Para o autor
do recente livro O futuro chegou, que participou nesta terça-
feira (27) de audiência pública no Senado, o momento do Brasil
é este. E o país pode oferecer a um "mundo desorientado" um
novo e pouco conhecido modelo de vida.
Ainda em 1930, recordou o sociólogo, foi dito pela primeira vez,
pela voz de um personagem do livro País do carnaval, de Jorge
Amado, que o Brasil seria o país do futuro. Uma década depois,
prosseguiu, foi a vez de o autor austríaco Stefan Zweig usar a
mesma expressão como título de um livro sobre as
possibilidades do país. Agora, compara o intelectual italiano, o
Brasil tem o sétimo maior Produto Interno Bruto (PIB) do
planeta, conta com grandes intelectuais e possui dezenas de
boas universidades.
- O futuro chegou. Este é o futuro – disse De Masi ao final da
audiência pública, promovida conjuntamente pela Comissão
Senado do Futuro e pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte
(CE).
Ele criticou a soberba europeia, que renega outras culturas, e
elogiou o escritor Gilberto Freyre por ter dito que nunca gostaria
de ser "completamente maduro, mas sim experimental e
incompleto". Em sua opinião, essa busca constante pelo
conhecimento e pela sabedoria é uma das boas características
do que chamou de modelo brasileiro. Entre as outras, ele citou a
mestiçagem, em um mundo cheio de conflitos raciais, e a
contemplação da beleza.
Para o sociólogo, o arquiteto Oscar Niemeyer definiu o espírito
brasileiro ao contestar o racionalismo do arquiteto suíço Le
Corbusier, que havia feito a defesa da linha reta. "O que me atrai",
respondeu Nimemeyer, citado por De Masi, "é a curva livre e
sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no
curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da
mulher preferida".
– O Brasil nunca fez uma guerra contra seus vizinhos, com
exceção da Guerra do Paraguai. E enquanto nós fazíamos guerras
na Europa, o que faziam os índios no Brasil? Faziam arte, pintando
o corpo da mulher amada – comparou Domenico de Masi.
Coragem
Provocado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que
promoveu um diálogo com o convidado durante a reunião,
presidida pelo senador Cyro Miranda (PSDB-GO), o sociólogo
criticou os intelectuais, por não formularem um novo modelo de
referência para as sociedades em um período pós-industrial. Em
sua opinião, os intelectuais perderam a coragem e não se
arriscam a estabelecer novos paradigmas. Ele criticou inclusive
os intelectuais brasileiros, que classificou de muito pessimistas.
A senadora Ana Amélia (PP-RS) citou o economista francês
Thomas Piketty, autor do livro O capital no século 21, para
perguntar ao italiano se concordava com a conclusão de Piketty,
de que a renda está cada vez mais concentrada no planeta. O
sociólogo concordou em que a concentração de renda vem
aumentando dentro de cada país. Ele observou, porém, que
os países ricos estão ficando menos ricos, e os pobres, menos
pobres.
A senadora Ana Rita (PT-ES) e o senador Inácio Arruda
(PCdoB-CE) lembraram as diversas campanhas sindicais em
defesa da redução da jornada de trabalho no Brasil,
atualmente estabelecida em 44 horas semanais. De Masi
inicialmente lembrou que há vários tipos diferentes de
trabalho. Quanto ao trabalho criativo, exemplificou, o trabalho
não para nunca, pois o intelectual precisa estar sempre atento
ao mundo que o cerca. Como regra geral, ele defendeu jornadas
semanais de 15 horas.
– O trabalho é um vício, não uma virtude. Um vício imbuído
pela religião, para compensar o pecado original. No paraíso não
se trabalha – disse de Masi.
O sociólogo concordou com o senador Eduardo Suplicy (PT-SP),
para quem programas de renda básica deverão integrar o "futuro
que está chegando". Ele criticou ainda os ricos que não aceitam
compartilhar sua riqueza com as parcelas mais pobres da
sociedade.
– Conheci muitos ricos no Brasil que viviam cercados de
seguranças. Perguntei a eles por que eles não pagavam impostos
maiores, para que eles não precisassem de seguranças. Na
Itália também existem ricos, mas os perigos são mínimos –
comparou.
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