SEM POVO, GOLPISMO SE ISOLA
ENTRE MEIA DÚZIA
Rascunhos pela exceção produzidos, na mídia, pela
trinca Merval Pereira, Ferreira Gullar e Arnaldo
Jabor despertam repulsa; chamados à radicalização
feitos pelo senador Aloysio Nunes e ex-governador
Alberto Goldman os equiparam ao deputado Jair
Bolsonaro; povo não corresponde a impulsos
golpistas; falta de ressonância política à pregação
da quebra da ordem mostra que arautos do caos
estão isolados.
20 DE NOVEMBRO DE 2014 ÀS 05:36
247 – O golpismo assoprado entre alguns colunistas da mídia tradicional, que por sua vez contaram com o incentivo prévio de políticos dispostos a radicalização, caiu no vazio. Faltou eco nas ruas e não há ressonância no Congresso para as teses rascunhadas por colunistas como Merval Pereira, de O Globo, e moralistas como o poeta Ferreira Gullar e o global Arnaldo Jabor. Não houve repercussão positiva à tentativa, feita por Merval, em texto na terça-feira 18, em O Globo, de elevar à condição de tema político sério a tese de impeachment da presidente Dilma Rousseff e do vice Michel Temer. "Isso não é golpismo", escreveu, candidamente,
o imortal que dera o roteiro para a derrubada da presidente
eleita num tapetão institucional.
Antes de Merval, com um pouco mais de parcimônia, Jabor
classificou o momento atual como igual "a um passado pré-
impeachment do Collor". Uma torcida evidente pela retomada
daquela movimentação. Buscando destaque nesse debate, Gullar
registrou no fim de semana a expressão "golpe democrático",
que sabe se lá como pode ser aplicado, uma vez que é golpe,
mas é democrático. À la Paraguai, talvez ela tenha procurado
dizer.
Esses posicionamentos se esvaziaram por si mesmos, mas eles
foram assoprados, antes, por chefe políticos como o senador
Aloysio Nunes e o ex-governador Alberto Goldman. Ambos
conseguiram ficar isolados no PDSB ao pregar o não diálogo com
o governo que, efetivamente, venceu uma eleição democrática.
Goldman chegou a avaliar que a presidente Dilma "não terá
condições de governar". Com essa expressão de vontade,
equiparou-se ao deputado Jair Bolsonaro, que se elege pregando
a negação da democracia por meio da volta dos militares ao poder.
O problema tanto para os colunistas como para os políticos é que
não foi dada nenhuma atenção expressiva ao que eles escreveram
ou disseram. Por duas vezes tentou-se levar, a partir de São Paulo,
para dezenas de cidades brasileiras as marchas pela derrubada de
Dilma. Isso representaria a montagem do cenário público para o
golpe do resultado de uma eleição democrática.
O vazio das passeatas ocorridas apenas na avenida Paulista – e
que sequer existiram em outras cidades – mostrou, porém, que os
que pregão um atalho para tentar voltar ao poder estão sozinhos.
No Congresso, o convite à instalação de um processo de
impeachment não teve o menor eco.
Sem querer, a meia dúzia de pregadores da interrupção no ciclo
democrático prestou um serviço à democracia: ficou provado que
ideias esdrúxulas como as deles não criam o mesmo clima de crise
que argumentos muitos semelhantes conseguiram criar 50 anos atrás,
nos idos de 1964. Eles podem não ter percebido, mas o Brasil de
hoje não se deixar enganar e está pronto para resistir às vivandeiras
de plantão.
https://www.brasil247.com/pt/247/poder/161050/Sem-povo-golpismo
-se-isola-entre-meia-d%C3%BAzia.htm
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