quarta-feira, 26 de novembro de 2014

COMISSÃO DA VERDADE EM S. JOSÉ DOS CAMPOS RELATA CRIMES DA DITADURA

Comissão Nacional da Verdade relatará prisões de alunos no ITA

Audiência da Comissão da Verdade de São José. Foto: Arquivo/OVALE
Audiência da Comissão da Verdade de São José. Foto: Arquivo/OVALE
Registro é baseado em documentos e testemunhos coletados pela Comissão da Verdade de São José
Max RamonEditor de Política
A Comissão Nacional da Verdade, criada pelo governo federal para apurar crimes e violações de direitos ocorridos no país durante a ditadura militar (1964-1985), vai incluir em seu relatório final casos de perseguições políticas a professores, alunos e funcionários do ITA (Instituto Tecnoló-gico de Aeronáutica), de São José dos Campos.
O documento será apresentado no dia 10 de dezembro à presidente Dilma Rousseff (PT). Detalhes do relatório ainda são mantidos sob sigilo, mas O VALE apurou que o ITA deve ser citado em pelo menos dois capítulos: um que abordará violações de direitos no meio universitário e outro sobre crimes contra militares que não apoiavam a ditadura.
Considerado um dos principais centros de excelência do ensino superior do Brasil, o ITA está instalado dentro do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial), uma área militar.
Durante a ditadura, 21 alunos e 2 professores do instituto foram presos por suspeita de ligação com o proscrito Partido Comunista --para a linha dura militar, um “crime de subversão”. Todos eles acabaram expulsos da instituição, a maioria após meses de tortura nos porões do regime.

Cooperação. As menções ao ITA no relatório da Comissão Nacional da Verdade foram baseadas em informações levantadas pela Comissão da Verdade da Câmara de São José, criada no ano passado para apurar abusos cometidos na cidade durante a ditadura.
Por meio de um acordo de cooperação, cerca de 19.000 páginas com cópias de documentos relacionados ao período e transcrições de depoimentos --abordando não apenas as violações de direitos no ITA, mas também em outras instituições de ensino, na política, na imprensa e no meio sindical de São José-- foram enviadas pelo Legislativo à Brasília.
O relatório da comissão de São José será apresentado oficialmente no próximo dia 9.
“O interesse da Comissão Nacional é um sinal claro de que o nosso trabalho teve não apenas repercussão como eficácia”, disse o jornalista e ex-preso político Luiz Paulo Costa, que atuou como assessor voluntário do grupo.
Os abusos no ITA foram abordados em quatro audiências da Comissão de São José, que reuniram ex-alunos e ex-professores e até militares.

Memória. As prisões de alunos e professores do ITA ocorreram em três momentos.
As 14 primeiras (foram 12 alunos e 2 professores) aconteceram logo após o golpe militar, em 1964. Outros quatro acabaram presos depois da formatura de 1965, quando fizeram uma homenagem aos colegas perseguidos. Mais cinco alunos seriam detidos em 1975, logo após um movimento contra o projeto que pretendia obrigar todos os alunos do ITA a servirem à Aeronáutica --projeto que acabou barrado.
“O legado importante que deixaremos é a reflexão, pois para aqueles que ainda duvidavam São José teve sim pessoas perseguidas durante a ditadura”, disse a presidente da Câmara, Amélia Naomi (PT).
A Comissão da Verdade de São José foi batizada com o nome do ex-reitor do ITA Michal Gartenkraut, demitido do cargo em 2005 após conceder diplomas honorários a seis dos ex-alunos expulsos durante a ditadura. Ele morreu em julho de 2013, aos 66 anos. 
http://www.ovale.com.br/comiss-o-nacional-da-verdade-relatara-pris-es-de-alunos-no-ita-1.573883

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