Cuidado cidadão: um direito humano fundamental está em
risco!
http://www.dhnet.org.br/tecidocultural/imagens/direitos_humanos.jpg
A origem da civilização ocidental está fortemente associada
ao surgimento das leis. A república e a democracia, na origem grega (Platão),
já estabeleciam que a lei era igual para todos os cidadãos, embora a definição
de cidadão naquela época não incluísse todos os seres humanos, apenas homens
gregos maduros e com posses, mas isso é outra história. Seguindo essa linha, a
Roma antiga tentava controlar os poderes dos césares com o senado, submetendo
até eles às leis, nos intervalos entre os golpes militares autoritários. Embora
a trevas da idade média e o fanatismo religioso dessa época tenham fragmentado
a Europa e colocado seu povo sob o jugo de divinos e nobres déspotas por mais
de um milênio, é de lá que surge novamente a ideia de garantir liberdade
universal aos indivíduos. Tanto a imigração de súditos do reino unido, que
acabaram fundando os EUA, como a revolução francesa, foram fundamentais nesse
aspecto. Focando na constituição norte-americana, escrita por cidadãos (com uma
definição um pouco melhor que a dos gregos, mas ainda racista, chauvinista
etc.), e não por um rei ou general, vamos perceber que ela busca proteger os direitos
dos indivíduos de uma força avassaladora, muito superior ao mais forte
indivíduo: o Estado. Reconhecendo a necessidade do Estado - não foi uma
revolução anarquista, a americana - os fundadores da pátria também reconheciam
que quanto mais forte ele fosse, maior seria a probabilidade de surgir um
déspota que se apropriasse desse poder em seu benefício, se tornando invencível
em qualquer luta empreendida contra um único cidadão. Daí ser tão claro na
constituição americana, e nas que se seguiram na maioria dos estados ocidentais
que aboliram a monarquia, a presunção da inocência e o direito a um segundo
julgamento para todos. Hoje, o inimigo mais poderoso pode até não ser o Estado,
mas as corporações ou, mais simplesmente, o poder econômico, de qualquer forma,
para um indivíduo, o cidadão solitário, se o STF brasileiro, em pleno século
XXI, jogar fora as garantias universais de direitos humanos e decidir que
qualquer um pode ser culpado sem provas e sem direito a um novo julgamento,
estaremos retornando às trevas. Muito pior do que eventualmente libertar um
culpado é condenar um inocente. Essa afirmação faz parte da maioria dos textos
filosóficos mais antigos da humanidade. É simples assim: somos todos inocentes
até prova em contrário e a maioria de nós é verdadeiramente inocente. A lei
existe para proteger os fracos da força dos poderosos. Não se pode aceitar,
para condenar os desafetos do momento, a
revogação desse direito conseguido com a luta, a vida e o sangue de
milhões ao longo de milhares de anos. Por isso, eu confio que o último ministro
a votar vai aceitar os embargos infringentes.
Alfredo José Barreto Luiz
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.