Propinoduto tucano sumiu da mídia
Portal Terra/Levante Popular |
Nesta quarta-feira (4), cerca de 2 mil jovens realizaram uma manifestação em frente às sedes das multinacionais Siemens e Alstom, na zona oeste de São Paulo, para exigir a apuração das denúncias sobre o propinoduto tucano. O protesto foi organizado pelo Levante Popular da Juventude e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), mas não obteve a mesma cobertura jornalística da mídia privada, que tentou pegar carona e pautar as mobilizações juvenis de junho. Na prática, a imprensa tucana – que abocanha fartos recursos em publicidade do governo de Geraldo Alckmin – já sumiu com o escândalo de corrupção do PSDB de São Paulo.
“Precisamos fazer um acerto de contas com as empresas corruptoras, que sempre ficam invisíveis nos escândalos de corrupção. A Siemens e a Alstom precisam ser investigadas e punidas, além dos políticos do PSDB. Não podemos admitir que a população sofra todo dia com a falta de qualidade do transporte público, enquanto empresas estrangeiras desviam recursos públicos”, protestou Thiago Pará, dirigente do Levante Popular da Juventude. “Não é mole não, o tucano é só corrupção”, cantaram os jovens durante o protesto. Na sede do grupo francês Alstom, os manifestantes picharam "empresa corruptora".
Já na sede da Siemens, os ativistas lembraram os sete mortos no acidente nas obras do Metrô-Linha Amarela. “O nome de cada um deles foi saudado e foi colocada uma cruz para cada um deles em frente da empresa alemã”, relata o sítio do Levante da Juventude. “Essas empresas eram responsáveis pelas obras na Linha Amarela e têm culpa na morte desses trabalhadores, que são símbolos da falta de respeito com o povo brasileiro. É preciso fazer justiça. Enquanto não houver justiça, haverá escracho popular”, prometeu Pará. O MAB também denunciou que a Siemens e a Alstom são responsáveis pelas obras de construção de barragens e são acusadas de formar um cartel para superfaturar os preços dos serviços.
Polícia Federal entra no trilho
Além dos protestos de rua exigindo a apuração das denúncias do propinoduto, o escândalo tem tido outros desdobramentos. Na quinta-feira passada (29), “agentes da PF entraram no edifício do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, centro da capital paulista, e subiram ao quinto andar em busca de documentos relacionados à formação de cartel das empresas ligadas ao transporte sobre trilhos em São Paulo. A ação policial teve como foco 21 contratos com indícios de irregularidades, de acordo com pessoas ligadas à investigação e ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica)”, relata a revista IstoÉ em matéria assinada por Alan Rodrigues, Pedro Marcondes e Sérgio Pardellas.
Ainda segundo a reportagem, “os negócios, em valores corrigidos, somam cerca de R$ 11 bilhões. Cinco já foram julgados irregulares pelo Tribunal de Contas. Já três, estimados em R$ 6,3 bilhões, nem sequer foram julgados. Outros 13, como o projeto executivo para o trecho Ana Rosa/Ipiranga da Linha 2 Verde, que custou ao menos R$ 143,6 milhões, foram considerados regulares pelo tribunal. A Polícia Federal pretende usar as informações contidas nos procedimentos do TCE para complementar um inquérito que investiga as fraudes cometidas pelas 18 empresas participantes do cartel, que teria abastecido um propinoduto que percorreu as gestões do PSDB em São Paulo nos últimos 20 anos”.
Pressão das ruas é urgente
O ingresso da PF no caso também não teve maior repercussão no restante da mídia. As emissoras de televisão quase não falam mais sobre o propinoduto tucano. Os jornalões dão apenas pequenas notas e o assunto sumiu das manchetes. Entre as revistonas, a situação mais escabrosa é da Veja – que recentemente foi premiada com a compra de milhares de assinaturas pelo governo estadual. Ela simplesmente não toca no assunto explosivo. Caso não ocorram mais protestos de rua, como o organizado pelo Levante Popular da Juventude e o MAB nesta quarta-feira, a tendência é que o tema desapareça completamente da mídia seletiva nas próximas semanas.
E que ninguém se iluda que o Ministério Público de São Paulo irá investigar as graves denúncias. Em sua coluna na Folha, a jornalista Mônica Bergamo publicou uma curiosa notinha nesta semana: “O governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) nomeou Carla Elias Rosa, mulher do procurador-geral de Justiça de São Paulo, Márcio Elias Rosa, para trabalhar no Palácio dos Bandeirantes. Ela integrará a assessoria jurídica do governo, na Casa Civil... Elias Rosa lidera o Ministério Público de SP, que tem entre suas prerrogativas investigar denúncias que envolvam o governo”. Só mesmo a pressão das ruas poderá desencavar o propinoduto tucano!
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