QUANDO UM JORNALISTA AJOELHA E PEDE PERDÃO
Alvo de uma carta demolidora de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, o jornalista
Diego Escosteguy, diretor da revista Época em
Brasília, não teve alternativa, a não ser pedir
desculpas; segundo Barbosa, ele mentiu na
reportagem e nas circunstâncias do encontro; disse
que pretendia apenas cumprimentá-lo e transformou
o rendez-vous em entrevista; na mesma matéria,
publicou inverdades, como o inexistente passado de doméstica da mãe de Barbosa e também uma falsa
autoria de um prefácio num livro do magistrado;
Escosteguy é um jornalista que já esteve envolvido
em outras polêmicas, como as reportagens sobre
supostos pacotes de dinheiro na Casa Civil, às
vésperas da eleição presidencial de 2010
26 DE MARÇO DE 2014 ÀS 12:03
247 - Uma carta de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal
Federal, dirigida à revista Época, representa um duro golpe na carreira
do jornalista Diego Escosteguy, que dirige Época em Brasília.
Segundo Barbosa, Escosteguy cometeu erros graves de apuração e
também falhas éticas. Uma delas, mentir sobre a natureza do encontro
entre os dois. De acordo com o ministro, Escosteguy pediu apenas
para cumprimentá-lo e para se apresentar. Depois, transformou o
rendez-vous em entrevista, atribuindo aspas ao ministro, sem o seu consentimento.
Escosteguy já esteve envolvido em outras reportagens polêmicas,
como a que apontou suposta distribuição de pacotes de dinheiro na
Casa Civil, às vésperas da eleição presidencial de 2010. Naquele
momento, Escosteguy atuava em Veja, que fazia campanha aberta
contra a então candidata Dilma Rousseff.
Sem alternativa, Escosteguy foi ao Twitter e pediu desculpas. Abaixo
seus tweets:
O site do STF publicou na íntegra carta de Joaquim Barbosa
enviada
à ÉPOCA, cujo trecho fora publicado nesta edição
Nossa resposta é a seguinte: "Nota da Redação: ÉPOCA se pauta
sempre pelos Princípios Editoriais das Organizações Globo...
... repudia as acusações de desvio ético e má-fé – e lamenta os erros
factuais contidos na reportagem, pelos quais pede desculpas."
Houve dois erros factuais na matéria: a autoria de um prefácio de um
livro e a profissão da mãe do ministro. Ambos serão retificados.
Erros factuais, mesmo os pequenos, são inadmissíveis. Por eles,
peço humildemente desculpas - sempre pedi e sempre pedirei.
Quanto ao resto, não vejo razão para fazer comentários. A nota da
redação fala o suficiente.
Falo apenas por meio do jornalismo que busco, com muitas
imperfeições, produzir para vocês. Eis, portanto, a matéria:
Leia, abaixo, a carta de Joaquim Barbosa:
Confira a carta de Joaquim Barbosa na íntegra:
Sr. Diretor de Redação,
A matéria "Não serei candidato a presidente" divulgada na edição nº 823
dessa revista traz em si um grave desvio da ética jornalística. Refiro-me
a artifícios e subterfúgios utilizados pelo repórter, que solicitou à
Secretaria de Comunicação Social do Supremo Tribunal Federal para
ser recebido por mim apenas para cumprimentos e apresentação.
Recebi-o por pouco mais de dez minutos e com ele não conversei nada
além de trivialidades, já que o objetivo estabelecido, de comum acordo,
não era a concessão de uma entrevista. Era uma visita de cunho
institucional do Diretor da Sucursal de Brasília da Revista Época. Fora
o condenável método de abordagem, o texto é repleto de erros factuais, construções imaginárias e preconceituosas, além de sérias acusações
contra a minha pessoa.
A matéria é quase toda construída em torno de um crasso erro factual.
O texto afirma que conheci o ministro Celso de Mello na década de 90,
e que este último teria escrito o prefácio do meu livro "Ação Afirmativa
e princípio Constitucional da Igualdade". Conheci o ministro Celso de
Mello em 2003, ano em que ingressei no STF. Não é dele o prefácio da
obra que publiquei em 2001, mas sim do já falecido professor de direito internacional Celso Duvivier de Albuquerque Melo,que de fato conheci
nos anos 90 e foi meu colega no Departamento de Direito da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Mais grave, porém, é a acusação de que teria manipulado uma votação,impedindo deliberadamente que um ministro do STF se
manifestasse. O objetivo seria submeter o ministro a pressões da
"mídia" e de "populares". Isso não é verdade. Ofensiva para qualquer
cidadão, a afirmação ganha contornos ainda mais graves quando
associada ao Chefe do Poder Judiciário. Portanto, antes de publicar
informação dessa natureza, o repórter tinha a obrigação de tentar
ouvir-me sobre o assunto, o que pouparia a revista de publicar
informação incorreta sobre minha atuação à frente da Corte.
No campo pessoal, as inverdades narradas na matéria são ainda
mais ofensivas e revelam total desconhecimento sobre a minha
biografia. Minha mãe nunca foi faxineira. Ela sempre trabalhou no lar,
tendo se dedicado especialmente ao cuidado e à educação dos filhos.
O texto,que me classifica como taciturno, áspero, grosseiro, não
apresenta fundamentos para essas afirmações que, além de
deselegantes, refletem apenas a visão distorcida e preconceituosa
do repórter. O autor da matéria não apresenta elementos que sustentem
os adjetivos gratuitos que utiliza.
Também desrespeitosa é a menção aos meus problemas de saúde.
Ao afirmar que a dor causou "angústia e raiva", o jornalista traçou um
perfil psicológico sem apresentar os elementos que lhe permitiram
avaliar o impacto de um problema de saúde em uma pessoa com a qual
ele nunca havia sequer conversado.
Outra falha do texto é a referência à teoria do "domínio do fato". Em
nenhum momento a teoria foi evocada por mim para justificar a
condenação dos réus no julgamento da Ação Penal 470. Basta uma
rápida leitura do meu voto para verificar esse fato.
Finalmente, não tenho definição com relação ao momento de minha
saída do Supremo e de minha aposentadoria. Muito menos está definido
o que farei depois dessa data, embora a matéria tenha afirmado - sem
que o jornalista tenha sequer tentado entrevistar-me sobre o tema -
que irei dedicar-me ao combate ao racismo. Triste exemplo de jornalismo
especulativo e de má-fé.
Joaquim Barbosa
Presidente do Supremo Tribunal Federal
Presidente do Supremo Tribunal Federal
http://www.brasil247.com/+6d0q6
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