Mais para Carlos Sampaio, o Bolsonaro do PSDB, do que para seu avô Tancredo, o conciliador, Aécio Neves reapareceu em cena na segunda-feira com a corda toda, dando apoio às manifestações de rua contra o governo marcadas para o próximo dia 16.
"Aqueles que estiverem indignados ou até mesmo arrependidos mas, principalmente, cansados, devem se movimentar, ir às ruas", disse Aécio, ao anunciar que o PSDB vai usar suas inserções no rádio e na TV, a partir da próxima semana, para convocar a população a participar dos protestos que pedirão o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Com receio de perder o protagonismo da oposição para Eduardo Cunha, depois de passar alguns dias sumido, o presidente do PSDB voltou à cena antes do final do recesso julino, pronto para deflagrar a grande ofensiva contra o governo prevista para agosto, o mês do cachorro louco, de tão tristes lembranças na vida política brasileira. "Se simplesmente desconsiderarmos que as manifestações existem, acho que estamos fugindo da realidade. A cobrança dos nossos eleitores é enorme", justificou.
Aécio só não decidiu ainda se, desta vez, vai sair às ruas para participar dos protestos. "Meu cuidado maior é que, a partir do momento em que eu disser que vou, isso dá uma impressão de que é um movimento do partido. Não é. Se eu decidir ir, vou como cidadão".
Ou seja, o PSDB vai apoiar, mas deixar a organização por conta de grupos como Revoltados On Line, Movimento Brasil Livre e Vem pra Rua. É como aquele sujeito que fica batendo palmas para ver louco dançar. Se tudo der certo, os tucanos faturam; se não, a responsabilidade não foi deles.
O grande perigo para Aécio e os tucanos em geral, sem paciência para esperar 2018, é esticar demais a corda e entregar o poder de bandeja para o PMDB, que tem o vice-presidente, caso os protestos ganhem grandes dimensões e Eduardo Cunha cumpra suas ameaças de infernizar a vida do governo com a ajuda dos tribunais e da mídia hegemônica.
Com a palavra de ordem "Não vamos pagar a conta do PT", os protestos dos movimentos de oposição vão centrar suas críticas na política econômica do governo, mas o presidente do PSDB não apresentou até agora nenhuma proposta alternativa para melhorar a vida dos brasileiros neste momento de crise.
Desde a quarta derrota seguida nas eleições presidenciais, o PSDB limita-se a tentar um terceiro turno com ataques ao governo. Aécio quer que a presidente Dilma admita ter mentido durante a campanha eleitoral, ao negar a necessidade de se fazer um ajuste fiscal e, por isso, vive "uma grave crise de confiança".
O governo e o PT, por sua vez, em seu programa de rádio e TV, marcado para o dia 6 de agosto, vão reconhecer as dificuldades pelas quais os brasileiros estão passando neste momento, mas Dilma e Lula dirão que antes, no governo tucano, era pior. No caso dos petistas, o perigo é provocarem um novo panelaço, que possa servir de estímulo às manifestações de rua previstas para apenas dez dias depois.
Se correr, o bicho pega; se ficar, o bicho come. Estamos numa situação em que essa mesma ameaça vale tanto para o governo como para a oposição. Ninguém a esta altura sabe ao certo qual direção tomar. E a população, perplexa, perdeu as referências, já parece não acreditar em mais ninguém.
http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/2015/07/28/aecio-reaparece-em-cena-pronto-pra-a-guerra/
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