Do ‘Granma’ à ‘Fox’, ‘impeachment’ é tratado como ‘tentativa de golpe’
Daniel Buarque
A imprensa internacional vem acompanhando de perto os discursos relacionados à baixa popularidade do governo de Dilma Rousseff e a reemergente tese de que pode haver impeachment da presidente. Desde o início do ano, são recorrentes as reportagens que falam sobre a fragilidade da política brasileira em meio à crise econômica que atinge o país.
A visão externa, entretanto, costuma ser crítica à proposta de antecipar o fim do mandato de Dilma. Este blog Brasilianismo já argumentou em mais de uma ocasião que, independentemente de simpatizar ou não com o governo, em termos de imagem internacional, a estabilidade institucional da política brasileira é um marco que ajudou a fazer com que o Brasil fosse visto no resto do mundo como um país sério e confiável. O mundo inteiro desconfia de repúblicas instáveis e em que as “regras do jogo” são alteradas com frequência e presidentes são trocados fora das regras eleitorais – mesmo se fosse considerado o impeachment como um processo institucional e legal.
Na samana passada, o colunista do 'Financial Times' Joe Leahy voltou a dar destaque ao risco de impeachment e à vulnerabilidade do governo. Mas mesmo ele, que escreve para um dos jornais mais críticos à política econômica do governo Dilma desde antes da eleição do ano passado, coloca ressalvas ao atual clima de crise e diz que a impopularidade de Dilma “não parece inteiramente merecida''.
Nesta semana, uma nova demonstração de que a ideia de impeachment não é bem vista internacionalmente ganhou as páginas de veículos tão díspares quanto o jornal oficial de Cuba, “Granma'', e a rede de comunicação mais conservadora da política dos EUA, “Fox''. Os dois ecoaram um recente manifesto que denuncia o discurso sobre impeachment como “tentativa golpista''.
“Uma constelação de organizações brasileiras divulgou uma declaração denunciando o que descrevem como uma tentativa da direita de derrubar a presidente Dilma Rousseff'', diz o site da “Fox'', considerada a “porta-voz'' da direita norte-americana, com informações de agências de notícias internacionais.
“O descontentamento com o resultado das eleições de 2014 e com as decisões dos governantes têm todo o direito de fazer oposição e manifestar-se, mas não de incitar o ódio e a derrubada da presidente eleita nas urnas'', diz o comunista “Granma'', citando o manifesto.
Nenhum dos dois veículos chega ao ponto de deixar clara uma opinião editorial a respeito do debate sobre impeachment. Mas quando o veículo oficial de um país comunista e o porta-voz extra-oficial de um grupo conservador de direita de um capitalista, dois países com mentalidades políticas tão radicalmente opostas, publicam textos semelhantes que parecem concordar em uma posição política, fica clara uma postura internacional que vê a troca de governo mais como golpe de estado de que como um processo natural de impeachment. É verdade que a imagem do Brasil sob o governo Dilma passou da euforia à depressão, mas uma mudança radical como o impeachment teria o potencial de piorar ainda mais a forma como o país é visto no exterior.
http://brasilianismo.blogosfera.uol.com.br/2015/07/07/do-granma-a-fox-impeachment-e-tratado-como-tentativa-de-golpe/
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