terça-feira, 28 de julho de 2015

OUTRA ADVERTÊNCIA CONTRA O TERRORISMO FASCISTA EM VOGA

As advertências feitas neste texto pelo Fábio são as mesmas que faço no meu novo livro "O Brasil na 'era dos imbecis'- o discurso de ódio da Direita" (https://www.clubedeautores.com.br/book/188020--O_Brasil_na_era_dos_imbecis#.Vbd-oPlVhBc). Grupelhos como o MBL, obviamente financiados por gente poderosa de dentro e de fora do País, são potencialmente terroristas. É urgente que os órgãos de segurança observem essas organizações fascistas, dentro das normas democráticas. Não é possível que se espere ações violentas, já anunciadas, para então se correr atrás de quem prega abertamente a violência e a discriminação das minorias que, ao final, são a maioria da população.


Dilma Rousseff e o terrorismo

Fábio de Oliveira Ribeiro


Aqui mesmo no GGN escrevi algumas linhas sobre o anti-petismo, movimento descentralizado que abriga desde militares e policiais aposentados comprometidos com a violência política e os ideais criminosos da Ditadura finda em 1988 até moleques autoritários do Movimento Brasil Livre. Hoje colocarei o foco neste grupellho proto-fascista que nasceu na internet e se expande para o mundo fenomenico.
Em seu manifesto o MBL diz o seguinte:
“Somos adultos, adolescentes e idosos; somos brancos, negros, pardos, amarelos e até meio rosados; somos empresários, empregados, autônomos, estudantes e funcionários públicos; somos ricos, pobres, classe-média; somos homens e mulheres.
Somos BRASILEIROS.
E nos importamos com os rumos do nosso país. Acreditamos que um governo deve servir para unir o seu povo, e não criar divisões artificiais. Deve tratar as pessoas como cidadãos, e não como súditos ou peças descartáveis de um jogo de tabuleiros a serem manipuladas.
Lutamos e torcemos a favor do Brasil independente de qual seja o governo. Não importa a cor ou sigla do timoneiro, estamos todos no mesmo barco. Mas EXIGIMOS MUDANÇAS. Chega de corrupção, chega de impunidade. Chega de desrespeito às instituições democráticas e ao império da lei.”
Cinco coisas são evidentes neste manifesto. O primeiro é o nacionalismo como categoria política essencial e difusa. O segundo é a idéia de que o Estado brasileiro deve se fundir a nação brasileira tal como esta é concebida pelo movimento. O terceiro é a crença de que o governo eleito pelo povo não é e não será legítimo enquanto o país não se submeter ao comando do MBL, que se coloca acima dos partidos e dos políticos como se fosse a única fonte admissível do verdadeiro nacionalismo. O quarto é a idéia de que a democracia e o império da Lei estarão em perigo enquanto o MBL não destruir as “divisões artificiais” existentes na sociedade. O quinto é o apelo contra a corrupção e o ataque à impunidade.
Todas estas questões foram analisadas de uma maneira ou de outra no texto de Sartre por mim plagiado. O MBL reúne as piores características do anti-semitismo, mas por razões óbvias não faz referência à destruição física dos judeus. Como toda religião nacionalista, o MBL pretende se colocar acima da Lei ou fora do alcance dela para, paradoxalmente, poder restaurar uma ordem ideal. Seus líderes querem ser vistos como se fossem os profetas da purificação. Somente eles são suficientemente puros para julgar quem deve comandar o país e como a nação deve ser governada.
O extremismo do MBL é evidente. Em seu manifesto o movimento diz que "Não importa a cor ou sigla do timoneiro” desde que o mesmo siga a ideologia nacionalista pregada pelo movimento. Um governo que seja rejeitado pelo MBL é, portanto, automaticamente desprovido de qualquer legitimidade mesmo que tenha sido eleito pela maioria da população e empossado pela Justiça Eleitoral.
“Os discursos políticos em geral qualificados como ‘extremistas’ são também os que aparecem, do ponto de vista psicológico, como os mais regressivos. De fato, eles buscam, na matriz do imaginário infantil, os meios para ‘ler’ e interpretar as realidades da crise. Alimentam-se do caos da sociedade, esteja ela ou não em guerra, para dizer: ‘Vejam como temos razão!’ Quanto a isso, as relações entre o imaginário e o real são contraditórias apenas em aparência. Claro, é mesmo nas representações imaginárias do carrasco que, primeiro, se constrói a figura da vítima, da ‘sua’ vítima.” (PURIFICAR E DESTRUIR, Jacques Sémelin, Difel, 2009, p. 44/45)
Em discurso proferido na Av. Paulista em abril de 2015, o principal líder do MBL, Kim Kataguiri, disse “Não tem que fazer o PT sangrar, tem que dar um tiro na cabeça do PT.”http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/kim-kataguiri-do-brasil-livre-tem-que-dar-um-tiro-na-cabeca-do-pt/. No imaginário deste rapaz o uso da violência encontra justificação política. A supremacia do nacionalismo que ele prega e representa é uma necessidade absoluta, inevitável, irresistível e capaz de suspender a validade jurídica do direito à vida atribuído, sem distinção a todos os brasileiros (inclusive aos petistas), pela CF/88. Ele não tem qualquer compromisso com a normalidade democrática e apela para a violência homicida como se a mesma fosse virtuosa. Se chegasse ao poder, Kataguiri mandaria reunir e executar todos os petistas como se eles fossem os judeus reunidos e executados pelos nazistas?
“Indubitavelmente, os indivíduos são tragados pela dinâmica de morte em massa, mas, mesmo assim, eles sem dúvida sabem como tirar proveito. Não lhes faltam oportunismo e cálculo para instrumentalizar seus efeitos em benefício próprio. Por isso, na escala individual, as razões da passagem ao ato são múltiplas. O que é verdadeiro para determinado indivíduo, em preciso momento, não é para outro. E é exatamente essa variabilidade de motivos privados que ajuda a dar ao assassínio a sua dimensão de massa. Os indivíduos entram na dinâmica assassina não como autômatos balbuciando um mesmo discurso ideológico estereotipado, mas sim com histórias diferentes e, daí, com expectativas e motivações pessoais. A implicação comum para causar mortes resulta das posturas variadas e equívocas.” (PURIFICAR E DESTRUIR, Jacques Sémelin, Difel, 2009, p. 390/391)
Os nazistas acreditavam na inferioridade racial dos judeus. Os novos profetas do nacionalismo de matriz autoritária acreditam na natureza essencialmente corrupta do PT. Kim Kataguiri condena a inferioridade ideológica dos petistas que, segundo ele, provocam divisões na nação e submetem o Brasil a ditaduras como a Argentina https://www.youtube.com/watch?v=mCcd_KDkBh8. O fato de Cristina Kirchner ter sido eleita é irrelevante, pois somente o MBL sabe o que é melhor para os argentinos.  
“Distingamos, enfim, a terceira utilização possível do massacre, principalmente por atores não estatais (ou, pelo menos, assim supostos). Nesse caso, a finalidade é a de agredir em um ponto preciso o grupo visado, para provocar em seu interior um choque traumático intenso, que seja capaz de dobrar a política de seus dirigentes. Como os organizadores do massacre sabem que constituem minoria na sociedade em que agem, o recurso a tal procedimento espetacular lhes permite, já de início, se afirmar na cena pública, chamando a atenção para a sua causa. Quer reivindiquem a responsabilidade ou se mantenham anônimos, eles acham que os efeitos políticos da ação de destruição podem pesar sobre quem decide a política: por exemplo, criando uma crise das instituições ou bloqueando uma evolução política que eles desaprovam.”(PURIFICAR E DESTRUIR, Jacques Sémelin, Difel, 2009, p. 489/490)
Se for levado a sério, o discurso de Kataguiri é preocupante. Após chegar ao poder no Brasil, o MBL certamente será obrigado a declarar guerra aos países vizinhos que não forem governados por princípios semelhantes aos defendidos pelo movimento. A ideologia da revolução internacional socialista permanente, que foi concebida por Leon Trotsky, parece ter sido utilizada como fonte pelos idealizadores do MBL. Afinal, os líderes do mesmo são ao mesmo tempo nacionalistas e internacionalistas. O MBL identifica a nação ao Estado para suprimir a política e excluir o PT e os petistas do processo eleitoral. Kataguiri não descarta a utilização da violência durante o assalto ao poder. Depois de purificar nosso país ele liderará as massas na purificação da Argentina como se fosse um "Che Guevara da direita"?
Há outra teoria perigosa que parece estar presente nesta fixação neurótica do líder do MBL com a Argentina de Cristina Kirchner. Nos anos 1960 o governo dos EUA acreditava na Teoria do Dominó, segundo a qual se o Vietnam do Sul caísse nas mãos dos comunistas todo Sudoeste da Ásia seria conquistada pelo comunismo. Kim Kataguiri parece crer em algo semelhante. Se o Brasil cair nas mãos do MBL todas as ditaduras ligadas ao PT na América Latina serão inevitavelmente destruídas.
Em seu manifesto o MBL cita diversos fatos (a impunidade, a corrupção, a divisão artificial). No discurso proferido por Kataguiri na Av. Paulista outros fatos são referidos (vivemos na ditadura do PT, o país não tem educação, saúde e segurança, o Brasil investe dinheiro em ditaduras como a Argentina).
A impunidade não é uma realidade, pois o MPF investiga e denuncia políticos envolvidos em corrupção e os réus tem sido condenados pelo Judiciário. A estrutura constitucional do país, instituída pela CF/88, garante a legalidade dos partidos e, portanto, preconiza a divisão da nação como uma categoria política essencial à normalidade democrática. O PT foi eleito pelo povo brasileiro e empossado pela Justiça Eleitoral, portanto, não vivemos numa ditadura. Quem define a política externa do Brasil é o Itamaraty e não o MBL. Compete aos Estados e Municípios organizar e gerir os serviços de educação, saúde e segurança. As carências e deficiências nestas três áreas não podem ser creditadas ao governo federal petista. A União repassa aos Estados e Municípios as verbas destinadas a serem usadas nesses serviços e só posteriormente toma conhecimento do não uso ou mau uso das mesmas. Tudo bem pesado, os fatos que informam os discursos do MBL e dos seus líderes não passam de opiniões.
“Fatos e opiniões, embora possam ser mantidos separados, não são antagônicos um ao outro; eles pertencem ao mesmo domínio. Fatos informam opiniões e as opiniões, inspiradas por diferentes interesses e paixões, podem diferir amplamente e ainda serem legítimas no que respeita à sua verdade factual. A liberdade de opinião é uma farsa, a não ser que a informação fatual seja garantida e que os próprios fatos não sejam questionados. Em outras palavras, a verdade fatual informa o pensamento político, exatamente como a verdade racional informa a especulação filosófica.” (ENTRE O PASSADO E O FUTURO, Hannah Arendt, Perspectiva, 2009, p.295/296)
O MBL não se preocupa com a verdade factual. Quer apenas impor sua ideologia. Kim Kataguiri deseja chegar ao poder de qualquer maneira, inclusive mediante a eliminação física dos seus inimigos. Os petistas disputam eleições e aceitam as derrotas eleitorais. A coação não é um instrumento político utilizado pelo PT. Qual destes dois grupos é mais democrático e qual pretende impor uma verdadeira ditadura sanguinária aos brasileiros? Não sou filiado ao PT, mas se for forçado a escolher entre Kataguiri e os petistas, PT saudações.
E já que estamos falando em escolhas, há algo importante a dizer sobre a salvação da unidade nacional pregada pelo MBL. O movimento parte do pressuposto de que nação é e sempre foi unida e que o PT é responsável pela sua divisão sectária. Seus membros ignoram, portanto, que quem criou os conceitos de "classe social" e "luta de classes" não foram os comunistas ou os petistas e sim historiadores como François Guizot, cuja obra citada a seguir foi publicada 1828:
"A Europa da época moderna surgiu da luta entre as diversas classes da sociedade." (Guizot citado por Antoine Prost, "Doze lições sobre história", editora autêntica, 2a. edição, Belo Horizonte, 2012, p. 191).
"O Capital" de Karl Marx foi publicado apenas em 1867, quase quatro décadas depois de Guizot ter utilizado os conceitos de "classe social" e "luta de classes". Os membros do MBL também parecem ignorar que História do Brasil é permeada por lutas de classes desde que os colonos portugueses cá chegaram, ocuparam o território fazendo distinção entre "tribos aliadas" e"índios hostis", entre "homems livres" e "escravos", entre "súditos fiéis a coroa" e "rebeldes"(emboabas, cabanos, malês, balaios, farrapos, etc...).
O próprio MBL produz uma divisão artificial da nação ao opor os "verdadeiros brasileiros" (seguidores do movimento) aos "outros" (os petistas e aqueles que não se sujeitaram à liderança de Kataguiri). A CF/88 confere a nacionalidade brasileira àqueles que nascem no Brasil e aos nascidos no exterior de pai ou mãe brasileira. Os estrangeiros que se naturalizam também são brasileiros. Não há na CF/88 qualquer referência ao poder do MBL de dizer quem é ou não é brasileiro. Vem daí a natureza esquizofrenica deste movimento que, para unir a nação, precisa dividi-la em duas metades antagônicas suprimindo os direitos constitucionais de uma delas. A divisão de classes proposta pelo MBL não é desejada pelo PT. Em nenhum dos seus documentos e comunicações os petistas jamais disseram que Kim Kataguiri e seus escudeiros não são brasileiros.
Ao fazer uma pesquisa na internet, constatei que os líderes do MBL se movimentam pelo Brasil com grande intensidade e desenvoltura. Eles não trabalham? Quem financia as viagens que eles fazem? Quem está pagando o material que eles publicam, as faixas que eles impunham nas passeatas e os cartazes que são colados nas ruas das principais cidades do país por onde passa a Coluna Kim Kataguiri?
A segurança do Estado é um valor importante mesmo numa democracia. Grupos como o MBL, que pregam uma ideologia autoritária, instigam a violência política e podem comprometer o caráter pacífico da política externa brasileira, precisam ser vigiados constantemente pelas autoridades. As finanças do MBL e dos seus líderes devem ser rastreadas até sua origem. Durante as Olimpíadas de 2016 este grupo será infiltrado ou apenas monitorado mais de perto? O desejo de visibilidade internacional levará Kim Kataguiri e seus escudeiros a idealizar e realizar atentados terroristas com a finalidade de denunciar a suposta natureza ditatorial do governo brasileiro? A prevenção e o combate ao terrorismo é uma necessidade. A radicalização do MBL é uma possibilidade. Melhor prevenir que remediar.
http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/dilma-rousseff-e-o-terrorismo-por-fabio-de-oliveira-ribeiro

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