quarta-feira, 16 de março de 2011

ENTREVISTA NO JORNALISMO B ANALISA A NOVA MÍDIA

Recomendo a todos a leitura desta entrevista de Raphael Tsavkko Garcia, no excelente blog Jornalismo B:


http://jornalismob.wordpress.com/






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Entrevista exclusiva com Raphael Tsavkko

9 março 2011
Raphael Tsavkko Garcia é militante dos Direitos Humanos e da Rede Livre, membro do Grupo Tortura Nunca Mais, de São Paulo. Blogueiro, jornalista, formado em Relações Internacionais (PUCSP) e Mestrando em Comunicação (Cásper Líbero). Mantém o Blog do Tsavkko – The Angry Brazilian, escreve e traduz para o Global Voices Online e tem uma coluna semanal no Diário Liberdade chamada Defenderei a casa de meu pai.
Na entrevista a seguir, exclusiva ao Jornalismo B, Tsavkko fala de suas impressões sobre o momento da mídia alternativa, da blogosfera e da luta anticapitalista a partir da comunicação.
Jornalismo B – Qual a tua avaliação do momento atual da mídia alternativa brasileira? E o papel das novas mídias nesse contexto?
Raphael Tsavkko – Depende do foco. De um lado há o fortalecimento da blogosfera e dos meios mais “tradicionais” de esquerda e alternativos. A blogosfera teve um grande crescimento durante o governo Lula – e em alguns casos apesar dele – e papel mais que relevante em desmontar os absurdos inventados pela oposição de direita durante as eleições, mas por outro lado estamos diante de significativos retrocessos que vem do aparelhamento e da falta de crítica por parte de setores governista, em especial de petistas incapazes de aceitar que a esquerda tem total direito de  criticar os rumos do governo. As novas mídias foram fundamentais para se criar um espaço de discussão alternativo e livre – pese as pressões de alguns grupos -, e uma forma de quebrar a hegemonia da grande mídia e mesmo de pressionar por mudanças mais profundas nas instituições e na sociedade.
Jornalismo B - Quais as principais dificuldades ainda enfrentadas pelos blogs e pelas redes sociais como espaço forte de comunicação? E quais os principais avanços que já foram feitos?
Raphael Tsavkko – O primeiro ponto, sem dúvida, é a visibilidade. É muito difícil competir com uma mídia tradicional que nada em dinheiro e que recebe milhões em propaganda oficial e de patrocinadores privados. Salvo exceções como o blog do PHA, o Vi o Mundo e mais alguns outros – que talvez nem tenham tanto acesso, mas possuem penetração entre os grandes e os fazedores de opinião -, a blogosfera vive de poucos acessos. A diferença está na unidade de ação e na penetração em nichos. A vantagem da blogosfera é conseguir, para além dos acessos apenas, ter penetração entre jornalistas, entre políticos e entre quem costuma participar das arenas de debate e tomar decisões, logo,  mesmo não chegando tão longe, acaba por influenciar. Conseguimos ser ouvidos nas altas esferas do poder e mesmo pautar a grande mídia, mas ainda é muito pouco, pois, contraditoriamente, dependemos da mídia tradicional para chegar até além de nossas barreiras tradicionais.
Jornalismo B – Qual a avaliação do momento atual da mídia dominante?
Raphael Tsavkko – A mídia dominante, tradicional, é vergonhosa. Por aqui não conseguimos sequer chegar ao nível dos EUA e Europa, onde os jornais ao menos declaram sua posição política e/ou seu candidato nas eleições, a fim de evitar enganar e mentir para seu leitor/eleitor. Aqui no Brasil temos uma mídia de direita – em alguns casos de extrema-direita – absolutamente parcial, que defende única e exclusivamente os interesses dos grupos privados que a financia e, acima de tudo, jamais admitem o fato. Mais que esconder a verdade, a mídia tradicional fabrica sua verdade. As tentativas legítimas e democráticas de regulação da mídia – que existem em boa parte dos países ditos de primeiro mundo – são rechaçadas não por medo de censura, o que não existe ou é proposto, mas simplesmente pela forma tendenciosa e partidária que a mídia adota e que teria de ser revista, para desespero das famílias (poucas) que controlam os meios de comunicação e que tem agendas clara, porém distantes das do interesse popular.
Jornalismo B – De que forma o governo e a sociedade organizada podem atuar na defesa de uma comunicação mais democrática?
Raphael Tsavkko – Acima de tudo, defendendo uma política de regulação ampla da mídia. Obrigando através de pressão popular e institucional que a grande mídia respeite os direitos humanos e mantenha abertos espaços para múltiplas opiniões. O incentivo à blogosfera, seja através de editais para que seja possível o acesso à propaganda institucional, ou meramente através de campanhas de visibilidade, é um caminho a ser perseguido. Os veículos alternativos, como a Revista Fórum, o Jornal Brasil de Fato, a revista Caros Amigos e outros devem ter garantidos os meios necessários para sua sobrevivência.
Jornalismo B – Como uma mídia anticapitalista deve se estruturar para ampliar seus espaços?
Raphael Tsavkko – Levando em conta que estamos em meio ao capitalismo, deve-se ter em mente que a luta deve ser por dentro, e não alienada da realidade. Por mais que bloguemos e escrevamos por prazer, sem dinheiro temos limites claros, seja de visibilidade, tempo e afins. A formação de portais, a união de blogs e mesmo da blogosfera são caminhos a serem perseguidos.  Individualmente temos pouco poder de fogo contra a grande mídia e a direita, mas unidos podemos fazer barulho – e fazemos! É preciso apoiar a mídia alternativa, seja comprando aquela que sai nas bancas, fazendo doações, escrevendo e dando máxima publicidade.
Jornalismo B – Qual é o papel fundamental da mídia hoje?
Raphael Tsavkko – Da mídia alternativa é de ter uma posição de esquerda, ligada aos movimentos sociais. Eu não diria de “dizer a verdade”, mas de fazer contraponto à grande mídia, de defender interesses populares e dos movimentos sociais. Ma, além do contraponto, tem a obrigação de correr atrás de matéria,s fazer análises e buscar pautar a grande mídia. Já o papel da mídia tradicional, que deveria ser o de informar, acaba sendo o de fazer o papel da oposição inconsequente e, em muitos casos, mentirosa. Mas é inegável que, em geral, ainda tenha um papel junto à sociedade pelo seu alcance e capacidade de mobilização. Nem sempre suas intenções vão de encontro com os da sociedade,  na maioria das vezes o interesse dos donos do jornal é apenas o de seguir aquilo que ditam seus patrocinadores e mesmo o interesse das famílias que controlam esses meios, mas em outros casos ela ainda desempenha um relevante papel como unificador nacional.
Jornalismo B – Quais as perspectivas para o futuro do midia brasileira?
Raphael Tsavkko – Imagino que a mídia tradicional verá a diminuição de seu peso e relevância. O posicionamento golpista muitas vezes acaba (ou acabou) por afastar uma significativa parcela da população, que agora procura se informar nos blogs. A mídia alternativa tem muito espaço para crescer, mas deve ser inteligente e buscar se unir para conseguir não só visibilidade como credibilidade e acessos. É preciso buscar evitar os rachas que podem acontecer devido às desavenças sobre o governo Dilma e seus retrocessos, mas em geral o futuro da imprensa alternativa, ao menos em termos de qualidade e de penetração, tem tudo para ser brilhante. É um movimento sem volta.
Postado por Alexandre Haubrich

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