Rosalba confirma: “DEM tende a sumir”
Por Altamiro Borges
Em entrevista aos jornalistas Murilo Ramos e Leandro Loyola, da revista Época, a única governadora do DEM no Brasil, Rosalba Ciarlini, do Rio Grande Norte, confirmou o que muitos já previam: os demos rumam celeremente para o inferno - isto se o diabo permitir tamanha esculhambação! Rifada pelo presidente nacional da sigla, senador José Agripino Maia - que oportunisticamente se bandeou para apoiar a candidatura do peemedebista Henrique Alves -, ela não vacilou na resposta: "O DEM tende a sumir" nas eleições de outubro. Reproduzo trechos da entrevista e retorno na sequência:
*****
Qual é a importância para o DEM da sua não-candidatura? A senhora é a única governadora do partido.
Eu acho que você tem de perguntar a eles.
Mas qual a opinião da senhora?
Só tínhamos dois (governadores). Perdemos um. A única que ficou está sem condições de colocar seu nome. O DEM tende a sumir.
Com a decisão de impedir a sua reeleição, o DEM está se apequenando?
Eu acho que, na realidade, era para estarmos lutando para termos mais governadores, como se luta para ter mais prefeitos, que são a base das eleições. Tendo mais governador cresce também a bancada. Muita coisa eu não posso responder por eles.
Como foi a reunião da semana passada? A senhora já percebeu um clima desfavorável?
Já percebi, porque na realidade o diretório vem de longas datas, ele (o senador José Agripino Maia) é o presidente do partido, sempre foi. Então, é claro que não tem se renovado muito o diretório. Teve votos nulos, votos em branco, teve abstenções – poucas, mas teve. Então, não havia unanimidade.
(...)
A senhora conversa com o senador Agripino sobre sua situação?
Somos do mesmo estado e o conheço há mais de 50 anos. Frequenta a minha casa e nos tratamos muito bem. Sempre houve confiança de ambas as partes. Durante todo esse período, fui tentada a trocar de partido e isso poderia até ter sido mais promissor para mim politicamente. Mas eu não mudei porque Agripino era o presidente do partido e me mantive no DEM por uma questão de lealdade e respeito a ele.
Quais partidos a convidaram para que deixasse o DEM?
Tive convite do PSD, PROS, PTB, PP e de partidos menores. Qual é o partido do Marcelo Crivella? PRB. Tive convite do PRB. Mas fiquei no DEM.
Mas o que Agripino disse à senhora recentemente?
Há duas semanas estive com Agripino na casa dele em Natal. Ele disse que se eu tivesse condições eleitorais, poderia tentar. Mas qual seria o problema se eu me candidatasse? Tem candidato que entrou derrotado numa eleição e acabou eleito; e outros que entraram eleitos e saíram derrotados. Uma vez um candidato foi dormir achando que tinha ganhado a eleição em Natal. No outro dia descobriu ter perdido para Aldo Tinoco, um sanitarista que não era muito conhecido. O candidato derrotado foi (o presidente da Câmara) Henrique (Alves) e o povo lá em Natal comenta muito sobre isso. Mas voltando, se eu me candidatasse, o que poderia acontecer? Eu poderia não chegar ao segundo turno. Mas ainda assim o partido seria o fiel da balança no segundo turno e sairíamos ainda mais valorizados. Mas a preocupação era sempre com as eleições para deputados e senador porque não poderia ir só o Democratas. Eu disse que garantiria dois partidos (na aliança) e com chance de angariar o apoio de outros. Mas eu disse a Agripino que precisava de um aceno de que eu seria candidata, porque não posso propor aliança sem saber se vou ser candidata. Aí ele disse que faríamos uma reunião para ouvir o diretório.
(...)
A senhora tem um bom relacionamento com a presidente Dilma?
Tenho. Relacionamento republicano.
Ela ajudou a senhora?
Sempre que procurei, ela não se negou a ajudar. Isso aí eu tenho de lhe dizer: que a presidenta não criou nenhuma dificuldade. Por exemplo: a barragem de Oiticica, que havia uma dificuldade, vai ser, não vai, se é com Dnocs (Departamento Nacional de Obras de Contra às Seca), se é com o estado. Falei com ela, na mesma hora ela ligou para a (ministra do Planejamento) Míriam (Belchior) e mandou fazer a autorização da ordem de serviço.
Esse bom relacionamento com a presidente causou algum tipo de constrangimento para a senhora dentro do DEM?
Saíram dizendo que eu votaria em Dilma. Eu disse, na verdade, que poderei votar. E disse isso porque vi ações de combate à seca com as quais eu estava plenamente de acordo. Foi uma posição em cima de algo administrativo e a maneira republicana com a qual eu fui tratada pela presidente.
Houve alguma reação contrária do partido a sua manifestação?
Isso não deve ter agradado por eu ter elogiado tanto a presidenta Dilma. Eu disse que se estiver certo, eu aplaudo. Se estiver errado, também vou dizer.
Por que o DEM diminuiu tanto de tamanho?
O partido está precisando fazer uma análise de tudo isso. E acompanhar o rumo que o Brasil está tomando. É um tempo de mudanças e o DEM permaneceu muito estático.
*****
De fato, "o DEM permaneceu muito estático". Ele representa o setor mais conservador da sociedade e agrupa velhos oligarcas, famosos por seus práticas fisiológicas e patrimonialistas. Durante a ditadura, eles mandaram e desmandaram no país, compondo a Arena, que chegou a ser considerado "o maior partido do Ocidente" - o partido dos generais golpistas. Já no reinado de FHC, eles mudaram o nome da legenda - para Partido da Frende Liberal (PFL) - e surfaram na onda destrutiva do neoliberalismo. Elegeram vários governadores, senadores e uma bancada de mais de 120 deputados federais. Com a vitória de Lula, em 2002, a sigla da velha oligarquia passou a definhar. Mudou novamente de nome - para Democratas, uma típica piada pronta -, mas não conseguiu conter a decadência.
Nas eleições de 2010, o DEM elegeu apenas dois governadores - no Rio Grande do Norte e em Santa Catarina - e uma bancada bem menor. Com a sua grave crise existencial, velhas raposas da política decidiram abandonar o time antes da sua total extinção. O pragmático Gilberto Kassab, ex-prefeito da capital paulista, fundou o seu PSB e atraiu outros velhos demos. A sigla perdeu o governo de Santa Catarina, viu a sua bancada cair para apenas 28 deputados federais e, agora, ainda enfrenta confusão com sua única governadora, Rosalba Ciarlini. Novamente, ela tem razão; "O DEM tende a sumir".
Em entrevista aos jornalistas Murilo Ramos e Leandro Loyola, da revista Época, a única governadora do DEM no Brasil, Rosalba Ciarlini, do Rio Grande Norte, confirmou o que muitos já previam: os demos rumam celeremente para o inferno - isto se o diabo permitir tamanha esculhambação! Rifada pelo presidente nacional da sigla, senador José Agripino Maia - que oportunisticamente se bandeou para apoiar a candidatura do peemedebista Henrique Alves -, ela não vacilou na resposta: "O DEM tende a sumir" nas eleições de outubro. Reproduzo trechos da entrevista e retorno na sequência:
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Qual é a importância para o DEM da sua não-candidatura? A senhora é a única governadora do partido.
Eu acho que você tem de perguntar a eles.
Mas qual a opinião da senhora?
Só tínhamos dois (governadores). Perdemos um. A única que ficou está sem condições de colocar seu nome. O DEM tende a sumir.
Com a decisão de impedir a sua reeleição, o DEM está se apequenando?
Eu acho que, na realidade, era para estarmos lutando para termos mais governadores, como se luta para ter mais prefeitos, que são a base das eleições. Tendo mais governador cresce também a bancada. Muita coisa eu não posso responder por eles.
Como foi a reunião da semana passada? A senhora já percebeu um clima desfavorável?
Já percebi, porque na realidade o diretório vem de longas datas, ele (o senador José Agripino Maia) é o presidente do partido, sempre foi. Então, é claro que não tem se renovado muito o diretório. Teve votos nulos, votos em branco, teve abstenções – poucas, mas teve. Então, não havia unanimidade.
(...)
A senhora conversa com o senador Agripino sobre sua situação?
Somos do mesmo estado e o conheço há mais de 50 anos. Frequenta a minha casa e nos tratamos muito bem. Sempre houve confiança de ambas as partes. Durante todo esse período, fui tentada a trocar de partido e isso poderia até ter sido mais promissor para mim politicamente. Mas eu não mudei porque Agripino era o presidente do partido e me mantive no DEM por uma questão de lealdade e respeito a ele.
Quais partidos a convidaram para que deixasse o DEM?
Tive convite do PSD, PROS, PTB, PP e de partidos menores. Qual é o partido do Marcelo Crivella? PRB. Tive convite do PRB. Mas fiquei no DEM.
Mas o que Agripino disse à senhora recentemente?
Há duas semanas estive com Agripino na casa dele em Natal. Ele disse que se eu tivesse condições eleitorais, poderia tentar. Mas qual seria o problema se eu me candidatasse? Tem candidato que entrou derrotado numa eleição e acabou eleito; e outros que entraram eleitos e saíram derrotados. Uma vez um candidato foi dormir achando que tinha ganhado a eleição em Natal. No outro dia descobriu ter perdido para Aldo Tinoco, um sanitarista que não era muito conhecido. O candidato derrotado foi (o presidente da Câmara) Henrique (Alves) e o povo lá em Natal comenta muito sobre isso. Mas voltando, se eu me candidatasse, o que poderia acontecer? Eu poderia não chegar ao segundo turno. Mas ainda assim o partido seria o fiel da balança no segundo turno e sairíamos ainda mais valorizados. Mas a preocupação era sempre com as eleições para deputados e senador porque não poderia ir só o Democratas. Eu disse que garantiria dois partidos (na aliança) e com chance de angariar o apoio de outros. Mas eu disse a Agripino que precisava de um aceno de que eu seria candidata, porque não posso propor aliança sem saber se vou ser candidata. Aí ele disse que faríamos uma reunião para ouvir o diretório.
(...)
A senhora tem um bom relacionamento com a presidente Dilma?
Tenho. Relacionamento republicano.
Ela ajudou a senhora?
Sempre que procurei, ela não se negou a ajudar. Isso aí eu tenho de lhe dizer: que a presidenta não criou nenhuma dificuldade. Por exemplo: a barragem de Oiticica, que havia uma dificuldade, vai ser, não vai, se é com Dnocs (Departamento Nacional de Obras de Contra às Seca), se é com o estado. Falei com ela, na mesma hora ela ligou para a (ministra do Planejamento) Míriam (Belchior) e mandou fazer a autorização da ordem de serviço.
Esse bom relacionamento com a presidente causou algum tipo de constrangimento para a senhora dentro do DEM?
Saíram dizendo que eu votaria em Dilma. Eu disse, na verdade, que poderei votar. E disse isso porque vi ações de combate à seca com as quais eu estava plenamente de acordo. Foi uma posição em cima de algo administrativo e a maneira republicana com a qual eu fui tratada pela presidente.
Houve alguma reação contrária do partido a sua manifestação?
Isso não deve ter agradado por eu ter elogiado tanto a presidenta Dilma. Eu disse que se estiver certo, eu aplaudo. Se estiver errado, também vou dizer.
Por que o DEM diminuiu tanto de tamanho?
O partido está precisando fazer uma análise de tudo isso. E acompanhar o rumo que o Brasil está tomando. É um tempo de mudanças e o DEM permaneceu muito estático.
*****
De fato, "o DEM permaneceu muito estático". Ele representa o setor mais conservador da sociedade e agrupa velhos oligarcas, famosos por seus práticas fisiológicas e patrimonialistas. Durante a ditadura, eles mandaram e desmandaram no país, compondo a Arena, que chegou a ser considerado "o maior partido do Ocidente" - o partido dos generais golpistas. Já no reinado de FHC, eles mudaram o nome da legenda - para Partido da Frende Liberal (PFL) - e surfaram na onda destrutiva do neoliberalismo. Elegeram vários governadores, senadores e uma bancada de mais de 120 deputados federais. Com a vitória de Lula, em 2002, a sigla da velha oligarquia passou a definhar. Mudou novamente de nome - para Democratas, uma típica piada pronta -, mas não conseguiu conter a decadência.
Nas eleições de 2010, o DEM elegeu apenas dois governadores - no Rio Grande do Norte e em Santa Catarina - e uma bancada bem menor. Com a sua grave crise existencial, velhas raposas da política decidiram abandonar o time antes da sua total extinção. O pragmático Gilberto Kassab, ex-prefeito da capital paulista, fundou o seu PSB e atraiu outros velhos demos. A sigla perdeu o governo de Santa Catarina, viu a sua bancada cair para apenas 28 deputados federais e, agora, ainda enfrenta confusão com sua única governadora, Rosalba Ciarlini. Novamente, ela tem razão; "O DEM tende a sumir".
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