EM CLIMA DE COPA
Profetas do caos perderam mais uma vez
e só vira-latas não podem comemorar
Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão".
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão".
Foi correspondente em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na
Época. Também escreveu "A Mulher que Era o General da Casa".
A Copa do Mundo não completou uma semana e já é possível perceber
um novo fiasco hlstórico dos profetas do caos. Os aeroportos não
ficaram um inferno nem os vôos atrasaram – na média, o número de
atrasos e cancelamentos é um dos melhores do mundo.
Os estádios estão aí, alegrando visitantes e torcedores. Os números
de gols mostram matematicamente que esta pode ser uma das
melhores Copas de todos os tempos.
O transito não está melhor nem pior.
Os problemas reais do Brasil seguem do mesmo tamanho e aguardam
solução.
Não custa lembrar, também, que nenhum país está livre de um
acidente horrível nos próximos 15 minutos.
Mesmo assim, o clima do país mudou. Já consegue viver uma
experiência que se anunciava como tragédia: hospedar uma Copa
do Mundo.
O desagradável é que essa situação podia ser percebida em fevereiro.
Foi então que, em companhia do repórter Claudio Dantas Sequeira,
entrevistei Aldo Rebelo para a ISTOÉ. Perguntamos ao ministro
sobre a ameaça de caos que todos associavam a Copa. Aldo respondeu:
“A experiência mostra que em eventos desse porte há, em primeiro
lugar, uma grande permuta entre viajantes e passageiros. Muita gente
está chegando à cidade-sede, mas muita gente está saindo. As
empresas de evento não fazem feiras nem seminários nessa época.
O passageiro tradicional, que visita parente, que viaja a negócios,
para ir a um museu, também não viaja.”
Antecipando uma situação que hoje se verifica em voos com menos
passageiros do que se anunciava, o ministro disse: “Em Londres,
durante a Olimpíada, havia menos gente na cidade durante os jogos
olímpicos do que em dias normais. “
Aldo prosseguiu: “Quem não gostava de esporte não foi para Londres
naquele período, mas para Budapeste, para Praga, para Madri. Já
sabemos que algumas cidades brasileiras terão menos visitantes do
que em outras épocas do ano. No Rio de Janeiro, não haverá o mesmo
número de visitantes que a cidade recebe durante o Carnaval. Em
Salvador também não.”
Em maio, em entrevista ao TV Brasil, Aldo Rebelo apresentou
argumentos semelhantes. Mostrou a falácia em torno dos gastos
excessivos com a Copa. Fez comparações didáticas. É um depoimento
esclarecedor, que você pode ler no link
O espantoso é reparar que muitas pessoas trataram estes depoimentos
-- e outros que tinham o mesmo conteúdo -- como exemplo de
jornalismo sem valor, chapa-branca.A
A realidade – em poucas semanas – encarregou-se de mostrar seu caráter
informativo e, com perdão do autoelogio, esclarecedor.
Nelson Rodrigues diagnosticou um mal cultural do brasileiro, o complexo
de vira-lata. É certo que este olhar autodepreciativo contribui para
embaçar uma visão mais realista da realidade. Ainda mais quando há
um interesse, nem sempre oculto, a partir de forças nem um pouco
ocultas, como você sabe, de criar um ambiente de medo, desconfiança
e derrota.
Mas ouso sugerir uma segunda abordagem à doença, talvez mais
atual. Após anos sem tratamento adequado, sem remédios e sem
terapia, os sintomas iniciais de subraça se desenvolveram e tomaram
conta dos pacientes.
Eles adquiriram uma nova personalidade. Deixaram de temer as
próprias fraquezas. Estão convencidos de que condição inferior é sua
verdadeira natureza – o que talvez explique a cafajestada, abaixo
de qualquer diagnóstico médico, na Arena Corinthiana, tratada
com muita naturalidade até que a reação de homens e mulheres
comprometidos com valores democráticos.
Não é difícil entender por que, até agora, não conseguem enxergar
o que se passa na Copa.
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/369020_EM+
CLIMA+DE+COPA+
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.