A MERCANTILIZAÇÀO DA USP
Conversa sobre mensalidades em universidades publicas
está de volta -- quando aumenta entrada de pobres. Por
que será?
Paulo Moreira Leite
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
Diretor da Sucursal da ISTOÉ em Brasília, é autor de "A Outra História do Mensalão". Foi correspondente
em Paris e Washington e ocupou postos de direção na VEJA e na Época. Também escreveu "A Mulher
que Era o General da Casa".
A descoberta de que duas décadas de gestão tucana levou a USP a descer a
ladeira nas avaliações acadêmicas levou nossos coxinhas e playboys a acionar
sua ideia fixa: privatizar a maior, mais tradicional e mais influente universidade
do país.
tem um ponto de convergência política: revogar a CLT.
demais universidades públicas.
acesso a cultura tem mais facilidade para ingressar em universidades públicas,
o ensino gratuito nessas instituições nada mais é do que uma forma inaceitável
de privilégio, que deveria ser abolido sem demora. Seria uma imoralidade.
contar o número de carros nos estacionamentos da Cidade Universitária, num
exercício vergonhoso de impressionismo para quem pretende fazer uma
discussão séria.
demonstram que o acesso de famílias de renda mais baixa à maioria dos
cursos da universidade é muito maior do que se imagina. Se há cursos onde
a porta de entrada é muito estreita – como Engenharia, Medicina – na
maioria das faculdades o determinismo social é menos importante do que
se acredita para definir quem entra e quem fica de fora. Vale o desempenho
escolar. Com uma competência muito maior do que a arrogância presunçosa
de muitos habitantes de bolhas nobres consegue imaginar, os pobres e até
muito pobres conseguem seu lugar.
Este processo, bastante antigo, foi reforçado em anos recentes pelas políticas
públicas que garantem acesso especial a estudantes da rede pública.
as univer$idade$ num clube onde só entra quem pode ficar $ocio. Elas perdem
o carátér de estabelecimento público, de todos os cidadãos, para ter ares de
um universo à parte, exclusivo. Alguém acha isso bom para o país?
Ao tentar debater mensalidades, coxinhas e playboys tentam fugir do debate
necessário: será que os habitantes do patamar superior da pirâmide tem dado
sua contribuição -- em $$$ -- pelo desenvolvimento do país? Será que
retribuem numa medida razoável, quando se considera aquilo que usufruem
do país? Que tal pensar nas grandes fortunas? Nas heranças? Ou em alíquotas
de imposto de renda adequadas, capazes de diferenciar salários médios e altos
de rendas milionárias?
benefício social nem ajuda a diminuir qualquer tipo de privilégio. É uma
forma – descarada ou enganosa, conforme o olhar interessado – de restaurar
a elitização do ensino público de qualidade. Ou seja: já que os pobres estão
conseguindo entrar nas universidades do Estado, é preciso arrumar um jeito
de colocá-los em seu devido lugar, isto é, do lado fora. É disso que se trata.
tem direito a diversas formas de auxílio e beneficios do Estado, cobram
R$ 2000 mensais de seus alunos de Direito. Em outras escolas, como a FGV,
a mensalidade chega a R$ 4 000. Num país onde o salário médio encontra-se
em torno de R$ 1900, pode-se imaginar quem poderá pleitear uma vaga. E
se você acredita na fantasia das bolsas para os mais carentes, lembre-se
que, por definição, elas são limitadas pelo valor e pelo volume de
beneficiados, sob o risco de comprometer o orçamento final. Você sabe
como é.
O argumento de que faltam recursos para saúde pública e ensino básico,
e por isso seria razoável sacrificar o ensino superior, é tão vergonhoso
que sequer deveria ser pronunciado.
Vivemos num país onde os pobres pagam a maioria dos impostos e nada
mais justo que possam usufruir dos benefícios que eles podem gerar –
como uma universidade pública, de qualidade, para seus filhos e seus
netos. Mesmo que o acesso não seja amplo como o desejável, a criação
de qualquer obstáculo a seu ingresso é vergonhosa e moralmente
inaceitável.
http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/366774_A+MERCANTILIZACAO+DA+USP
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