seg, 02/06/2014 - 09:56 -
Chama-se de "suite" a repercussão que o jornal dá a uma reportagem própria, visando manter o assunto no ar.
No domingo, o Estadão produziu uma manchete terrorista, dentro da campanha para desmoralizar a Copa. Sem evidências maiores na reportagem, a manchete mencionava acordo entre os Black Blocs e o PCC para aprontar na Copa.
Uma leitura superficial da reportagem mostraria tratar-se apenas de bazófia de um suposto integrante dos Black Blocs, sobre supostos contatos entre membros da seita que foram presos e integrantes do PCC e uma suposta conversa onde teria havido uma suposta intenção de apoio do membro do PCC (que não pertence à cúpula) às manifestações. Era o mesmo que entrevistar um cabo da PM e ele anunciasse em off, da sua cabeça, a estratégia da cúpula.
Qualquer analista medianamente informado sobre o PCC sabe que ele coíbe até pequenos crimes em periferia, para não chamar a atenção da polícia, atrapalhando seus negócios.
Aí o jornal vai atrás de fontes para repercutir a matéria. Não consegue nenhuma fonte. Esperto, o Secretário de Segurança de São Paulo Fernando Grella nem se manifestou, se é que foi procurado. Ou seja, a maior autoridade sobre o PCC de São Paulo não ousou soltar nem uma mísera nota oficial sobre a manchete, porque não é trouxa.
Sem conseguir outras fontes, a manchete tenderia a morrer no nascedouro, quando aparece a boia salvadora: o próprio alvo final da manchete, o Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. E José Eduardo Cardozo dá uma brilhante entrevista, onde expõe princípios de direito e conceitos de Justiça dignos dos mais altos pensadores, dos mais profundos juristas.
Disse ele:
* É inadmissível a associação de esforços entre os Black Blocs e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital para transformar a Copa do Mundo em um caos. Não se sabe se a expressão "associação de esforços" foi dele ou do repórter. Em todo caso, definição brilhante.
* É inadmissível a união pelo crime. Eu pensava que associação criminosa fosse apenas crime. Mas o Ministro da Justiça afirmar em alto e bom som que crimes são inadmissíveis dá outro molho retórico ao tema.
* Não toleraremos abusos de qualquer natureza. Pela atuação do Ministério, aparentemente só serão coibidos os "abusos de qualquer natureza".
* E as pessoas que praticarem ilícitos responderão nos termos da lei penal. Fantástico! Vindo de um Ministro da Justiça, um especialista em direito constitucional, é uma declaração inédita.
Um fecho glorioso: começando pela conspiração do mal e terminando com o próprio Ministro da Justiça assumindo a responsabilidade pelo que vier a ocorrer.
Ora, se o Ministro Cardozo considerasse a denúncia fundamentada, em vez de dar entrevistas estaria juntando os grupos de monitoramento da Copa, levantando informações, consultando o Secretário de Segurança de São Paulo e até determinando a prisão preventiva dos supostos planejadores do caos. Se não considerasse fundamentada, seu papel seria esvaziar o terrorismo midiático.
Em vez disso, prefere convalidar a ameaça com declarações óbvias e nenhum anúncio de medida. Tem sido assim permanentemente, a ponto de ser taxado pelo Ricardo Boechat de "o rei do gogó".
http://jornalggn.com.br/noticia/e-jose-eduardo-cardozo-convalidou-o-terrorismo-do-estadao#.U4x8C4WXhJM.facebook
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