segunda-feira, 6 de julho de 2015

OLAVO DE CARVALHO MERECE CONTESTAÇÃO OU DESPREZO?

OLAVO MERECE CONTESTAÇÃO OU DESPREZO?

          



 Este é um capítulo do meu novo livro, que pode ser encontrado no site do Clube de Autores




           Quando começou a usar as redes sociais para pregar o ódio e a confusão ideológica na cabeça de jovens e pessoas desprovidas de conhecimento histórico, Olavão era, merecidamente, ignorado pelos intelectuais e pelos jornalistas. O que ele esbravejava era tão ridículo e tão baixo que tornava-se desprezível.
Porém, ele acertou na sua tática: insistir nas mentiras, na auto-louvação, nos palavrões, pois certamente haveria um público para a baixaria desinformada. E esse público cresceu, o que permitiu ao guru ganhar mais dinheiro, ampliar seu alcance e atrair figuras populares como roqueiros, jornalistas e comunicadores de várias origens. Assim como crianças gostam de assistir a uma briga na porta da escola e poucos tentam apartar, assim também há pessoas que adoram assistir a um senhor fumando desesperadamente, rezando e falando palavrões escabrosos na mesma frase, e prometendo que os que o seguirem serão a “elite intelectual do Brasil, e depois serão a elite política”. Ora, ser a elite, comandar o país e, além disso, ir para o Céu porque eliminou os satânicos comunistas é bom demais; quem pode resistir?
Os métodos de Olavo começaram a chamar a atenção depois da presença maciça de olavetes na organização dos protestos de rua de março e abril de 2015, onde multidões pediam o impeachment de Dilma Rousseff e alguns pediam um golpe militar – eram muitos os cartazes em inglês, para que a mídia internacional imaginasse estarmos num tipo de “Primavera Árabe” ou 15M, de Madri, ou Ocuppy Wall Street. Olavo revindica para si o pioneirismo nessas manifestações, já que ele pedia ação há vários anos. Quando uma dúzia de olavetes distribuiu dezenas de cartazetes com a frase “Olavo tem razão”, eles foram expostos às câmeras, exibidos na internet e fizeram Olavo ficar modestamente comovido: “Um escritor ser aclamado nas ruas, isso nunca aconteceu na História Universal”…
Nos primórdios do movimento olavista, quando ele fazia um programa de rádio na internet chamado True Outspeak, semanalmente, o consenso era de que ele era inofensivo, tal a abundância de bobagens que dizia. O economista e blogueiro Marcelo Brito (blogdomarcelobrito.blogspot.br) discutiu várias vezes a conveniência ou não de dedicarmos atenção a esse tipo de propagador do ódio, correndo o risco de ajudá-los a obter a popularidade que desejam. Ele se refere especialmente a Olavo, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino:

“É verdade que todos esses colunistas adoram aparecer, que falar deles ajuda a colocá-los em evidência. Mas o fato é que desde 2003, esse tipo de colunista vem ganhando muita evidência na mídia, seja escrita, seja televisiva, seja radiofônica, seja online. Alguns já são suficientemente conhecidos para não precisarem mais do "nosso" trabalho de divulgação. E existe o risco deles fazerem a cabeça de pessoas. Isto não seria nem um pouco bom. Pois haverá danos à saúde pública se as pessoas passarem a pensar que não há problema em não levar crianças para tomar vacina ou que campanhas governamentais de uso de preservativo são ruins. Haverá danos à tolerância às minorias se for padrão as pessoas pensarem que homossexualidade é uma doença ou que o cidadão mais oprimido é o homem, branco, heterossexual e cristão. Haverá danos à segurança pública se linchadores passassem a ser vistos como algo "até compreensível". Haverá danos aos conhecimentos do país sobre sua história se a mentira de que só "terroristas" foram assassinados durante a ditadura militar for vista como verdade. Haverá danos ao conhecimento dos brasileiros sobre ciência se as pessoas disserem que "o aquecimento global não existe" com base apenas no "eu acho que".

Marcelo Brito, em outros textos, dedica-se a analisar o fenômeno do olavismo e do discurso de ódio, e faz observações muito perninentes dobre o comportamento da seita:
“Os alunos de Olavo de Carvalho pensam que seu Mestre é o maior pensador do Brasil. Provavelmente pensam que não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte pergunta: ‘se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo o seu vastíssimo conhecimento em universidades dos Estados Unidos, país onde reside? “
(…)
“O rol de atrocidades (de Olavo n. do A.) não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente ao prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele escreveu no jornal O Globo:
‘Em poucas semanas a estréia petista no poder terá superado em muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez mais de dois mil presos políticos’
Não sei se algum segui… aluno, chegou um dia a perguntar: ‘Mestre, onde estão localizados os prisioneiros politicos do governo Lula? ‘    Muito provavelmente, nem uma previsão tão furada quando esta abalou a confiança dos aprendizes no mestre.”
Sobre as falsificações de Olavo a respeito da ditadura civil-militar de 64, Marcelo fez belo resumo:
“Mas não é o futuro a única vítima do autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a ditadura militar brasileira matou “trezentos terroristas”. Portanto, qualquer um que adquire conhecimentos da História do Brasil apenas pela leitura das colunas de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos. Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luis, o Rubens Paiva, o Vladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela carta-bomba à OAB e muitos índios assassinados na construção de obras faraônicas na região Amazônica. Segundo, porque nem todos os atos praticados pela luta armada se enquadram na definição de terrorismo”.
A propósito da repressão na ditadura, Olavo repete uma mentira que só mesmo seus alunos, inebriados pela lábia do “mestre” não percebem: Olavo diz que não houve tortura no Brasil, mas admite que houve alguns casos, isolados e muito suaves. Como prova, diz que uma sua “contra-parente” metida na luta armada, foi presa por um ano e consta de listas de presos torturados publicadas pelos grupos de Direitos Humanos. “Ora, ela saiu da cadeia muito melhor do que entrou e eu sei disso porque eu a levei e eu fui buscá-la depois de um ano”. Ele vai um passo além na sua farsa, e aí cai na contradição irremediável: “mais tarde ela foi trocada numa desses trocas de prisioneiros e acabou morrendo de velha na Suécia”. Ué, mas se ele mesmo foi buscá-la na cadeia, toda saudável, sem marcas de maus-tratos, como é que ela foi incluída numa “troca de presos politicos” (talvez por algum diplomata sequestrado, como foram tantos. Afinal ela estava gordinha e saudável ao lado do Olavo, ou estava presa?
Mais adiante, Marcelo Brito menciona outra postura absurda de Olavo, recomendando a seus alunos que não deixem vacinar seus filhos(!):
“Por fim, Olavo de Carvalho se mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em julho de 2006:
‘Alguns de meus oito filhos tomaram vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a Deus e a ninguém mais”

Não foi Deus que tornou saudáveis os filhos que não tomaram vacinas. Foi o fato de outros pais não serem igualmente psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não tomaram vacinas”.

Outro blogueiro que se deteve em analisar as olavices é Bertone de Oliveira Souza, que mostra-se chocado com a obediência canina dos “alunos” de Olavo e sua virulência. Em 15 de dezembro de 2012, Bertone escreveu:
“Há alguns meses publiquei neste blog dois textos sobre um jornalista que se auto-intitula filósofo chamado Olavo de Carvalho. Para minha surpresa, nos últimos dias tenho recebido uma enxurrada de comentários raivosos, de pessoas que vêm aqui xingando e descarregando todo tipo de insanidades contra essas duas postagens. (…)
“Mas os colunistas são uma verdadeira piada; há um tal de Júlio Severo, um protestante homofóbico; Graça Salgueiro, uma senhora que vive desejando golpes militares de direita na América Latina (uma característica desses colunistas: golpes militares podem, desde que sejam de direita e mesmo que sejam contra governos de esquerda eleitos democraticamente); Nivaldo Cordeiro, que praticamente repete as mesmas asneiras ditas e escritas por Olavo de Carvalho, entre vários outros.
“Entre um desses admiradores de Olavo está um tal de Leonardo Bruno, que edita um blog chamado Conde Loppeux de La Villanueva e também escreve para o “Mídia sem Máscara” (sítio criado por Olavo, matriz de vários outros, n. do A.) mas em quem eu nunca tinha prestado atenção até ele vir aqui me anunciar uma postagem que ele fez respondendo à minha ‘Olavo de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira’. Leonardo é um blogueiro de orientação fascista que xinga a todos os que não estão alinhados a suas idéias. Em um desses comentários, me falou que não interessa que eu tenha publicados artigos e livros porque a universidade brasileira é tão insignificante quanto eu. (…)
“Acontece que não é possível nem dialogar com ele porque tudo o que ele fala se resume a xingamentos, desqualificação do interlocutor, escárnios, uma verdadeira baixaria sem fim, bem ao estilo de Olavo de Carvalho, de quem seus seguidores imitam os trejeitos. Leonardo Bruno é um apedeuta que sai vomitando esculachos e intimidações contra os outros na internet. E outros como ele acham isso o máximo, afinal, demonstração de intelectualidade para eles é distribuir palavrões gratuitos. (…)

“Vendo isso eu compreendo porque essas pessoas desprezam a universidade: porque são impostores, não estão comprometidos em produzir conhecimento, mas em espalhar desinformação. Espalhar desinformação é algo em que o senhor Olavo de Carvalho é especialista e tem feito há décadas. Algo também risível é que quando você não concorda com eles, partem para a agressividade como forma de intimidação, te desprezam como pessoa e usam de todo artifício prá te diminuir enquanto professional, dizendo que você não estuda, não sabe nada e por aí vai. Olavo de Carvalho e seus seguidores são verdadeiros parasitas virtuais, fascistas, limítrofes e pedantes. São o que há de pior e mais baixo na direita brasileira”. 

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