OLAVO MERECE CONTESTAÇÃO OU
DESPREZO?
Este é um capítulo do meu novo livro, que pode ser encontrado no site do Clube de Autores
Quando começou a usar as redes sociais para
pregar o ódio e a confusão ideológica na cabeça de jovens e pessoas desprovidas
de conhecimento histórico, Olavão era, merecidamente, ignorado pelos
intelectuais e pelos jornalistas. O que ele esbravejava era tão ridículo e tão
baixo que tornava-se desprezível.
Porém, ele acertou na sua
tática: insistir nas mentiras, na auto-louvação, nos palavrões, pois certamente
haveria um público para a baixaria desinformada. E esse público cresceu, o que
permitiu ao guru ganhar mais dinheiro, ampliar seu alcance e atrair figuras
populares como roqueiros, jornalistas e comunicadores de várias origens. Assim
como crianças gostam de assistir a uma briga na porta da escola e poucos tentam
apartar, assim também há pessoas que adoram assistir a um senhor fumando
desesperadamente, rezando e falando palavrões escabrosos na mesma frase, e
prometendo que os que o seguirem serão a “elite intelectual do Brasil, e depois
serão a elite política”. Ora, ser a elite, comandar o país e, além disso, ir
para o Céu porque eliminou os satânicos comunistas é bom demais; quem pode
resistir?
Os métodos de Olavo começaram
a chamar a atenção depois da presença maciça de olavetes na organização dos
protestos de rua de março e abril de 2015, onde multidões pediam o impeachment
de Dilma Rousseff e alguns pediam um golpe militar – eram muitos os cartazes em
inglês, para que a mídia internacional imaginasse estarmos num tipo de
“Primavera Árabe” ou 15M, de Madri, ou Ocuppy Wall Street. Olavo revindica para
si o pioneirismo nessas manifestações, já que ele pedia ação há vários anos.
Quando uma dúzia de olavetes distribuiu dezenas de cartazetes com a frase
“Olavo tem razão”, eles foram expostos às câmeras, exibidos na internet e
fizeram Olavo ficar modestamente comovido: “Um escritor ser aclamado nas ruas,
isso nunca aconteceu na História Universal”…
Nos primórdios do movimento
olavista, quando ele fazia um programa de rádio na internet chamado True
Outspeak, semanalmente, o consenso era de que ele era inofensivo, tal a
abundância de bobagens que dizia. O economista e blogueiro Marcelo Brito
(blogdomarcelobrito.blogspot.br) discutiu várias vezes a conveniência ou não de
dedicarmos atenção a esse tipo de propagador do ódio, correndo o risco de
ajudá-los a obter a popularidade que desejam. Ele se refere especialmente a
Olavo, Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino:
“É verdade que todos esses colunistas
adoram aparecer, que falar deles ajuda a colocá-los em evidência. Mas o fato é
que desde 2003, esse tipo de colunista vem ganhando muita evidência na mídia,
seja escrita, seja televisiva, seja radiofônica, seja online. Alguns já são
suficientemente conhecidos para não precisarem mais do "nosso"
trabalho de divulgação. E existe o risco deles fazerem a cabeça de pessoas.
Isto não seria nem um pouco bom. Pois haverá danos à saúde pública se as pessoas
passarem a pensar que não há problema em não levar crianças para tomar vacina
ou que campanhas governamentais de uso de preservativo são ruins. Haverá danos
à tolerância às minorias se for padrão as pessoas pensarem que homossexualidade
é uma doença ou que o cidadão mais oprimido é o homem, branco, heterossexual e
cristão. Haverá danos à segurança pública se linchadores passassem a ser vistos
como algo "até compreensível". Haverá danos aos conhecimentos do país
sobre sua história se a mentira de que só "terroristas" foram
assassinados durante a ditadura militar for vista como verdade. Haverá danos ao
conhecimento dos brasileiros sobre ciência se as pessoas disserem que
"o aquecimento global não existe" com base apenas no "eu acho
que".
Marcelo Brito, em outros textos,
dedica-se a analisar o fenômeno do olavismo e do discurso de ódio, e faz
observações muito perninentes dobre o comportamento da seita:
“Os alunos de Olavo de Carvalho
pensam que seu Mestre é o maior pensador do Brasil. Provavelmente pensam que
não é prestigiado em universidades brasileiras porque estas estariam dominadas
pelo marxismo cultural. Não sei se um dia pararam para pensar na seguinte
pergunta: ‘se Olavo não é prestigiado nas universidades brasileiras porque elas
são dominadas pelo marxismo cultural, por que ele não está demonstrando todo o
seu vastíssimo conhecimento em universidades dos Estados Unidos, país onde
reside? “
(…)
“O rol de atrocidades (de Olavo n. do
A.) não se limita à Economia Política. O ex-astrólogo também foi muito incompetente
ao prever o futuro. Em 26 de outubro de 2002, sobre o futuro governo Lula, ele
escreveu no jornal O Globo:
‘Em poucas semanas a estréia petista
no poder terá superado em muito a ditadura militar, que em vinte anos não fez
mais de dois mil presos políticos’
Não sei se algum segui… aluno, chegou
um dia a perguntar: ‘Mestre, onde estão localizados os prisioneiros politicos
do governo Lula? ‘ Muito provavelmente,
nem uma previsão tão furada quando esta abalou a confiança dos aprendizes no
mestre.”
Sobre as falsificações de Olavo a
respeito da ditadura civil-militar de 64, Marcelo fez belo resumo:
“Mas não é o futuro a única vítima do
autointitulado filósofo. O passado também é. Em várias colunas, ele disse que a
ditadura militar brasileira matou “trezentos terroristas”. Portanto, qualquer
um que adquire conhecimentos da História do Brasil apenas pela leitura das colunas
de Olavo de Carvalho acaba tendo uma visão deformada. Por dois motivos.
Primeiro, porque os assassinados pela ditadura não foram apenas os integrantes
da luta armada. Entre os mortos se incluem o Edson Luis, o Rubens Paiva, o
Vladimir Herzog, o Manoel Fiel Filho, o Pedro Pomar, os três mortos pela
carta-bomba à OAB e muitos índios assassinados na construção de obras
faraônicas na região Amazônica. Segundo, porque nem todos os atos praticados
pela luta armada se enquadram na definição de terrorismo”.
A propósito da repressão na ditadura,
Olavo repete uma mentira que só mesmo
seus alunos, inebriados pela lábia do “mestre” não percebem: Olavo diz que não
houve tortura no Brasil, mas admite que houve alguns casos, isolados e muito
suaves. Como prova, diz que uma sua “contra-parente” metida na luta armada, foi
presa por um ano e consta de listas de presos torturados publicadas pelos
grupos de Direitos Humanos. “Ora, ela saiu da cadeia muito melhor do que entrou
e eu sei disso porque eu a levei e eu fui buscá-la depois de um ano”. Ele vai
um passo além na sua farsa, e aí cai na contradição irremediável: “mais tarde
ela foi trocada numa desses trocas de prisioneiros e acabou morrendo de velha
na Suécia”. Ué, mas se ele mesmo foi buscá-la na cadeia, toda saudável, sem
marcas de maus-tratos, como é que ela foi incluída numa “troca de presos
politicos” (talvez por algum diplomata sequestrado, como foram tantos. Afinal ela
estava gordinha e saudável ao lado do Olavo, ou estava presa?
Mais adiante, Marcelo Brito menciona
outra postura absurda de Olavo, recomendando a seus alunos que não deixem
vacinar seus filhos(!):
“Por fim, Olavo de Carvalho se
mostrou irresponsável em questões de saúde. Ele escreveu em julho de 2006:
‘Alguns de meus oito filhos tomaram
vacinas, outros não. Todos foram abençoados com saúde, força e vigor
extraordinários, e nenhum deles deve isso aos méritos da ciência estatal, mas a
Deus e a ninguém mais”
Não foi Deus que tornou saudáveis os
filhos que não tomaram vacinas. Foi o fato de outros pais não serem igualmente
psicopatas e terem levado suas crianças para tomar vacina, impedindo a
propagação de doenças inclusive nos poucos (filhos de psicopatas) que não
tomaram vacinas”.
Outro blogueiro que se deteve em
analisar as olavices é Bertone de Oliveira Souza, que mostra-se chocado com a
obediência canina dos “alunos” de Olavo e sua virulência. Em 15 de dezembro de
2012, Bertone escreveu:
“Há alguns meses publiquei neste blog
dois textos sobre um jornalista que se auto-intitula filósofo chamado Olavo de
Carvalho. Para minha surpresa, nos últimos dias tenho recebido uma enxurrada de
comentários raivosos, de pessoas que vêm aqui xingando e descarregando todo
tipo de insanidades contra essas duas postagens. (…)
“Mas os colunistas são uma verdadeira
piada; há um tal de Júlio Severo, um protestante homofóbico; Graça Salgueiro,
uma senhora que vive desejando golpes militares de direita na América Latina
(uma característica desses colunistas: golpes militares podem, desde que sejam
de direita e mesmo que sejam contra governos de esquerda eleitos
democraticamente); Nivaldo Cordeiro, que praticamente repete as mesmas asneiras
ditas e escritas por Olavo de Carvalho, entre vários outros.
“Entre um desses admiradores de Olavo
está um tal de Leonardo Bruno, que edita um blog chamado Conde Loppeux de La
Villanueva e também escreve para o “Mídia sem Máscara” (sítio criado por Olavo,
matriz de vários outros, n. do A.) mas em quem eu nunca tinha prestado atenção
até ele vir aqui me anunciar uma postagem que ele fez respondendo à minha ‘Olavo
de Carvalho e a pieguice intelectual brasileira’. Leonardo é um blogueiro de
orientação fascista que xinga a todos os que não estão alinhados a suas idéias.
Em um desses comentários, me falou que não interessa que eu tenha publicados
artigos e livros porque a universidade brasileira é tão insignificante quanto
eu. (…)
“Acontece que não é possível nem
dialogar com ele porque tudo o que ele fala se resume a xingamentos,
desqualificação do interlocutor, escárnios, uma verdadeira baixaria sem fim,
bem ao estilo de Olavo de Carvalho, de quem seus seguidores imitam os
trejeitos. Leonardo Bruno é um apedeuta que sai vomitando esculachos e
intimidações contra os outros na internet. E outros como ele acham isso o
máximo, afinal, demonstração de intelectualidade para eles é distribuir
palavrões gratuitos. (…)
“Vendo isso eu compreendo porque
essas pessoas desprezam a universidade: porque são impostores, não estão
comprometidos em produzir conhecimento, mas em espalhar desinformação. Espalhar
desinformação é algo em que o senhor Olavo de Carvalho é especialista e tem
feito há décadas. Algo também risível é que quando você não concorda com eles,
partem para a agressividade como forma de intimidação, te desprezam como pessoa
e usam de todo artifício prá te diminuir enquanto professional, dizendo que
você não estuda, não sabe nada e por aí vai. Olavo de Carvalho e seus
seguidores são verdadeiros parasitas virtuais, fascistas, limítrofes e pedantes.
São o que há de pior e mais baixo na direita brasileira”.
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