segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

PALAVRA DE MINO CARTA, NA CARTA CAPITAL

Via blog Olhos do Sertão


Continuidade e Novidade – Dilma vai na esteira de Lula, mas também mostra seu próprio estilo



por Mino Carta.



Converso com Lula há mais de 33 anos, quando Lula era apenas apelido. Todas as qualidades dele saíram de São Bernardo e o Brasil aprendeu a conhecê-las e a admirá-las. E o mundo, até. Hoje ele gosta de falar de sua sucessora, de evocar o passado e de expor os sentimentos de quem tem de “desencarnar”. O verbo recorre em sua boca porque o esforço para adaptar-se à nova vida causa alguma ventania entre o fígado e a alma.

A respeito de Dilma, ele é o primeiro a reconhecer o quanto ela foi indispensável ao êxito do seu governo e a revelar ter visto nela a sua candidata ainda no final do primeiro mandato. O que, confesso, muito me agrada: foi quando me atirei a apostar nesta escolha e a escrever a respeito. A partir, para ser exato, do momento em que ela substituiu José Dirceu na Casa Civil. Ali, Dilma mostrou por completo a que viera.

Lula conta deste período episódios muito indicativos da personalidade da sucessora. Cabia a ela organizar as reuniões do ministério, pronta a interrompê-las ao meio da fala de um ministro, para dizer, em tom peremptório, embora pacato: “Presidente, não é nada disso, o senhor ministro está dourando a pílula, de verdade a situação é outra”. E desfiava então os fatos na sequência exata e fornecia a interpretação correta.

Tratou-se claramente de uma parceria afinadíssima, que de alguma forma se mantém, garantida, em primeiro lugar, pela continuidade. Hoje Lula se ri de quem imaginou seu retorno em 2014: ele não tem dúvidas sobre o excelente desempenho de Dilma, pelo qual ela se habilitará com todos os méritos à reeleição. A continuidade é certa, mas as situações mudam naturalmente, de sorte a justificar adaptações, retoques, acertos, esperados de um governo efetivamente novo e em harmonia com a personalidade de Dilma.
A presidenta exibe amiúde características que não se encaixam no estereótipo brasileiro, digamos assim. Senso de responsabilidade profundo, discrição extrema, entronização de uma pontualidade insólita nas nossas latitudes. Há jornalistas dispostos a prever mudanças na política externa em relação àquela de Lula. Apressam-se, creio eu. Aposto, isto sim, em definições mais nítidas na política dos Direitos Humanos, o que já permitiu a Dilma condenar ao mesmo tempo transgressões cometidas em Cuba e nos EUA.
(...)

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