PT mantém ativo processo contra golpe eleitoral da revista Veja
O golpe midiático aplicado pela revista semanal de ultradireita Veja, às vésperas da eleição, segue ativo e terá seu curso definido na Procuradoria Geral da República (PGR). O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) esclareceu, em nota distribuída nesta quinta-feira, que o processo aberto contra a intenção clara de tumultuar o processo eleitoral brasileiro está em vigor. A legenda requereu, perante a PGR e ao Supremo Tribunal Federal (STF), a instauração de inquérito para investigar o vazamento de supostos elementos da delação premiada de Alberto Youssef à publicação da Editora Abril, que deu origem à capa da publicação, três dias antes do segundo turno das eleições presidenciais, na qual afirmava que “Dilma e Lula sabiam de tudo”. Após a manifestação da PGR, o ministro Teori Zavascki, do STF, arquivou o pedido no Supremo por entender que não há envolvimento de autoridades com prerrogativa de foro no vazamento.
“No entanto, estão em andamento perante a Procuradoria Geral da República três procedimentos para apuração dos mesmos fatos (Manifestação n. 84489/2014; Sistema único n.00243054/2014 e Notícia-Fato n. 1.00.000.015966/2014-08)”, esclareceu o PT.
Na semana que antecedeu as eleições, a revista adiantou a divulgação da capa, que normalmente é feita aos sábados, para a noite de quinta-feira. A publicação dizia ter posse de uma gravação em que o doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, teria dito a um ainda que Lula e Dilma sabiam da corrupção dentro da Petrobras. As declarações provaram-se falsas nas semanas seguintes, após a negativa do advogado de Yousseff, Antonio Figueiredo Basto, de que ele teria feito as insinuações quanto a Lula e Dilma.
De acordo com a revista, o doleiro que assinou um acordo de delação premiada para conseguir redução de pena, foi questionado sobre o nível de comprometimento de autoridades no esquema que ele fazia. “O Planalto sabia de tudo”, teria dito. O misterioso delegado pergunta a quem ele se referia. “Lula e Dilma”, teria respondido Youssef. O repórter Robson Bonin, que assina a matéria, no entanto, confessa que todas as afirmativas carecem de provas mínimas para se transformarem em algo minimamente crível.
“O doleiro não apresentou – e nem lhe foram pedidas – provas do que disse. Por enquanto, nesta fase do processo, o que mais interessa aos delegados é ter certeza de que o depoente atuou diretamente ou pelo menos presenciou ilegalidades”, disse Bonin.
Advogado de Youssef, Figueiredo Basto voltou a desmentir a revista, nos dias que se seguiram, ao esclaecer que o doleiro prestou depoimento à Polícia Federal de Curitiba no dia 14 de outubro, mas não disse o que a revista publicou.
– Eu nunca ouvi nada que confirmasse isso (que Lula e Dilma sabiam do esquema de corrupção na Petrobras). Não conheço esse depoimento, não conheço o teor dele. Estou surpreso – afirmou Basto a um jornal carioca.
Youssef prestou vários depoimentos no mesmo dia, sempre acompanhado de advogados da equipe de Basto, mas ninguém ouviu uma só palavra do que foi publicado pela Veja.
– Conversei com todos da minha equipe e nenhum fala isso. Estamos perplexos e desconhecemos o que está acontecendo. É preciso ter cuidado porque está havendo muita especulação – pontuou o advogado, à época.
A maior preocupação do advogado no incidente, que passou ao largo da matéria de Veja, deve-se ao fato de que tal afirmação demandaria provas, caso contrário, além de violar o benefício da delação, que exige a apresentação de comprovação, o seu cliente estaria infringindo lei por calúnia, injúria e difamação, acarretando em outro processo. De forma criminosa e embalada pelo velho estilo golpista da grande mídia, a Veja publicou “reportagem” às vésperas da eleição sem apresentar provas que possam embasar tal afirmação, condição fundamental para uma reportagem. Aliás, esta é a conduta da revista ao longo da sua história marcada pela infração de todo e qualquer código de ética do jornalismo existente no mundo e do direito à informação, previsto na Constituição Federal de 1988.
A revista não escondeu, em nenhum momento, que sua intenção era o golpe. O colunista Reinaldo Azevedo, desde então, repete que o objetivo da publicação e da corrente política de extrema direita à qual representa é o de derrubar Dilma no segundo mandato. “(…) Se Dilma for reeleita e se for verdade o que diz o doleiro, devemos recorrer às leis da democracia – não a revoluções e a golpes – para impedir que governe”, disse Azevedo, acentuando o caráter golpista da publicação. Azevedo, em sua coluna, passa a receita aos tucanos e seus aliados sugerindo o pedido deimpeachment de Dilma com base em suposta declaração do doleiro.
“Sordidez terrorista”
Presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo definiu a publicação como “sórdida”. “A tentativa de golpe na democracia perpetrada pela revista Veja na sua capa nos momentos finais da campanha presidencial chegou ao cume da sordidez e da afronta”, afirmou Rabelo a jornalistas, logo após a veiculação da matéria.
– Isso demonstra que essa revista se tornou um panfleto provocador e terrorista da elite conservadora e obscurantista, contra as forças democráticas progressistas e populares do Brasil. A revista chega ao limite do desespero e isso é um obstáculo ao avanço da democracia em nosso país – completou o dirigente comunista.
O presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, também repeliu a revista Veja e afirmou que a publicação não passava de uma estratégia para tentar salvar a campanha tucana que, naquela altura dos fatos, estava irremediavelmente perdida.
– É um desserviço ao bom jornalismo e à democracia, uma revista querer, a 48 horas de uma eleição, trazer uma matéria deste naipe. É um desserviço, uma falta de imparcialidade, ou melhor, é uma parcialidade total na disputa eleitoral. Eu acho que a Veja perde um pouco mais do pouco que lhe resta de credibilidade – disse o dirigente.
Profissionais do Jornalismo também avaliaram a ação do semanário. O jornalista blogueiro Altamiro Borges, do Centro de Mídia Barão de Itararé, afirma que Veja mente para tentar influir no voto dos brasileiros.
– Este novo golpe também deveria fazer com que o governo repensasse sua política de publicidade. Não tem cabimento bancar anúncios milionários numa publicação asquerosa e irresponsável, que atenta semanalmente contra a democracia e o livre voto dos brasileiros – asseverou.
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