247 - Para quem ainda considera exagerada a comparação entre Marina Silva e os ex-presidentes Jânio Quadros e Fernando Collor, que foram eleitos prometendo uma nova política e caíram porque não tinham base parlamentar, vale a pena prestar atenção ao significado das palavras ditas, neste fim de semana, pelo deputado Beto Albuquerque (PSB-RS). Vice na chapa de Marina, ele afirmou que Marina irá governar "com a força das ruas", minimizando o fato de sua candidata não possuir nenhuma articulação política consistente.
O mais grave, no entanto, foi a declaração seguinte, quando o
vice de Marina praticamente convocou novas manifestações
diante do Congresso. "As urnas, quando te dão essa força,
permitem que você estabeleça uma relação política na largada.
Ou seja, não vamos propor reforma tributária, reforma política,
no terceiro ano. Vamos propor nos primeiros meses do primeiro
ano de governo, para que esse lastro da sociedade, que está
vindo conosco, permita uma negociação diferente na Câmara e
no Senado. Nós vamos construir essa maioria, mas sem cacifar
as velhas raposas", afirmou. Em seguida, Beto fez a ameaça:
"Depois de eleger Marina, temos de ir para as ruas dar a ela a
cobertura para que possa exigir do Congresso as mudanças
necessárias ao país."
O que o vice do PSB disse foi cristalino. Sem força política e
sem base parlamentar, um governo Marina convocaria as ruas
para emparedar o Congresso. Coincidência ou não, em junho do
ano passado, quando manifestantes cercaram o Congresso
Nacional e houve um princípio de incêndio no Itamaraty, foram
identificados integrantes da Rede, alguns bem próximos a Marina
Silva, entre as lideranças das manifestações.
Se o novo modelo proposto por Marina e Beto, num programa de
governo coordenado por Neca Setúbal, propõe suplantar o
Congresso e governar "com a força das ruas", é preciso questionar
se essa tática black bloc comporta também a depredação de
agências bancárias, como as do Itaú?
Ao apoiar publicamente Marina Silva, o cantor e compositor Caetano
Veloso, que, no passado, se vestiu de black bloc, afirmou que é
impossível ceder à luz irresistível que emana da candidatura do
PSB. As declarações de Beto Albuquerque, o recuo de Marina diante
do pastor homofóbico Silas Malafaia e as revelações de que ela
consulta a Bíblia antes de tomar decisões prenunciam uma era de
obscurantismo.
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