247 - Ramona Rodríguez é hoje apenas uma desertora entre mais
de 6 mil médicos que atuam no âmbito do Programa Mais Médicos.
Mas será uma das principais armas da oposição ao governo federal
para preservar sua maior trincheira: o governo do estado de São
Paulo, comandado por Geraldo Alckmin, do PSDB.
Lida inicialmente como a história de uma médica que pretendia
visitar seu namorado em Miami, a história de Ramona Rodríguez é
mais complexa. Instrumentalizada por grupos políticos, ela deverá
se converter na principal peça de uma estratégia que poderá até
inviabilizar o programa Mais Médicos.
O resultado prático disso seria o enfraquecimento da candidatura de
Alexandre Padilha, do PT, em São Paulo, e abalos até na imagem da
presidente Dilma Rousseff.
A senha foi dada por dois dos principais colunistas da mídia familiar,
nesta sexta-feira. Em artigo no Globo, chamado "Mais Médicos na
berlinda", Merval Pereira chega a levantar a suspeita de que parte
dos salários dos profissionais de Cuba seria desviada para o caixa
dois do PT nas eleições de 2014 e defende a investigação dos
contratos de trabalho. Eis um trecho:
"O contrato dos médicos cubanos, sabe-se agora, é intermediado por
uma tal de "Sociedade Mercantil Cubana Comercializadora de Serviços Cubanos", o que deveria ser investigado, pois não se sabe para onde
vai o dinheiro arrecadado.
Há desconfiança na oposição de que parte desse dinheiro volta para
os cofres petistas, o que seria uma maneira de financiar um caixa
dois
para as eleições.
O Ministério Público do Trabalho, que não tivera até o momento
acesso aos contratos firmados pelo governo brasileiro e a tal
"Sociedade Mercantil", o que é espantoso, a partir do depoimento
da médica cubana decidiu cobrar do governo que mude a relação de
trabalho com os médicos cubanos, obrigando a que seja igual à de
outros médicos estrangeiros, que ficam integralmente com os
R$ 10 mil pagos pelo governo brasileiro."
Na Folha de S. Paulo, quem se apresentou para a batalha foi Eliane Cantanhêde, na coluna "Era questão de tempo". Embora reconheça
a instrumentalização de Ramona pela oposição, ela defende a
investigação dos contratos de trabalho:
"Não deu outra. É óbvio que a médica Ramona Rodriguez está se
usando e sendo usada politicamente: foi acolhida pelo oposicionista
DEM e está sendo contratada por associação radicalmente contrária
ao Mais Médicos. Mas ainda não é óbvio é se ela é um caso isolado
ou se vai gerar uma enxurrada de processos na Justiça.
Elementos para isso não faltam, como juristas ilustres já alertavam
desde o início. Como um médico cubano pode embolsar dez vezes
menos que colegas venezuelanos, colombianos ou portugueses, ali
nos municípios vizinhos, pelo mesmo trabalho, as mesmas horas e
o mesmo contratante? Se não for ilegal, é no mínimo imoral."
O alarme disparado por Merval e Eliane já foi ouvido pelo Ministério
Público do Trabalho, onde o procurador Sebastião Caixeta deu razão
aos argumentos de Ramona e passou a defender que os médicos
cubanos recebam o valor integral de R$ 10 mil. “Estamos concluindo
no inquérito que há, de fato, problemas no programa Mais Médicos.
Há um desvirtuamento na relação de trabalho dos profissionais. Todos
foram recrutados para o que seria um curso de pós-graduação e
especialização nas modalidades ensino, pesquisa e extensão. E não
é isso que nós vimos. Há uma relação de trabalho e o que eles
recebem é salário e não uma bolsa”, disse ele.
Se a tese de Caixeta vingar, o programa irá por água abaixo. Especial-
mente porque Cuba é o único país do mundo em condições de oferecer profissionais de saúde em grande quantidade, mas em contratos de
trabalho submetidos a uma outra lógica.
http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/129454/Cubana-Ramona-
%C3%A9-arma-tucana-para-n%C3%A3o-perder-SP.htm