247 - A revista Veja desta semana produz um alarme falso. Anun-
ciado, na capa, como "O manual de propina da Alstom", obtido com exclusividade, o documento poderia significar um mergulho da Edito-
ra Abril no escândalo que atinge o PSDB de São Paulo.
Expectativas frustradas. O texto de Alexandre Aragão apenas publica
um guia da empresa francesa Alstom para "simplificar e racionalizar"
as regras de pagamento de propina para a obtenção de contratos pela
Alstom e suas subsidiárias com lobistas de empresas públicas e priva-
das.
Entre as descobertas, a necessidade de que as comissões não sejam registradas na contabilidade da matriz e que seja mantida a confiden-
cialidade. Além disso, de preferência, as propinas deveriam ser pagas
por subsidiárias como a Cegelec.
Se Veja fizesse uma pesquisa nos seus próprios arquivos, encontra-
ria um personagem central no escândalo das propinas da Alstom: o
ex-secretário de Energia de São Paulo, Andrea Matarazzo. Eis o que
foi escrito numa reportagem de Alexandre Oltramari, de 22 de novem-
bro de 2000 sobre o caixa dois tucano (leia aqui a íntegra):
Que teve, teve – Num primeiro momento, os tucanos, atingidos
pela denúncia, ensaiaram uma versão de que a planilha do caixa
dois podia não ser verdadeira. Após receber um telefonema de
Fernando Henrique, no qual o presidente demonstrava preocupa-
ção com a notícia, Bresser Pereira tentou explicar-se. Admitiu
ser o dono da planilha e contou que seu irmão, Sérgio Luiz, o
ajudou no trabalho, porém afirmou que ela foi alterada. "Eu
montei uma planilha, mas abandonei o sistema depois de dois
meses porque não funcionava", disse o ex-ministro. "Não houve
gastos nem receitas que não foram contabilizados. Não sei
explicar de onde saiu isso." A ordem no Planalto era para que
ninguém no governo comentasse o assunto. No apartamento
de Bresser, em São Paulo, os empregados avisavam aos jorna-
listas que ele viajara para os Estados Unidos. O ministro An-
drea Matarazzo, que aparece na lista do "por fora" com uma
doação de 3 milhões de reais, mandou seus assessores dizer
que tinha ido para a fazenda e estava "incomunicável". Puro
teatro. Nem Bresser havia embarcado para os Estados Unidos
nem Matarazzo estava "incomunicável".
No final da semana, ninguém tinha mais dúvida de que a pla-
nilha revelava o caixa dois da campanha. Além de Bresser Pe-
reira, outras duas pessoas tinham acesso à contabilidade da
campanha de Fernando Henrique: o ex-presidente dos Correios
Egydio Bianchi e Adroaldo Wolf. Em conversa com VEJA, um de-
les admitiu que a campanha, de fato, usou a contabilidade para-
lela. "Que teve uma contabilidade paralela, eu não tenho dúvida.
O que eu não sei é se desviaram o dinheiro ou se não declararam
para proteger a identidade do doador", diz um dos tesoureiros. Na
quarta-feira passada, falando de seu apartamento em São Paulo,
Bresser desabafou: "Não posso ser responsabilizado por tudo que
ocorreu de alto a baixo na campanha", disse. "Se alguém recebeu
dinheiro e não registrou, como eu posso saber?" Entre os tucanos,
o nome de Egydio Bianchi, que entrou no governo pelas mãos do
ex-ministro Sergio Motta, circulava como o principal suspeito de
ter vazado as planilhas com o caixa dois da campanha. Demitido
dos Correios há quatro meses pelo ministro Pimenta da Veiga, das Comunicações, Bianchi saiu atirando. Chegou a ter um encontro
com Fernando Henrique no qual torpedeou a administração de
Pimenta da Veiga e prometeu entregar um dossiê com acusa-
ções.
De onde vinham os US$ 3 milhões de Matarazzo? De subsidiá-
rias da Alstom, como a Cegelec. O mistério é: por que Veja
omite isso dos seus leitores?
http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/128816/Veja-manual-de-propina-da-Alstom-omite-Matarazzo.htm
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários são bem-vindos, desde que não contenham expressões ofensivas ou chulas, nem atentem contra as leis vigentes no Brasil sobre a honra e imagem de pessoas e instituições.