A jornalista da Folha de S. Paulo, Eliane Cantanhêde, tem prestado grandes serviços ao PSDB - do qual seu marido é publicitário - e enormes desserviços ao Jornalismo. Produz também frases de humor, como ao classificar os militantes do PSDB de "massa cheirosa", em contraste com os admiradores do PT e da esquerda, que devem ser mal-cheirosos, segundo seu aguçado faro.
A última encomenda que entregou ao PSDB, talvez como presente de Natal, é o artigo que reproduzo ao final, criticando o ex-presidente Lula por ter ele comparado o espaço que a mídia conservadora deu ao pedido de emprego feito por José Dirceu a um hotel de Brasília, com o silência do mesmo "jornalismo investigativo" quanto à carga de cocaína apreendida num helicóptero que pertence a políticos mineiros muito próximo do pré-candidato Aécio Neves. A TV Globo chegou a enviar repórteres ao Panamá, para investigar um "laranja" que seria sócio do hotel, que emprega 400 funcionários - e isso nada tem a ver com o atual preso-político José Dirceu. Mas não mandou ninguém investigar a quem pertencem os 445 quilos de cocaína, avaliados em 20 milhões de reais e que poderiam ter relação com a campanha do pré-candidato tucano.
Foi isso que Lula criticou no Congresso do seu Partido, e isso que causou revolta em certas figuras da mídia cujo engajamento político o povo já percebeu faz tempos, como Miriam Leitão e Eliane Cantanhêde.
Recuemos um pouco para entendermos melhor esta relação entre cocaína e política, que vem sendo estabelecida pela mídia de direita. Em 2009, quando Aécio Neves brigava com José Serra pela realização de prévias no PSDB, um jornalista, recentemente falecido, Mauro Chaves, publicou um artigo encomendado por Serra que abateu Aécio em pleno vôo. Insinuava algo com cocaína, aproveitando-se de boatos que circulam no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em Brasília, de que o neto de Tancredo Neves teria usado, ou seria usuário de drogas. Tais boatos nunca foram provados, mas a fama de Aecinho, notório boêmio das noites mais caras do Rio, está consolidada e é alimentada mais por seus adversários internos do PSDB do que pelo PT.
O artigo ficou na História, por ter eliminado Aécio da disputa de 2010, e por ser o típico "fogo-amigo", no qual Serra é um especialista (Geraldo Alckmin que o diga...).
Eliane Cantanhêde, que agora repudia o que vê como "insinuação" de Lula, não abriu a boca contra aquela artigo, que servia ao patrão de seu marido, José Serra. Como o texto de 2009 foi apagado dos arquivos do jornal O Estado de S. Paulo, que o publicou, reproduzo-o na íntegra, abaixo, para refrescar a memória de alguns e ensinar a outros quais os métodos de campanha de Serra contra seus adversários, inclusive do mesmo partido:
Pó pará, governador?
28 de fevereiro de 2009 | 0h 00
28 de fevereiro de 2009 | 0h 00
Mauro Chaves – O Estado de S.Paulo
Em conversa com o presidente Lula no dia 6 de fevereiro, uma sexta-feira, o governador Aécio Neves expôs-lhe a estratégia que iria adotar com o PSDB, com vista a obter a indicação de sua candidatura a presidente da República. Essa estratégia consistia num ultimato para que a cúpula tucana definisse a realização de prévias eleitorais presidenciais impreterivelmente até o dia 30 de março – “nem um dia a mais”. Era muito estranho, primeiro, que um candidato a candidato comunicasse sua estratégia eleitoral ao adversário político antes de fazê-lo a seus correligionários. Mais estranho ainda era o fato de uma proposta de procedimento jamais adotada por um partido desde sua fundação, há 20 anos — o que exigiria, no mínimo, uma ampla discussão partidária interna -, fosse introduzida por meio de um ultimato, uma “exigência” a ser cumprida em um mês e meio, sob pena de… De quê, mesmo?
O que Aécio fará se o PSDB não adotar as prévias presidenciais até 30 de março? Não foi dito pelo governador mineiro (certamente para não assinar oficialmente um termo de chantagem política), mas foi barulhentamente insinuado: em caso da não-aprovação das prévias, Aécio voaria para ser presidenciável do PMDB. É claro que para o presidente Lula e sua ungida presidenciável, a neomeiga mãe do PAC, não haveria melhor oportunidade de cindir as forças oposicionistas, deixando cada uma em um dos dois maiores colégios eleitorais do País. E é claro que para o PMDB, com tantos milhões de votos no País, mas sem ter quem os receba, como candidato a presidente da República, a adoção de Aécio como correligionário/candidato poderia significar um upgrade fisiológico capaz de lhe propiciar um não programado salto na conquista do poder maior — já que os menores acabou de conquistar.
Pela pesquisa nacional do Instituto Datafolha, os presidenciáveis tucanos têm os seguintes índices: José Serra, 41% (disparado na frente), e Aécio Neves, 17% (atrás de Ciro Gomes, com 25%, e de Heloisa Helena, com 19%). Por que, então, o governador de Minas se julga capaz de reverter espetacularmente esses índices, fazendo sua candidatura presidencial subir feito um foguete e a de seu colega e correligionário paulista despencar feito um viaduto? Que informações essenciais haveria, para se transmitirem aos cerca de 1 milhão e pouco de militantes tucanos — supondo-se que estes fossem os eleitores das “exigidas” prévias, que ninguém tem ideia de como devam ser –, para que pudesse ocorrer uma formidável inversão de avaliação eleitoral, que desse vitória a Aécio sobre Serra (supondo que o governador mineiro pretenda, de fato, vencê-las)?
Vejamos o modus faciendi de preparação das prévias, sugerido (ou “exigido”?) pelo governador mineiro: ele e Serra sairiam pelo Brasil afora apresentando suas “propostas” de governo, suas soluções para a crise econômica, as críticas cabíveis ao governo federal e coisas do tipo. Seriam diferentes ou semelhantes tais propostas, soluções e críticas? Se semelhantes, apresentadas em conjunto nos mesmos palanques “prévios”, para obter o voto do eleitor “prévio” cada um dos concorrentes tucanos teria de tentar mostrar alguma vantagem diferencial. Talvez Aécio apostasse em sua condição de mais moço, com bastante cabelo e imagem de “boa pinta”, só restando a Serra falar de sua maior experiência política, administrativa e seu preparo geral, em termos de conhecimento, cultura e traquejo internacional. Mas se falassem a mesma coisa, harmonizados e só com vozes diferentes, os dois correriam o risco de em algum lugar ermo do interior ser confundidos com dupla sertaneja — quem sabe Zé Serra e Ah é, sô.
Agora, se os discursos forem diferentes, em palanques “prévios” diferentes, haverá uma disputa de acirramento imprevisível. E no Brasil não temos a prática norte-americana das primárias — que uniu Obama e Hillary depois de se terem escalpelado. Por mais que disfarcem e até simulem alianças, aqui os concorrentes, após as eleições, sempre se tornam cordiais inimigos figadais. E aí as semelhanças políticas estão na razão direta das diferenças pessoais. Mas não há dúvida de que sob o ponto de vista político-administrativo Serra e Aécio são semelhantes, porque comandam administrações competentes.
Ressalvem-se apenas as profundas diferenças de cobrança de opinião pública entre Minas e São Paulo. Quem já leu os jornais mineiros fica impressionado com a absoluta falta de crítica em relação a tudo o que se relacione, direta ou indiretamente, ao governo ou ao governador.
O caso do “mensalão tucano” só foi publicado pelos jornais de Minas depois que a imprensa do País inteiro já tinha dele tratado — e que o governador se pronunciou a respeito. É que em Minas imprensa e governo são irmãos xifópagos. Em São Paulo, ao contrário, não só Serra como todos os governos e governadores anteriores sempre foram cobrados com força, cabresto curto, especialmente pelos dois jornais mais importantes. Neste aspecto a democracia em São Paulo é mais direta que a mineira (assim como a de Montoro era mais direta que a de Tancredo). Fora isso, os governadores dos dois Estados são, com justiça, bem avaliados por suas respectivas populações.
O problema tucano, na sucessão presidencial, é que na política cabocla as ambições pessoais têm razões que a razão da fidelidade política desconhece. Agora, quando a isso se junta o sebastianismo — a volta do rei que nunca foi –, haja pressa em restaurar o trono de São João Del Rey… Só que Aécio devia refletir sobre o que disse seu grande conterrâneo João Guimarães Rosa: “Deus é paciência. O diabo é o contrário.”
E hoje talvez ele advertisse: Pó pará, governador?
Mauro Chaves é jornalista, advogado, escritor,administrador de empresas e pintor.
Mas Eliane Cantanhêde leu, e não se escandalizou com este golpe "abaixo da linha da cintura", desferido por seu candidato eterno José Serra.
Pior que isso, para dar um empurrãozinho na oposição e tentar criar revolta da população contra Lula, aquele demônio, ela cometeu um ato que classifico como de "terrorismo midiático". Foi em janeiro de 2008 que ela lançou um dramático alerta ao povo brasileiro, para que todos corressem aos postos de saúde em busca de vacinas contra a febre-amarela, que estaria matando em massa.
A culpa era de Lula, óbvio. Houve uma certa corrida aos postos, faltaram vacinas, e pelo menos duas pessoas MORRERAM por reações adversas à vacina, ou porque a tomaram duas vezes, obedecendo ao alarme dado por Cantanhêde. Em certos países, isso dá cadeia ao responsável pelo pânico. O que ela fez equivale a gritar "Fogo!" dentro de un cinema lotado, causando a morte de pessoas pisoteadas em fuga. Eis o texto criminoso:
09/01/2008
Alerta amarelo!
Com sua licença, vou usar este espaço para fazer um apelo para você que mora no Brasil, não importa onde: vacine-se contra a febre amarela! Não deixe para amanhã, depois, semana que vem... Vacine-se logo!
A febre amarela é uma doença infecciosa causada por vírus e pode ser fatal. Hoje mesmo (terça, 08/01), morreu um homem de 38 anos em Brasília, plena capital da República, com febre alta, dores musculares, náuseas e vômitos. Possivelmente, foi vítima da doença. O alerta nem é mais amarelo, já é vermelho. E a vacina é altamente eficaz. Tomou, está livre da doença.
Desde 1942 a febre amarela urbana era considerada extinta no Brasil, onde ainda ocorrem casos esporádicos de febre amarela silvestre, ou seja, originada nas matas e florestas. O vírus causador, os sintomas e os riscos são praticamente iguais nas duas formas, que se distinguem apenas pela área geográfica da contaminação.
As pessoas não transmitem a doença umas para as outras. A via de contaminação é o mosquito, inclusive aquele nosso já bem conhecido Aedes aegypti, agente transmissor também da dengue. Se alguém vai a uma bucólica cachoeira em Mato Grosso, sem vacina, pode voltar contaminado de lá e sair espalhando o vírus para os mosquitos urbanos que tanto nos incomodam - e podem nos matar. Foi só o Aedes voltar ao Brasil, lá pelo final da década de 80, para que a dengue voltasse junto com ele e que o fantasma da febre amarela viesse novamente nos assustar.
Agora, ele está aí, pairando não apenas nas áreas mais habituais, que são Norte e Centro-Oeste (regiões de extensas e lindas florestas e matas), mas sobre todo o país, tanto nas regiões silvestres como nas urbanas e rurais. Com o detalhe de que essa maldita doença é restrita à América do Sul, à América Central e à África. Tanto que a vacina já é obrigatória para quem vai à Venezuela, por exemplo.
Além da vacina, o Estado é responsável pelo "fumacê" para matar os mosquitos, mas você também tem de fazer a sua parte e tomar todos aqueles cuidados que cada um de nós deve também ensinar às pessoas próximas, especialmente às que não tenham bom grau de acesso à informação. São os mesmo cuidados para a dengue: evitar água parada em jarros, pneus, pratos, poças, além de usar sacos fechados para jogar o lixo fora.
Bem, o Orçamento, os impostos e os cortes de gastos estão a mil por hora em Brasília neste pós-CPMF, com ministros do Executivo, todo o Legislativo e o Judiciário em pânico diante da tesoura da área econômica do governo.
O fantasma da febre amarela, portanto, paira sobre o país como um alerta num momento crucial, para que a saúde e a educação sejam preservadas antes de tudo o mais.
Sobre a cocaína de Minas Gerais, antes que a Polícia revele os resultados de suas investigações, Eliane já nos adianta a Verdade: nada tem a ver, nem com o senador do PDT e seu filho deputado e dono do helicóptero, muito menos com o amigo de ambos, Aécio Neves. Como boa advogada de defesa, ela não tem dúvidas sobre a inocência de todos os citados nas poucas linhas publicadas a respeito. A única coisa que a revolta é que Lula ouse criticar o silêncio da mídia sobre este caso suspeito, enquanto faz um carnaval com o pedido de emprego de José Dirceu, nos termos das leis penais brasileiras.
A cheirosa Cantanhêde sai-se melhor que a encomenda. Eis o texto indignado (15/12/2013) onde ela absolve qualquer tucano, e ataca a fala de Lula, esta sim, um perigo para a sociedade...rsrsrs:
A cocaína de Lula
BRASÍLIA - Lula não precisa e não deveria desferir golpes abaixo da cintura, até porque o PT já tem bom arsenal contra os tucanos nas eleições de 2014, atacando de Siemens, Alstom, trem, metrô, palavrinhas que marcam bem uma campanha.
Com sua alta popularidade, seu poder de comando no PT e seu status de ex-presidente, ele deveria pensar bem antes de falar e mais ainda antes de insinuar. Mas Lula foi buscar mensagem subliminar de profundo mau gosto contra adversários.
Os gritos ecoavam no salão cheio de jovens e militantes no congresso do PT: "Sou brasileiro e não me engano, a cocaína financia os tucanos".
O grande líder não apenas autorizou como potencializou, jogando gasolina na fogueira: "Se for comparar o emprego do Zé Dirceu no hotel com a quantidade de cocaína no helicóptero, pelo menos houve uma desproporcionalidade no assunto".
Era para ser mais um ataque à imprensa, tática surrada de Lula para levar as plateias petistas ao delírio, mas virou uma tentativa um tanto sórdida de criar e massificar um vínculo dos tucanos com cocaína.
A referência dos militantes --que até podem ser irresponsáveis-- e do seu líder --que não tem esse direito-- era à grande dose da droga encontrada no helicóptero da família do senador Zezé Perrella.
Perrella é ligado ao candidato tucano à Presidência, Aécio Neves, mas ele não é do PSDB, é do PDT. E, aliás, até sexta não havia algo que o comprometesse com a co- caína e muito menos um documento, uma declaração ou uma revelação envolvendo o tucano com as dro- gas do helicóptero.
Derrotado usar essa sujeira já seria inadmissível. Se quem usa é potencial vitorioso, como Lula, passa a ser indigno. Enlameia não os adversários, mas a própria campanha.
Duvido que Dilma aprove. Mas também duvido que ela tenha poder para controlar Lula, o partido e até a própria campanha. Que, apesar de favorita, vai por um mau caminho.
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