247 - O ativismo político da revista Veja produziu mais uma capa.
Neste fim de semana, a principal reportagem da revista semanal
da Editora Abril, assinada pelos repórteres Alana Rizzo, Daniel Pe-
reira e Rodrigo Rangel, é dedicada ao empresário paulista Adir As-
sad, que seria o "rei dos laranjas".
De acordo com a reportagem de Veja, Assad teria recebido cerca
de R$ 1 bilhão de grandes empreiteiras, emitindo notas fiscais
de empresas que, em tese, seriam subcontratadas por elas, sem
prestar os serviços. O motivo seria simples: por meio de Assad,
as empreiteiras disfarçariam as propinas e as doações ilegais fei-
tas a políticos.
Nesse esquema, os principais doadores seriam a Delta Engenha-
ria, do empresário Fernando Cavendish, que teria transferido
R$ 440 milhões para Adir Assad, a Andrade Gutierrez, de Sergio
Andrade, que teria destinado R$ 110 milhões, e a Galvão Enge-
nharia, de Dario Galvão, com R$ 62 milhões.
A reportagem de Veja, no entanto, não aponta os beneficiários.
Apenas insinua que o caso contribuiu para enterrar a CPI do Ca-
choeira, porque atingiria o governo de Sergio Cabral, no Rio de
Janeiro, o PMDB fluminense, o PT paulista e diversos partidos.
Nesse sentido, a reportagem entrega menos do que promete na
capa, quando anuncia: "O rei dos laranjas - Como Adir Assad
ajudou grandes empresas brasileiras a repassar 1 bilhão de
reais em propinas a políticos e caixa dois de campanhas elei-
torais".
Ou seja: quem tiver a ilusão de encontrar os beneficiários do es-
quema das empreiteiras, não os encontrará na reportagem de
Veja.
No entanto, ela foi publicada com destaque porque tem outra fi-
nalidade: ajudar a virar o jogo, no Supremo Tribunal Federal, na
ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil contra o fi-
nanciamento privado de campanhas políticas. Quatro ministros –
Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Dias Toffoli e Luís Roberto Barroso –
já votaram contra doações de empresas.
A reportagem de Veja termina com um pequeno editorial a res-
peito. "A engenharia financeira comandada pelo empresário não
é um caso isolado no país. São variados, e multipartidários, os
esquemas de pagamento de propina e financiamento ilegal de
campanhas. Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal
(STF) começou a julgar uma ação direta de inconstitucionalidade,
ajuizada pela OAB, que pretende proibir a doação de empresas a
partidos e candidatos. À primeira vista, o recurso é meritório",
diz o texto.
Em seguida, Veja prevê efeitos colaterais e prejuízos de natureza
política para a oposição. "A restrição à doação legal tende a refor-
çar as doações por fora e semear o terreno para o surgimento de
novos Assad. A mudança vai privilegiar duplamente o PT. Se for
instalado o financiamento público de campanha, o partido, por ter
a maior bancada federal, receberá a maior parte do bolo (...) uma
democracia sem oposição viável e sem perspectiva de alternância
de poder é uma calamidade".
Resumindo: a capa com o "rei dos laranjas" é apenas um apelo de
Veja aos sete ministros do STF que ainda não votaram para que vi-
rem um jogo até agora perdido por quatro a zero.
PS: A edição de Veja desta semana também traz a Carta ao Leitor
sobre o tema. No texto, Eurípedes Alcântara, diretor de redação da
revista, afirma que a proibição às doações privadas revela precon-
ceito ideológico do STF em relação ao setor privado. No entanto, o
que explica tanto a reportagem como o editorial é o temor de que
a oposição, especialmente o PSDB, não tenha meios para enfrentar
o PT, num sistema sem o peso do dinheiro privado.
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