247 – O Supremo Tribunal está a um passo de acabar com o que
no meio político se chama República das Empreiteiras, tal é a in-
fluência das grandes construtoras sobre parlamentares e integran-
tes do Executivo. Isso ocorre porque essas grandes companhias
acostumaram-se, ao longo do tempo, a frequentar o topo dos ran-
kings de maiores doadores privados de recursos para partidos polí-
ticos e seus candidatos.
Nas eleições de 2012, essa situação se repetiu. De acordo com os
números oficiais do TSE, as construtoras Andrade Gutierrez, do em-
presário Sérgio Andrade, e OAS, do baiano Cesar Mata Pires, doa-
ram, cada uma, R$ 23 milhões e R$ 21 milhões, respectivamente,
para mais de uma dezena de partidos políticos, espalhando sua in-
fluência da direita à esquerda.
A Ordem dos Advogados do Brasil apresentou ao STF uma Adin –
Ação Direta de Inconstitucionalidade – sustentando que o forte pe-
so do dinheiro privado nas eleições para cargos políticos está dis-
torcendo, na prática, a vontade popular: quem tem mais recursos
aparece mais e tem mais chances de se eleger. A alternativa é o
financiamento público de campanhas, com a expressa proibição de
doações privadas.
Além das ofertas oficiais, o modelo híbrido de financiamento de
campanhas tem provocado o surgimento de diferentes escândalos
de caixa 2 nas disputas eleitorais.
O relator Luiz Fux e o presidente Joaquim Barbosa concordaram
com a OAB e votaram pelo fim do financiamento privado. O mi-
nistro Dias Toffoli já manifestou, informalmente, que também pre-
tende se posicionar a favor. Ex-presidente do Tribunal Superior
Eleitoral, a ministra Cármem Lúcia igualmente tende a votar con-
tra o financiamento privado. Ela acompanha de perto a forte ele-
vação nos custos eleitorais que as doações privadas provocam.
GASTOS EM ALTA - Entre 2002 e 2010, o custo total das cam-
panhas políticas em todo o País foi aumentado em 600%, saltando
de R$ 800 milhões para R$ 4,5 bilhões. Calcula-se que, atualmente,
um candidato a senador precise gastar pelo menos R$ 4,5 milhões
para ter chances de se eleger; um candidato a governador, R$ 23
milhões; e um candidato a presidente, cerca de R$ 300 milhões.
A proibição do financiamento privado pode disciplinar melhor os gas-
tos, defende a OAB, equalizando verbas de modo a distribuir os re-
cursos de maneira mais equânime entre os candidatos. O PT vai
sendo associado à Adin, como agremiação que estaria mais interes-
sada na derrubada do financiamento privado. Curiosamente, são os
partidos que estão nas máquinas do poder executivo, em todos os
níveis, que mais são abordados para receberem dinheiro privado
nas eleições. A oposição, ao contrário, com o PSDB e o DEM na li-
derança, torce, em sua maioria, para que o direito a doações por
empresas permaneça.
Acredita-se que o julgamento não deverá ser concluído nesta quin-
ta-feira, sendo prorrogado para o próximo ano, devido a um pedido
de vistas do ministro Teori Zavascki. No entanto, os demais minis-
tros podem adiantar seus votos. Na Câmara dos Deputados é dado
como certo que, se o financiamento privado for derrotado, com o
fim da chamada República das Empreiteiras, os próprios parlamen-
tares votariam a toque de caixa um decreto legislativo que mante-
ria para as próximas eleições as regras atuais de financiamento.
Mais uma crise política pode ser aberta.
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