domingo, 15 de dezembro de 2013

MANDELA FALA DE FIDEL CASTRO; OBAMA FALA DE MANDELA

O encontro de Mandela com Fidel

Carlos Pompe *

Em seu discurso na terça-feira, 10, nos funerais do Nelson 

Mandela, o presidente de Cuba, Raúl Castro, relembrou a 

visita do homenageado ao seu país, em julho de 1991. Na 

época, Mandela foi recebido por Fidel Castro e lhe agrade-

ceu o apoio à luta sul-africana. Mandela e Fidel compartilha-

ram a tribuna na comemoração de 26 de julho, em Matanzas.


Em abril de 1994, Mandela assumiu a presidência da África 
do Sul e, em novembro de 1994, Angel Dalmau Fernández 
apresentou suas credenciais como primeiro embaixador de 
Cuba naquele país. Nelson Mandela fez ao embaixador três 
perguntas: Como está Cuba? Como está meu irmão Fidel? 
Como está Teófilo Stevenson?

Mandela foi boxeador quando jovem e, durante quase suas 

três décadas de preso político na ilha de Robben e em outros 
cárceres, foi seguidor da carreira do cubano Stevenson, o 
melhor boxeador amador naquele período. Em julho de 1991, 
quando visitou Cuba, Mandela havia conhecido pessoalmente 
Fidel Castro e Teófilo.

Sobre essa vista, Mandela comenta com o escritor Richard 

Stengel, seu colaborador na biografia “Longo caminho para 
a liberdade”:

“Fidel é um sujeito realmente impressionante... Discursamos 

em um comício juntos. Como é o nome daquela cidade, rapaz? 
Uma multidão como aquela em um país pequeno? Era uma 
plateia fantástica, uma multidão; acho que havia cerca de 300 
mil pessoas. Todo mundo sentado em cadeiras. Ele falou du-
rante cerca de três horas sem um pedaço de papel, citou núme-
ros e demonstrou que a América estava falida, sabia? E nem 
uma única pessoa saiu, exceto para ir ao banheiro e voltar... Eu 
fiquei muito impressionado com Fidel e também com sua sim-
plicidade – é um sujeito muito simples. Quando... eu estava des-
filando com ele de carro aberto pela cidade, ele apenas sentou 
e cruzou os braços, e eu era a pessoa que estava acenando pa-
ra a multidão... Depois de discursarmos, nós... entramos no 
meio da multidão; ele saiu cumprimentando todo mundo... Eu re-
parei que ele cumprimenta... uma pessoa branca, depois vai 
cumprimentar alguém de cor. Não sei se aquilo foi puramente 
acidental ou intencional. [Ele era] muito caloroso, conversava 
com as pessoas por algum tempo... Foi então que percebi que 
aquele entusiasmo e todos aqueles acenos na verdade não eram 
para mim enquanto estávamos desfilando de carro pela cidade; 
eram para Fidel... Ninguém estava nem um pouco interessado em 
mim [risos]... fiquei impressionado com ele”.

O relato está no livro “Conversas que tive comigo”, de Nelson 

Mandela, de 2010, prefaciado pelo presidente dos Estados Unidos, 
Barack Obama. O único negro a chegar à Casa Branca diz que suas primeiras ações políticas “aconteceram nos meus anos de faculda-
de, quando participei de uma campanha a favor do desinvestimento, 
no esforço para pôr fim ao apartheid na África Sul”, quando já admirava Mandela. 

Mais de duas décadas depois, recém-eleito senador, visitou a África 

do Sul e a antiga cela do líder da luta contra o racismo, na Ilha Robben. 
Antes de ser eleito presidente norte-americano, Obama conheceu pessoalmente Mandela, e conta que “desde então conversamos ocasionalmente por telefone. Geralmente, nossas conversas são 
breves – ele está no crepúsculo dos anos, e eu estou às voltas com 
a intensa programação que meu cargo exige. Mas nessas conversas 
sempre há momentos em que brilham a gentileza, a generosidade e 
a sabedoria desse homem. Esses momentos me recordam que, sub-
jacente à história que foi construída, existe um ser humano que esco-
lheu sobrepor a esperança ao medo – sobrepor o progresso às prisões 
do passado. E me recordam que, mesmo depois que se tornou uma 
lenda, conhecer o homem Nelson Mandela é respeitá-lo ainda mais”.

(No Fórum Social Mundial de 2001, em Porto Alegre, pude conhecer 

e conversar informalmente com o grande campeão Teófilo Stevenson, 
um meu herói de infância pelo fato de ter recusados ofertas de mi-
lhões de dólares para deixar Cuba e fazer propaganda contra a Revolu-
ção. Preferiu viver com seu povo, ajudando a preparar as sempre ex-
celentes equipes de boxe de sua Pátria, que tantas medalhas conquis-
taram nos Jogos Olímpicos e campeonatos internacionais - ABF)


http://www.vermelho.org.br/coluna.php?id_coluna_texto=5581&id_coluna=2

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