247 – No dia 19 de abril de 1980, quando, às seis da manhã, o
então sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva foi preso em sua casa,
em São Bernardo, e levado para o Dops, em São Paulo, onde pas-
saria os 31 dias seguintes, o autor do chamado 'livro-bomba', pela
revista Veja, contava com 16 anos e seis meses de idade. Romeu
Tuma Jr., filho do então delegado Romeu Tuma, só completaria 17
anos em 4 de outubro daquele ano. Para a maioridade ainda falta-
vam para ele, na ocasião da prisão de Lula, um ano e sete meses.
Todos sabem que só se pode entrar para o serviço público, em
qualquer categoria, com um mínimo de 18 anos de idade.
A pergunta que o tal 'livro-bomba' propagandeado por Veja não
responde é: como conseguiu, ainda imberbe aos 16 anos e seis me-
ses idade, o jovem Romeu Tuma Jr. saber por ele próprio, como
afirma no livro e em entrevista, que Lula fora um colaborador da di-
tadura?
Tuminha, como o policial é conhecido – também alcunhado pela pró-
pria Veja, anos atrás, como "muambeiro" e "meliante" – seria um
"gato", como é conhecido o jogador de futebol que mente a idade
para atuar em categorias de base, mas às avessas? Ou seja, em
lugar de mentir para menos a sua própria idade, teria mentido para
mais a fim de se tornar, como disse, "investigador subordinado" do
Dops chefiado por seu pai e sair por aí armado e com título de au-
toridade policial? Isso o livro não esclarece.
À altura de sua prisão, Lula era visto como o adversário número 1
da ditadura militar. Não havia o menor diálogo entre as duas par-
tes. Afinal, desde 1977, quando os metalúrgicos da Scania, em São
Bernardo, pararam suas máquinas e cruzaram os braços dentro do
próprio chão da fábrica, Lula era a imagem da radicalização.
Pode-se imaginar, com grandes doses de criatividade, que Lula, ao
entrar para a diretoria do sindicato dos metalúrgicos de São Ber-
nardo, em 1972, tivesse alguma interface com agentes do regime
militar. O então presidente da entidade, Paulo Vidal, era conside=
rado um pelego – e bem poderia confirmar ou desmentir informa-
ções procuradas pelo integrantes do regime. Mas Lula? Ele que
decidiu entrar para o sindicalismo e a política depois de saber que
seu irmão mais próximo, Frei Chico, fora torturado quase até a
morte pelos agentes da repressão?
Em 1972, Tuminha, o autor do, repita-se, do 'livro-bomba', tinha
então 9 anos de idade. Quando seus amiguinhos deveriam estar
brincando de polícia e bandido, pelo jeito ele já carregava um dis-
tintivo de verdade no peito para sair ao lado do pai, o Tumão, em
diligências atrás de comunistas e que tais. Isso é plausível?
Tumão, como se sabe, morreu em 2010. Ele não pode, assim, con-
tar a sua versão, a não ser que Tuminha consiga algum meio de
colher seu depoimento, como dizem os policiais.
Acreditar nessa possibilidade, assim como crer que Tuminha, já
aos 16 anos, frequentava os salões da repressão do Dops, é dar
crédito demasiado a um personagem que, no papel de chefe da
área federal contra o contrabando, foi flagrado negociando um
salvo-conduto para um dos maiores contrabandistas do País, Li
Kwok Kwen, o chinês que controla o contrabando de produtos
piratas em São Paulo.
Antes do conluio com o chefe do contrabando, também pego no
pulo, Tuminha fez da Secretaria Nacional de Justiça uma central
de favores para amigos e parentes, tentando pilotar, inclusive,
uma vaga na burocracia para a namorada de um amigo.
Menos do que ter conteúdo de verdade, o livro que Tuminha pu-
blica é, fora de dúvida, uma pronta e acabada vendeta contra o
mesmo Lula que lhe deu um cargo de prestígio na máquina fe-
deral e teve de removê-lo de lá por péssimo comportamento.
E vinganças, como se sabe, não precisam da verdade para se
concretizar. Uma mentira republicada em Veja pode ser dada co-
mo verdade - e o serviço está feito. É o que está em curso com
o tal "livro-bomba". Um traque.
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