domingo, 9 de janeiro de 2011

DIREITA TERRORISTA NOS EUA

O grave atentado contra a congressista norte-americana Gabrielle Giffords, baleada na cabeça por um fanático de 22 anos quando se reunia com eleitores de Tucson, estado do Arizona, levanta preocupações para todos os democratas do mundo, inclusive do Brasil. O radicalismo da recente campanha eleitoral nos Estados Unidos esteve centrado nos mesmos pontos que também contaminaram a campanha presidencial brasileira: a legalização do aborto, a investigação científica com uso de células embrionárias, e a questão da imigração (no caso brasileiro, a migração interna).
Criou-se um clima de ódio e divisão capaz de conduzir a um resultado previsível e ameaçador: o terrorismo como recurso político, por parte dos que se sentem derrotados ou vêem seus princípios fundamentalistas serem questionados pela população.
O estado do Arizona aprovou recentemente uma lei que permite à polícia prender cidadãos que não portem documentos comprovando sua situação legal no país. A aplicação da lei foi suspensa pelo governo federal que a questiona no Judiciário, pois nos EUA as questões de imigração só podem ser tratadas pelo governo federal. Também é proibido nos EUA que a polícia estadual prenda alguém por não portar documentos.
Como afirma o correspondente do jornal El País em Washington, Antonio Caño, "o atentado contra Giffords, apenas três dias depois de sua posse no cargo num novo Congresso dominado pela oposição republicana. reproduz neste país cenas de ciolência política que tem acompanhado dramaticamente esta democracia desde seu nascimento. De novo, o tiroteio contra um líder político põe cruamente sobre a mesa alguns aspectos sinistros desta sociedade, de seus indivíduos e do efeito, sem dúvida indesejado, que o fragor do debate ideológico pode chegar a ter em mentes enfermas ou fanáticas".
É exatamente esta preocupação com o clima de exacerbação de ânimos que abordamos neste blog quando tratamos da "corrente" no Twitter, durante a posse da Presidenta Dilma Roussef, quando dezenas de jovens defenderam que um "atirador de elite" lhe desse um tiro na cabeça, na de seu vice, e do presidente que deixava o cargo, Lula da Silva. A campanha irresponsável de José Serra trouxe temas religiosos e morais para o debate. Uma amiga me disse que não votaria em Dilma porque recebeu um e-mail dizendo que o filho de Michel Temer pertence a uma seita satânica, que ela morreria antes da posse ou no começo do mandato, e Temer assumiria o poder - com isso o próprio Satanás seria presidente do Brasil!!!
A ignorância e a credulidade ingênua de muitos brasileiros aceita esse tipo de jogo terrorista, que era do conhecimento de José Serra e jamais foi por ele censurado. Um estadista teria a dignidade de dirigir-se a seus apoiadores mais extremados e devolver alguma serenidade à disputa. Condenaria ao menos essas ridículas (mas perigosas) jogadas baixas que apelam ao medo das pessoas, à sua fé mais cega, e estimulam os malucos que existem em qualquer sociedade.
Pergunto-me: e se um daqueles jovens envolvidos no festival de ódio do Twitter tivesse uma arma em casa? E se a Presidenta viesse visitar ou inaugurar alguma obra ou repartição no bairro onde vive o tal jovem? Quem me garante que ele não poderia perder o medo, estimulado pelos "amigos" da net, e tentaria matar a Presidenta, misto de demônio em carne e osso e representante do "peão analfabeto e comunista" pintado pela mídia golpista durante oito anos.
O risco existe, e o caso do Arizona é prova evidente de que o clima artificialmente criado pode sim gerar os atos de terror mais absurdos e inusitados.
Cabe-nos combater e denunciar cada ato desses irresponsáveis (para dizer o mínimo) que estão na ante-sala do crime, no pré-terrorismo. A aplicação rigorosa das leis, e o esclarecimento da população sobre quem é quem, quem defende a Democracia e quem visa derrubá-la, quem luta pela Paz e quem planta o ódio e a violência, são os instrumentos disponíveis para evitarmos que o Brasil seja envolvido por conflitos desastrosos para todos.

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