terça-feira, 4 de janeiro de 2011

VARGAS LLOSA: DISCURSO AO BRINDAR O NOBEL


Na recepção que se segue à entrega dos prêmios Nobel, o escritor peruano Mário Vargas Llosa ergueu seu brinde e pronunciou as seguintes palavras:

"Sou um contador de histórias e, portanto, antes de lhes propor um brinde, vou contar-lhes uma história.
Era uma vêz um menino que aos cinco anos aprendeu a ler. Isso mudou sua vida. Graças aos livros de aventuras que lia, descobriu uma maneira de fugir da pobre casa, do pobre país e da pobre realidade em que vivia, e de transladar-se a lugares maravilhosos, esplêndidos, com seres belíssimos e coisas surpreendentes onde cada dia, cada noite, significava uma maneira mais intensa, aventureira e nova de ser feliz.
Era tão feliz lendo as histórias que um dia esse menino, já um jovem, dedicou-se também a inventá-las e escrevê-las. Fazia-o com dificuldade mas, ao mesmo tempo, com felicidade e gozando tanto quando escrevia quanto quando lia.
Não obstante, o personagem da minha história era muito consciente de que uma coisa era o mundo da realidade e outra, muito distinta, o mundodso sonho e a literatura e que este último só existia quando ele lia e escrevia. O resto do tempo, se eclipsava.
Até que num amanhecer novaiorquino o protagonista do meu conto recebeu uma supreendente ligação na qual um senhor de nome impronunciável lhe anunciou que havia recebido um prêmio e que teria que ir recebê-lo numa cidade chamada Estocolmo, capital de um país chamado Suécia (ou algo assim).
Meu personagem começou então, maravilhado, a viver, na vida real, uma dessas experiências que, até então, só existiam para ele no domínio ideal e irreal da literatura. Ainda continua ali, desconcertado, sem saber se sonha ou está desperto, se aquilo que vive, vive de verdade ou de mentira, se isso que lhe passa é a vida ou a literatura, porque os limites entre ambas parecem haver se eclipsado por completo.
Queridos amigos, agora já posso propor-lhes o brinde prometido. Brindemos pela Suécia, esse curioso país que parece haver conseguido, para certos privilegiados, o milagres de que a vida seja literatura e a literatura vida.
Saúde e muito obrigado!

Um comentário:

  1. O prédio no horizonte de Estocolomo é a Prefeitura da cidade, onde ocorre o jantar de gala dos premiados com o Nobel, e onde Vargas Llosa pronunciou as palavras abaixo.

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