terça-feira, 22 de julho de 2014

MÍDIA TENTA CONSERTAR O DESASTRE DO AEROPORTO DE AÉCIO NEVES

Não foi o governador, foi Minas

Por Luciano Martins Costa em 21/07/2014 na edição 807
Comentário para o programa radiofônico do Observatório, 21/7/2014
Os leitores da Folha de S. Paulo foram surpreendidos no domingo (20/7) 
por um ataque indireto ao senador Aécio Neves, candidato do PSDB a 
presidente da República. “Minas fez aeroporto em fazenda de tio de 
Aécio”, dizia a manchete do diário paulista. No texto logo abaixo, o jornal 
conta que, quando governador, em 2010, Aécio mandou construir, com 
dinheiro público, um aeroporto na fazenda de um tio, que o senador usa 
regularmente para visitar uma propriedade da família.
A obra custou R$ 14 milhões e só serve à família do senador ou a 
aeronaves que ela autoriza, pois o governo de Minas nunca entregou à 
ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, os papéis necessários à sua 
homologação. Portanto, objetivamente, a instalação segue sendo uma 
obra privada feita com dinheiro público.
Na mesma edição e em texto de tamanho proporcional à reportagem 
que faz a denúncia, a assessoria do senador responde que a escolha do 
local levou em conta apenas aspectos técnicos, não considerando que a 
propriedade do imóvel favorecia diretamente o então governador.
Estado de S. Paulo reproduziu no mesmo dia a denúncia da Folha, em 
um texto mais curto, incluindo a defesa de Aécio Neves, acrescentando 
que no local havia uma pista construída em 1983 por seu avô, Tancredo 
Neves, quando era governador do Estado. Ou seja, a família se beneficia 
das instalações há mais de trinta anos, agora modernizadas com recursos 
do Estado. Ou há outra interpretação para a sequência de notícias?
Na segunda-feira (21), os dois jornais paulistas voltam ao assunto, para 
oferecer um amplo espaço à defesa do candidato tucano, e o Globo entra 
na história, publicando com destaque a justificativa de Aécio Neves, sem 
ter publicado antes a denúncia.
O conjunto do noticiário serve de modelo para o leitor entender o estilo 
que deverá marcar a imprensa hegemônica até o fim da campanha 
eleitoral: para amenizar as suspeitas de que tende para um dos lados da 
disputa, dá-se, como se dizia antigamente, uma no cravo, outra na 
ferradura.
Aeroporto particular
O cuidado em amenizar o efeito da reportagem diz muito sobre a atenção 
que a imprensa dedica ao seu candidato preferencial. Diante de um fato 
que induz claramente à conclusão de que a família Neves transformou um 
antigo campo de pouso em aeroporto particular com dinheiro público, e 
que a decisão de tocar a obra foi feita pelo então governador Aécio Neves, 
qual é a alternativa?
Já que não se pode esconder o fato, cria-se na própria denúncia a condição 
propícia à defesa. A começar pelos títulos: tanto na Folha como no Estado
não foi o então governador quem autorizou o uso de dinheiro público no 
interesse da própria família: foi “Minas”. Ora, “Minas” não pratica atos de 
ofício, “Minas” não assina autorização para obras com ou sem licitação. 
Quem assina é o governante, e o governante é agora candidato a 
presidente da República.
Alguém imagina uma manchete do tipo “Brasil propõe regulamentação de 
Conselhos Sociais?” Não: em condições normais de relativa autonomia, 
os jornais personalizam os atos oficiais.
De que, então, tratava a manchete da Folha no domingo? Tratava do 
cuidado mínimo que o jornal precisa dedicar à cobertura da disputa 
eleitoral, porque o engajamento permanente e descarado em uma ou 
outra candidatura pode prejudicar outros interesses da própria empresa 
que edita o diário. Por exemplo, se o público desenvolver a convicção 
de que a Folha apoia explicitamente uma candidatura em detrimento 
das outras, quanta confiança será depositada em futuras pesquisas do 
Datafolha?
Então, se determinado fato não pode deixar de ser publicado, porque a 
omissão colocaria em risco a credibilidade do jornal, dá-se um jeito de 
preservar no que for possível a reputação do candidato acusado.
Em nenhuma outra ocasião, nos muitos escândalos que a imprensa 
reportou nos últimos anos, a autoria foi desviada do personagem 
central para a figura diáfana do Estado. Apenas como referência, no 
caso que tinha como acusado o ex-governador do Distrito Federal 
José Roberto Arruda, não se leu nos jornais que “Brasília é condenada 
por improbidade administrativa”.
Mas no caso do aeroporto privado feito com dinheiro público, não foi 
o então governador quem cometeu o malfeito: foi “Minas”.
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/nao_foi_o_
governador_foi_minas

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